Envelhecer é uma arte, diz o ditado. E Marcos Palmeira faz arte aos 60 sem saudosismo da juventude. Não que a nova idade não o tenha surpreendido, mas o ator, que dará vida a José Inocêncio, em “Renascer”, exatamente 30 anos depois de ter vivido o filho rejeitado pelo personagem, vê muitas vantagens de ser um “coroa sessentão”.
“Você passa a ser prioridade, né? Tem vaga de idoso… Eu fui viajar e entrei na fila de prioridade, e diseram que era só pera quem tinha 60+. E eu disse: ‘mas eu tenho’. E a pessoa não acreditou. Eu, antes, via uns caras de 60 inteiros e pensava que ele não precisava estar ali, na frente de todo mundo na fila. Foi aí que me toquei que é um direito. O cara viveu 60 anos! Não que eu queira me dar bem. Mas hoje tenho outro entendimento”, observa.
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Ator completou 60 anos
Em entrevista ao podcast da Trip FM, Marcos Palmeira discorreu sobre o envelhecimento sob a luz dos holofotes. principalmente numa profissão em que a imagem é prevalecida muitas vezes em detrimento do talento.
"“Eu acho que, como ator, o nosso corpo é uma ferramenta. Não quero estar bonito, quero estar bem. Não fico atrás de uma estética de ser um homem de 60 com cara de 30. Jamais! O problema é que hoje, além dessa juventude, as pessoas têm que buscar os likes. Você tem que ter sei lá quantos mil seguidores e seguir um certo padrão. Não importa seu talento, mas quantas pessoas te seguem. Isso gera uma certa confusão”.
Marcos Palmeira causa furor na web com foto de sunga na Bahia com Juan Paiva — Foto: Instagram
Antes de completar a nova idade, em agosto desse ano, o ator teve lá seus pensamentos sobre a maturidade. Mas vê um saldo positivo.
“A sensação é muito boa, chegar aos 60, ter meu pai com 85, minha mãe viva, eles firmes, com saúde. Olha que alegria. Eu me sinto muito bem, acho que é isso, o tempo, a experiência, a gente vai se livrando de algumas inseguranças, ganhando outras também, tudo faz parte. Espero viver essa década com muita saúde para chegar em outra década e ter qualidade de vida. Cheguei, me surpreendi comigo, não achei que tinha essa qualidade, achei que chegaria aos 60 meio gordão, com preguiça, mas não. Às vezes, encontro gente muito mais nova que tá mais cansada. A gente tem que viver o hoje”, avalia.
Marcos Palmeira e Adriana Esteves como Mariana na primeira versão de “Renascer” — Foto: MARCIO LIMA
Ele diz que sente falta, no entanto, de ver um espaço maior para atores de sua geração. E atrizes também: “Tem essa supervalorização de gente linda, esses filtros na internet… Mas existe uma bobagem da dramaturgia de perseguir a juventude, mesmo existindo personagens incríveis para serem contados com sessenta, setenta… Uma história de amor nessa idade é incrível de ver. Como é essa paixão? Mas a gente fica sempre amarrado àquela coisa da energia juvenil. É um privilégio eu ainda ter a oportunidade de fazer bons personagens. O Brasil demorou muito a valorizar a dramaturgia. Fui criado no audiovisual e ouvi muitas vezes ‘O roteiro não é muito bom, mas o diretor resolve na hora’”. A gente demorou muito para olhar para o que estava sendo contado. Eu não acredito em uma história que não está bem escrita”.
Marcos Palmeira com a mulher, Gabriela Gastal — Foto: Instagram