Chamada de “vilã das vilãs” pela própria Globo, Odete Roitman (Debora Bloch) deu uma prova no capítulo de quarta-feira (2) de Vale Tudo que já não mete mais tanto medo assim. Afinal, uma marca topou até associar um de seus produtos à vilã e encheu o cofrinho não só da Globo, como também da própria atriz --que apareceu durante o intervalo como garota-propaganda.
Uma mudança e tanto considerando-se que, há duas décadas, Deborah Secco chegou a ser agredida nas ruas por causa da Íris de Laços de Família (2000); e Regiane Alves já brincou que “nunca foi Deus, mas os seguranças da Globo” que a impediram de ser linchada pela Dóris de Mulheres Apaixonadas (2003).
Há, sim, uma certa ousadia da empresa de cosméticos em ter aceito que Odete torcesse o nariz para a sua nova linha de skincare. O resultado poderia ter sido desastroso, mas não foi --num acerto do Departamento Comercial da Globo que provavelmente vai abrir caminho para outras ações parecidas.
Por outro lado, nenhuma marca aceitaria estar em cena com Odete Roitman se ela fosse tão incisiva --para não dizer o mínimo-- quanto a vivida interpretada por Beatriz Segall (1926-2018).
Desde o início, ficou claro que a autora Manuela Dias optou por construir a sua vilã não pelo choque de suas falas, mas pelo seu soft power (poder suave, em inglês) --termo que nasceu na geopolítica, mas que nos últimos anos passou a descrever também os indivíduos com a capacidade de influenciar os outros de uma forma bastante sutil (ou nem tanto).
Odete obviamente é capaz de manipular a doença de Heleninha (Paolla Oliveira) para atingir seus objetivos, mas jamais se refere à filha de maneira pejorativa; ela também só fez um comentário mais direto sobre Maria de Fátima (Bella Campos) ser uma mulher negra, preferindo tratá-la e colocá-la num lugar de subserviência que deixa bastante claro o seu racismo.
A ideia de Manuela até foi boa, mas absolutamente ninguém comprou: Odete chegou a virar um ícone nas redes sociais por dizer verdades que estavam engasgadas na garganta do público. Algumas questionáveis, mas outras até com razão --como na crítica a Afonso (Humberto Carrão) por reduzir as refeições a apenas proteínas e carboidratos, numa lógica que, curiosamente, é defendida até por apresentadores do GNT, canal do grupo Globo.
Não à toa, uma marca viu que havia mais oportunidade do que riscos ao colocar os seus produtos numa cena com Odete Roitman. Um cenário que seria completamente diferente se a vilã despejasse as mesmas barbaridades da primeira versão da história, de 1988.