Nos 50 anos do ‘Fantástico’, Maju Coutinho e Poliana Abritta comemoram a amizade que é elogiada público

Quando ouvia os acordes da música de abertura e a expressão “é fantástico”, a criança Maju Coutinho sabia que no dia seguinte tinha uma semana de escola pela frente. Poliana Abritta pensava algo semelhante quando via a Zebrinha, animação que dava o resultado da loteria esportiva no programa nos anos 1970 e 1980 e lhe gerava um misto de curiosidade e medo (“Com aquela voz, aquele olho que mexia…”, diz).

Essas duas referências são as lembranças mais fortes que as atuais apresentadoras do “Show da vida” têm da atração, que completou exatos 50 anos ontem, e hoje ganha um programa especial. A partir deste domingo e por mais quatro semanas, o “Fant”, como elas o chamam carinhosamente, coloca no ar episódios de 30 minutos, parte de uma série documental que retrata cada uma das cinco décadas de reportagens, quadros especiais, videoclipes e todo o conteúdo produzido neste meio século de existência. A Zebrinha de Poliana, claro, está lá. E as aberturas dos anos 1980 que marcavam o tempo para Maju, também.

Veterana da dupla, Poliana, de 47 anos, faz parte da história do programa dominical há nove. Nascida em Brasília, iniciou na reportagem da TV Globo local aos 21. Depois, começou a emplacar matérias no “Jornal da Globo” até virar repórter do “Jornal Nacional”. Passou a apresentar, esporadicamente, telejornais como o “Jornal hoje” e o “Jornal da Globo”, até surgir a oportunidade de apresentar o “Fantástico” em 2014, no lugar de Renata Vasconcellos, ao lado de Tadeu Schmidt.

Desde então, Poliana experimenta todas as oportunidades que um programa com esporte, entretenimento e jornalismo lhe oferece.

— A gente já entrevistou de (cantora e ex-primeira-dama da França) Carla Bruni a Arnold Schwarzenegger, passando por Lewis Hamilton. O “Fantástico” já me transformou em Malévola, na bruxa Wicked, em Mary Poppins. Parecia, num primeiro momento, que eu tinha mudado de profissão, de tanta coisa nova que acontecia na minha vida — diz a jornalista.

Um dos maiores desafios da carreira dela, no entanto, aconteceu neste ano, no dia 8 de janeiro. Com Maju de férias, ela segurou sozinha um programa inteiro sobre os ataques em Brasília, sua cidade natal, que destruíram as sedes dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário.

— Começamos entrando ao vivo nos plantões. Depois, eu estava no estúdio da GloboNews, porque fizemos uma transmissão conjunta, com sinal aberto, eu, Erick Bang (apresentador da GloboNews) e os comentaristas. Logo após, o “Fantástico começou” — diz Poliana: — Eu me lembro de ter 12 minutos entre sair do estúdio da GloboNews e dar “boa noite” na Globo. Durante três horas, fui a repórter de Brasília, a apresentadora do “Fantástico”, a apuradora no celular. Fiz tudo o que aprendi a fazer no jornalismo a vida inteira. Foi como se, de alguma forma, tivesse sido preparada durante todos esses anos para estar ali naquele momento.

No programa, a notícia se impõe quando é preciso, como no exemplo do 8 de janeiro, mas a esperança nunca se perde de vista. Por isso, acredita Maju, o dominical está no ar ininterruptamente há cinco décadas.

— O “Fantástico” vai muito em direção à emoção. Nas matérias, mesmo quando temos uma tragédia, tentamos caminhar no sentido da esperança — analisa Maju: — Acho que esse é o segredo da longevidade dele. É um show da vida mesmo, com várias coisas que compõem a vida da gente, do riso ao choro.

Há quase dois anos na apresentação da atração, Maria Júlia Coutinho, de 44, começou a carreira na TV Cultura antes de entrar para o time da Globo em São Paulo. Ficou nacionalmente conhecida por apresentar a meteorologia do “Jornal Nacional”. Antes de fazer dupla com Poliana, estava no comando do “Jornal hoje”.

