Quando Marina Ruy Barbosa foi anunciada como protagonista de “Tremembé”, interpretando Suzane von Richthofen, muita gente torceu o nariz. Não era só ceticismo artístico — era um preconceito velado, um julgamento baseado em imagem; em especial em gente que nunca acompanhou a carreira da ruiva de perto. Bonita demais. Fina demais. Rica demais. A “menina de novela das sete” não teria estofo para um papel sombrio, real, denso. Mas a resposta veio com força: Marina entregou uma das atuações mais impactantes de sua carreira.
Esqueça a figura da atriz delicada, de fala doce e imagem imaculada. Em “Tremembé”, série disponível no Prime Video, Marina se despe de qualquer vaidade ou filtro e mergulha em uma personagem incômoda, ambígua, manipuladora. Sua Suzane é uma presença que incomoda pela frieza disfarçada de doçura. Ela não precisa gritar ou fazer cenas histéricas. Basta um olhar calculado, um silêncio bem colocado, um sorriso no momento errado. Marina entendeu que a maldade da personagem não está nos atos, mas na maneira como os encobre.
O impacto de sua performance não vem de gestos teatrais, mas do controle absoluto da narrativa. Cada cena é medida, tensa, viva. Ela sustenta o desconforto com naturalidade, flutua entre a menina mimada e a mente estratégica. É uma atuação que exige autocontenção — e Marina entrega com precisão cirúrgica.
Mais do que uma virada de carreira, “Tremembé” representa uma libertação para a atriz. Fora da Globo pela primeira vez desde muito jovem, Marina teve liberdade para escolher um papel que a desafiasse. Longe do contrato fixo, longe dos mesmos perfis de mocinha, ela foi onde poucos esperavam — e justamente por isso, surpreendeu tanto.
Essa escolha também revela uma atriz que quer ser levada a sério, sem depender do glamour que sempre a cercou. O cenário luxuoso em que cresceu, a carreira construída em novelas convencionais, tudo isso parecia limitar a maneira como o público a via. Em “Tremembé”, ela quebra esse espelho. Mostra que não está preocupada em agradar, mas em entregar verdade.
Marina Ruy Barbosa acaba de deixar um recado claro para o mercado: subestimá-la foi um erro.