Elizabeth Jhin avalia demissão da Globo e diz: "Não pretendo mais escrever para televisão"

Autora de grandes sucessos às 18h, sempre com histórias marcadas pela espiritualidade, Elizabeth Jhin não quer mais escrever novelas. Em entrevista exclusiva ao NaTelinha, a novelista comenta pela primeira vez sua demissão da Globo, em 2021, fala dos projetos atuais e explica por que não pretende voltar à TV.

“Não pretendo ter nenhum vínculo profissional com a Globo. Aliás, não pretendo mais escrever para televisão. Hoje, o escritor tem que enquadrar sua narrativa a uma série de regras ligadas a ideais políticos. São justos e necessários, mas discordo da maneira como são impostos”, diz Elizabeth Jhin.

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A carreira da escritora na TV começou nos anos 1990, como colaboradora. Com Antônio Calmon, ela assinou Começar de Novo (2004). Depois, seguiu carreira como titular e fez Eterna Magia (2007), Escrito nas Estrelas (2010), Amor Eterno Amor (2012), Além do Tempo (2015) e Espelho da Vida (2018).

Nenhuma dessas tramas foi reprisada na Globo, mesmo as de audiência expressiva. Escrito nas Estrelas está em cartaz no Viva, mas não foi reapresentada na TV aberta, assim como Além do Tempo, que figura entre as mais pedidas nas redes sociais. Para a autora, há certa rejeição à temática espírita.

A última novela, Espelho da Vida, foi marcada pela baixa audiência. Contudo, conquistou uma legião de fãs. Dois anos depois, Elizabeth Jhin foi dispensada pela Globo, que adotou a política de contratação dos artistas por obra certa. “Minha intenção é em breve escrever um livro, tenho pensado muito nisso”, antecipa.

Leia a íntegra da entrevista com Elizabeth Jhin

NT: Você tem assistido à reprise de Escrito nas Estrelas no Canal Viva? Passados 13 anos, como avalia essa novela no contexto da sua carreira?

Assisto todos os dias à reprise. Foi uma novela que me deu muito prazer em escrever, a primeira com a temática espírita. Como se passaram 13 anos e já fiz outras histórias, há momentos em que esqueço o que vai acontecer em seguida e me divirto com isso.

Sucesso em 2010, Escrito nas Estrelas nunca ganhou reprise na TV aberta - Foto: Divulgação/Globo

Lembro como gostava de escrever para o personagem Gilmar (Alexandre Nero) para as duas deslumbradas Sofia (Zezé Polessa) e Beatriz (Débora Falabella). Além de toda a parte espiritual, claro… Um elenco maravilhoso, direção inspirada de Rogério Gomes e equipe. Também tive o privilégio de contar com excelentes escritores em minha equipe.

NT: Apesar do sucesso, Escrito nas Estrelas nunca foi reprisada na Globo. O mesmo aconteceu com Além do Tempo (2015), que é bastante pedida. Por que isso acontece, na sua opinião?

“Não sei o que acontece. Sei que as pessoas pedem muito a reprise dessas novelas. Os tempos são outros, acredito. Em certos meios intelectuais, há quase uma intolerância a esse tipo de conteúdo.”

NT: Temas ligados ao espiritismo estão bastante presentes em suas novelas. Por quê? Considera que essa virou uma característica fundamental na sua obra?

Em Eterna Magia (2006), já havia tocado no tema sobrenatural, sob outra perspectiva, claro. Sempre achei que uma obra de ficção é livre para explorar temas fantasiosos ou/e metafísicos, para que a imaginação das pessoas possa voar e explorar outros caminhos a que não estão acostumados na vida cotidiana.

A ideia de Escrito nas Estrelas veio naturalmente. Li um artigo de jornal sobre os aspectos éticos da inseminação artificial. Pensei na hipótese do doador do sêmen já estar morto e o que aconteceria se um triângulo amoroso se formasse com alguém que estivesse em outro plano. A partir daí, me enfronhei cada vez mais em assuntos ligados à espiritualidade.

Exibida entre 2018 e 2019, a novela Espelho da Vida foi o último trabalho de Elizabeth Jhin na TV - Foto: Divulgação/Globo

NT: Sua última novela, Espelho da Vida (2018), teve problemas de audiência, mas conquistou muitos fãs. A que atribui esse paradoxo?

Houve uma certa lentidão de edição no começo da novela, que foi corrigida, fazendo a trama correr mais rapidamente. Fiquei muito feliz com os resultados. A direção de Pedro Vasconcelos e equipe foi brilhante. Houve, como sempre, uma rejeição de parte do público e principalmente da crítica, avessos à temática abordada.

NT: De todas as suas novelas, consegue eleger a sua predileta?

Acho que a minha predileta é Além do Tempo, mas tenho um carinho grande por todas pelo que significaram em minha vida profissional e particular. Tive ao meu lado uma equipe de escritores excelentes que se tornaram amigos para toda a vida.

Além do Tempo, de 2015, teve passagem de tempo, e segunda fase mostrou personagens em novas encarnações - Foto: Divulgação/Globo

NT: Você deixou a Globo em 2021. Qual foi o contexto ou a explicação da sua saída da emissora?

“Fui uma das primeiras a entrar na lista dos demitidos, seguindo a nova política da Globo de contrato por obra. Acredito que houve uma mudança significativa de rumos na emissora e não havia mais espaço para meu tipo de trabalho.”

NT: Como ficou a relação com a Globo? Tem expectativa de novos trabalhos na emissora?

Não pretendo ter nenhum vínculo profissional com a Globo. Aliás, não pretendo mais escrever para televisão. Hoje, o escritor tem que enquadrar sua narrativa a uma série de regras ligadas a ideais políticos. São justos e necessários, mas discordo da maneira como são impostos.

“Estou curtindo muito usar meu tempo lendo, vendo filmes e séries, pesquisando e me aprofundando em assuntos que me interessam. Minha intenção é em breve escrever um livro, tenho pensado muito nisso.”