— Quando soube que Tadeu ia sair (para apresentar o “Big Brother Brasil”), só vinha um nome na minha cabeça: Maju Coutinho — relembra Poliana: — Eu pensava que ia ser uma revolução, mas que não ia acontecer. Ela estava no “Jornal hoje” há pouco tempo. Mas, ao descobrir que seria a Maju, pensei: “Vai dar certo”. Nós duas viemos com essa responsabilidade simbólica de sermos mulheres de mãos dadas. Chegamos na mesma página do livro, com o mesmo pensamento: uma parceria de verdade.

A ligação entre as duas — que se desdobra em amizade fora do estúdio, quando uma entende as preferências de pauta da outra e divide uma reportagem quando ambas gostariam de fazer, como no caso da entrevista com a primeira-dama Janja — é percebida com carinho pelo público. É comum ver nas redes sociais de cada uma delas a exaltação da cumplicidade que elas mostram todos os domingos.

— Hoje, o que mais falam são elogios sobre a parceria. Ultimamente, tenho visto demais: “Vocês são muito companheiras, têm sintonia” — diz Maju, que acha graça de como os telespectadores também sugerem pauta de maneira coordenada: — É muito louco, as pessoas fazem mutirão de sugestão para a gente, marcam as duas. E já rolou matéria assim.

O figurino da dupla é outro tópico que rende conversa nas redes, e elas não se importam, acham normal.

— As pessoas sempre ligaram a TV para ver a roupa que a apresentadora do “Fantástico” estava usando. E faz parte também porque estamos nos arrumando para entrar na casa de cada uma dessas famílias — diz Poli, como é chamada carinhosamente pela colega de trabalho.

As duas amigas não se restringem ao estúdio ou à edição do programa. Saem às ruas, viajam pelo Brasil e pelo mundo, fazem entrevistas, ajudam na produção de quadros. No pacote comemorativo de 50 anos do “Fantástico”, têm projetos que estreiam ao longo do ano. O de Maju é a série inédita “Música preta brasileira”, capitaneado por ela e pelo rapper Rael. Os dois reuniram grandes artistas nacionais para dissecar ritmos essenciais na nossa construção musical: a música baiana, cujo episódio foi gravado em Salvador, o samba, o funk e o rap, todos gravados no Rio.

— Fazemos uma viagem através das origens da música preta do Brasil. É um bate-papo que fala sobre cada movimento, entremeado com muito som — diz Maju, que recebeu, dentre muitos convidados, Gilberto Gil e Luedji Luna no episódio da Bahia; Alcione e Martinho da Vila no do samba; Emicida e Negra Li no que fala sobre o rap; e Dom Filó e Tati Quebra Barraco no do funk.

Poliana comemora os 50 anos do “Fantástico” com uma nova temporada do “Mulheres fantásticas”, que existe desde 2019 e celebra a contribuição para a sociedade de personagens femininas e reais famosas, que aparecem no episódio sempre em forma de uma animação narrada por uma artista, e outras nem tão conhecidas, entrevistadas por Poliana. Nesta nova temporada, um dos quatro episódios homenageou a jornalista e ex-apresentadora do programa Gloria Maria, que morreu em fevereiro deste ano e ganhou uma versão animada. A série terá agora um desdobramento no GNT. Após a exibição no domingo na TV aberta, uma outra versão do episódio é transmitida no “Saia justa” e discutida pelas participantes do programa.

— Esse projeto tomou conta da minha vida extrapolando a questão profissional. Ele é muito rico em aprendizado — diz Poliana, ressaltando que o “Mulheres fantásticas” tem sido usado, espontaneamente, por escolas públicas e particulares como material de ensino: — Quando temos uma série que começa com uma animação, isso sinaliza que queremos alcançar todas as gerações. E é exatamente isso que acontece: fisgamos pela criança e assim abrimos portas.