Gente e toda essa treta do Ilhados Com a Sogra

Opinião

Por que todos se voltam contra a família Tenório em ‘Ilhados com a sogra’?

Luciana Bugni

Colunista de Splash

Um reality show que isola sogras, genros e noras em uma ilha — e deixa os filhos dando uma espiadinha. Intriga o suficiente para pautar centenas de colunas. Relações pessoais são um troço complicado, relações de família são mais complexas ainda, você sabe. Mas quem diria que o protagonista de oito episódios da série da Netflix seria o antiquado racismo?

Aquela atitude secular que “é crime nesse país”, como diz Felipe, um dos participantes do Ilhados.

A história é a seguinte: Severina, uma mulher preta, não conhece o genro, Thyago. Ela não está nada feliz com isso, gostaria que ele tivesse mais interesse nela. Severina é o tipo de mulher que fala o que pensa. Do jeito que quer. E chega com os dois pés no peito de Thyago, que parece ser boa gente, bonachão.

Severina faz uma brincadeira com Felipe, rapaz branco, sobre o jeito com que ele trata a própria sogra, Socorro. Ele fica indignado com a liberdade que ela tomou ao dizer aquilo. Ela fica triste com o jeito que foi tratada por ele, chora e afirma para uma das participantes, Silvia, que o tratamento é pelo fato de ser mulher, pobre e preta. Pede que Silvia não diga nada, porque vai se acalmar e conversar com ele.

Silvia levanta e vai contar para Felipe o que acabou de ouvir, em tom de fofoca. Ele fica muito nervoso e afirma que é um absurdo ser acusado “disso” — ninguém fala a palavra. Que “isso” é sério e é crime. Todos os genros e noras concordam. É um absurdo que Severina, uma mulher preta que provavelmente foi vítima de racismo a vida toda, diga como se sentiu?

Thyago chega na conversa e, apesar de não se entender com a sogra, afirma que não pode tomar partido. A opinião é dela. Todos se inflamam dizendo que ele, um homem preto, que provavelmente também sofreu racismo a vida toda, está equivocado. E que Severina não poderia dizer o que sentiu, pois a acusação é muito grave. O embate toma proporções maiores e Silvia afirma que não suporta chegar perto de Severina. Thyago ainda confessa que já havia se entendido com a sogra, mas estava fingindo que não para ter mais chances no jogo — e diz isso em tom de mea culpa, com extrema sinceridade como quem diz “viajei”. A galera toda se inflama contra ele ainda mais. Cria-se o combo “todos contra Tenório”.

Felipe, um homem gay, crescido em uma família conservadora, não admite ser acusado de racismo. Quem é branco descobre — falando muito sobre a luta antirracista — que na maioria das vezes temos reações racistas sem odiar pessoas pretas, por exemplo. Somos racistas porque o racismo está dentro da gente, apesar de sabermos que é errado. É daí a importância de ouvir as pessoas pretas, saber como elas se sentem, recuar, rever atitudes, recomeçar. “Você está me acusando de algo que é crime nesse c… desse país”, ele diz preocupado. Não é só esse o problema, Felipe. Ela está dizendo algo que sente porque pessoas brancas já fizeram (e fazem) muito mal para pessoas pretas. A gente precisa parar, ouvir e, no máximo, arriscar um sinto muito.

Num programa majoritariamente composto por pessoas brancas e seus dramas singulares, é curioso que todos tenham se unido contra a única família 100% preta.

Thyago afirma que “a realidade deles é a única diferente das outras famílias ali”. Explica que o que está vivendo é “a mesma coisa que acontece lá fora”. E endurece. Não quer mais falar com os outros, não quer mais sair do quarto. Todos o acusam de se isolar. O racismo é surdez: Thyago sabe que ninguém quer ouvi-lo e nem se propõe a dizer.

Severina, mais velha, tenta o diálogo. Uma mulher doce que pede permissão para dar abraços na tentativa de selar a paz com quem a magoou. Nesse ponto, a edição do programa é magistral. O grupo todo distorce falas. Severina afirma que não foi bem assim e repete as frases exatamente como aconteceram. A edição mostra a cena anterior, provando que ela está certa. O grupo segue o grupo e ninguém mais pensa.

A discussão sobre racismo escala e vai ficando cada vez mais indigesta. Sogras? Que sogras? A problemática gira em torno de todos x família preta. O grupo de filhos, que estava hospedado em outro local, compra a versão da maioria. Todos torcem desesperadamente para que os Tenório percam, caiam, desistam, sejam aniquilados. Eles seguem.

Com uma maçã entalada na garganta, o público vê a série até o final tentando entender como o mal-estar foi criado. Por que ninguém dá uma segunda chance a Thyago e Severina? Como funciona de maneira perigosa a união de um grupo em que um valida o outro e ninguém olha de cima a situação para se perguntar como o terceiro se sente…

E então, num passe de mágica, o assunto muda. Ninguém mais fala de racismo. As equipes voltam a se entender. A psicóloga Shenia Karlsson, especialista em diversidade, não toca no tema. Fernanda Souza, a apresentadora, diz que é importante falar de coisas leves. Na superfície, tudo fica mais fácil. Para quem é branco, é simples transitar. Quem está sem ar não acha que a vida é essa leveza toda, não. Thyago, Severina e May sabem como funciona e também seguem. “Faz dessa raiva sua força”, diz May ao namorado.

No reality, como na vida, todas as evidências de racismo ficam na nossa cara, mas nada muda. Quando pesa demais, alguém sugere que a gente fale de outra coisa. É uma pena. Na superfície, a gente não quebra a base tão profunda de séculos de agressão. Estrutural, é como se chama esse tipo de racismo. Aquele que você não comete por ser criminoso ou mau, mas segue sentado em cima do alicerce porque é confortável. Privilégio.

Não são esses 15 parágrafos meus, pessoa branca, que resolvem a situação. É verdadeiramente parar e ouvir Severina. E aí talvez até Thyago queira falar também. A gente tem mais é que ficar quieto. Escuta é acolhimento. Como diz minha amiga Maria Carolina Trevisan: “Às vezes, não é preciso dizer nada. Só ouvir e acolher a dor permanente que é o racismo”.

A gente pode falar mais disso no Instagram.

se chama “acordo velado”, eu fiquei com muito ódio quando assisti e me deu vários gatilhos

1 curtida

O gay me deu tanta raiva… como que trata a sogra, que é um amor, daquele jeito?

O vírus

Amigo eu fiquei chocado com o relato parece filme de terror estava pensando em assistir agora com medo de dar uma crise de ansiedade.

é pior quando vc vê

E depois que todo reality foi exibido as partes se pronunciaram?

não, inclusive ganhando seguidores até hj… amigo, o gay inclusive trata a sogra muito mal e ninguém tece um comentário falando mal, mas só foi a severina falar sobre jogo que eles fizeram um Deus nos acuda

Que horror

Severina maior ícone do programa

Fada injustiçada

A gay super mal educada e todo mundo passa pano :skull_and_crossbones:

1 curtida

Aí eu tô assistindo agora e estou completamente chocado

E o que mais me chocou tb foi o casal de gays, comecei odiando o Felipe e me perguntando como o namorado suportava, acabei até me afeiçoando a ele e odiando o namorado

Realmente, o namorado tbm não é lá essas coisas

1 curtida

o ban

Aí eu fiquei chocado quando assisti com as histórias rsssss

O Felipe até deu um arco de rendenção, com o plot da aceitação da família e indo conversar com a Severina kkk