Lydda María Rivero, de 23 anos, prestes a dar à luz seu segundo filho; ela e a criança acabaram falecendo
"Ninguém imagina a dor que estou passando agora. Ninguém imagina o sofrimento que nós vivemos em casa."
Crise sanitária
Relatos como o de Lenier são cada vez mais frequentes em Cuba, onde todo o sistema de saúde é público.
A ilha vive há alguns meses o momento mais crítico da pandemia e uma das piores crises de saúde da América Latina.
Embora tenha conseguido conter o coronavírus durante boa parte de 2020, Cuba é atualmente o local com maior número de infecções por percentual da população em todo o continente — e um dos primeiros do mundo.
Em 1º de agosto, o país registrou 9.279 casos e cerca de 68 mortes por covid-19, embora organizações de oposição denunciem que o número de infecções e mortes seja maior que o reconhecido oficialmente.
No total, 2.913 pessoas morreram, de acordo com números oficiais publicados até 1º de agosto
Casos confirmados de coronavírus por milhão de habitantes
Especialistas consultados pela BBC dizem que vários fatores básicos explicam esta situação crítica:
- O país, dependente do turismo, abriu parcialmente as suas fronteiras para pacotes turísticos, o que permitiu a entrada de novas variantes mais contagiosas.- Apesar das medidas de confinamento, os cubanos ficam em longas filas e aglomerações para comprar alimentos, o que facilita as transmissões.- O país, que desenvolveu uma estratégia de rastreamento rigorosa, apresenta limitações para a realização de testes de detecção de coronavírus, principalmente PCR. Existem relatos de pessoas na fila por horas ou dias para fazer o teste, quando disponível.- Quase toda a população possui apenas máscaras caseiras de tecido (não se vendem cirúrgicas ou outras mais eficientes) e é escasso o acesso a sabonete para lavar as mãos e outros produtos de higiene, como o gel antibacteriano, o que também favorece a transmissão do vírus e suas variantes mais contagiosas.- Cuba demorou a começar e massificar sua campanha de vacinação. Foi o último país da América a fazê-lo, depois de se recusar a fazer parte do mecanismo Covax (consórcio internacional que distribui vacinas para a covid-19 a nações pobres) e apostar no desenvolvimento de vacinas próprias - as quais já administra a sua população.
A maioria da população cubana não tem acesso às máscaras que oferecem maior proteção, como a usada por autoridades da ilha
Até o momento, a ilha aprovou duas vacinas de produção nacional (Abdala e Soberana 02), sendo o primeiro país do continente a fazê-lo.
Atualmente, é um dos países do mundo que mais administra vacinas por dia por 100 habitantes, mas o processo teve altos e baixos por falta de insumos como seringas.
Esses fatores, que contribuíram para a explosão de casos, sobrecarregaram o sistema de saúde da ilha, que já sofria com a escassez generalizada de medicamentos, falta de pessoal e graves problemas de infraestrutura.
Fonte: Cuba enfrenta caos em hospitais e até falta de seringa no pior momento da pandemia - BBC News Brasil