Argentina pede mais prazo para pagar importação de energia da Petrobras
Solicitação foi feita em encontro entre presidentes Lula e Fernández, semana passada, e está sendo avaliada pela estatal
O inverno está chegando e a Argentina, como aconteceu nos últimos anos, tem o desafio de importar energia elétrica suficiente para atender a elevada demanda nos meses mais frios do ano no país. O Brasil é um dos países que fornece energia aos argentinos, e nos últimos dias ocorreram negociações para que a Argentina, mergulhada numa delicada crise financeira (leia-se escassez de divisas), possa ter prazos mais flexíveis e ampliados para pagar à Petrobras a energia elétrica que compra.
O pedido para condições mais favoráveis nas negociações entre Petrobras e a Argentina foi feito em encontro entre os presidentes Lula e Alberto Fernández, semana passada, e está sendo avaliado pela estatal. O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, também participou do encontro.
A empresa ofereceu, segundo confirmaram fontes argentinas, um esquema de financiamento próprio de suas exportações aos argentinos, e um prazo de 60 dias para que sejam pagas essas exportações. A Argentina, em contrapartida, pediu 180 dias.
Procurada pelo GLOBO, a estatal respondeu que não fará comentários sobre o assunto. Do lado argentino, a ansiedade é grande. O assunto foi discutido em reuniões em Brasília, no final da semana passada.
Segundo fontes argentinas, tanto o Ministério de Minas e Energia como a Petrobras demostraram predisposição para atender o pedido do governo de Alberto Fernández e Cristina Kirchner, já em campanha eleitoral para as presidenciais de 22 de outubro, e com o ministro da Economia, Sergio Massa, como candidato da Casa Rosada.
Fernández e Lula voltam a se encontrar amanhã , na cúpula de presidentes do Mercosul, na cidade argentina de Puerto Iguazú. A Argentina importa energia produzida nas termelétricas que a Petrobras tem no Sul do país.
A potência média da energia comprada pelos argentinos é de 600 megawatts por dia, e os meses prioritários para o país são julho e agosto, quando o frio aperta e a demanda de energia aumenta pelo uso de aquecedores domésticos, entre outros.
Sem dólares para financiar todas as suas importações — que explica grande parte dos problemas que o país tem com seus vizinhos, sobretudo com o Brasil —, a Argentina, no caso da compra de energia, optou por pedir mais tempo para pagar. Assim, atravessaria os meses mais complicados da campanha eleitoral sem grandes sobressaltos.
Pagamento poderia ser em yuan
O governo Fernández estima desembolsar este ano em torno de US$ 500 milhões em importações de energia elétrica, em grande parte, do Brasil. Uma das questões que está sendo tratada nas negociações é que garantias o país vai oferecer para obter prazos mais amplos. Uma das opções colocadas sobre a mesa é o swap que o Banco Central argentino tem com a China.
A ideia seria que os recursos usados como garantia para a operação com a Petrobras estejam numa moeda que não seja o peso argentino — poderiam ser reais ou yuans —, numa conta bancária fora da Argentina.
O mesmo esquema está sendo estudado para resolver o problema do pagamento às importações brasileiras na Argentina. O governo Fernández pediu ajuda a Lula para encontrar uma maneira que permita a seu país não usar escassas reservas do Banco Central Argentina para liberar dólares para que seus importadores possam pagar quem vende ao país — um drama que se arrasta faz tempo, e provoca atrasos enormes no pagamento aos exportadores brasileiros, além da perda de mercado para produtos chineses, o que mais preocupa o Brasil.
Conta com recursos no exterior
O imbróglio ainda não foi resolvido, mas uma opção, comentaram fontes dos dois países, seria que um eventual esquema de financiamento no Brasil tenha como garantia de pagamento futuro, por parte dos argentinos, uma conta com recursos no exterior.
O Brasil está esperando que a Argentina apresente um esquema de garantias que seja considerado suficiente para construir um esquema de financiamento. Uma possibilidade, ampliaram as fontes, seria recorrer à Comunidade Andina de Fomento (CAF), um banco regional com o qual a Argentina mantém boas relações. Mas as conversas ainda não evoluíram.