O Brasil vive um paradoxo. Há no país quase 15 milhões de desempregados enquanto empresas reclamam de dificuldades para preencher vagas, inclusive de nível técnico e operacional, num apagão de mão de obra qualificada.
Candidatos para vagas de ensino médio na indústria mas que não conseguem ler um manual ou não têm conhecimentos básicos de matemática, jovens que tentam um posto no setor de serviços mas têm dificuldades para enviar um email ou mandar sua documentação às empresas de maneira digital, além de não saberem se expressar corretamente na comunicação com os clientes, são alguns dos relatos feitos por executivos e recrutadores.
O impacto da pandemia na educação, particularmente no ensino médio, e o avanço da digitalização nos negócios agravam o que os especialistas apontam como mais um gargalo na economia, mesmo com o país tendo, no momento, o maior contingente de desempregados da sua história.
— Estamos vivendo um apagão de mão de obra, isso é categórico. Apagão é a expressão do momento e também um vaticínio, uma previsão de que, daqui pouco, não vamos conseguir sair dessa situação, permanecendo na armadilha de país de renda média — diz o economista Ricardo Henriques, superintendente do Instituto Unibanco.
Na multinacional alemã de intralogística Jungheinrich, onde muitos processos requerem conhecimento em automação, elétrica e eletrônica, a dificuldade de encontrar profissionais piorou na pandemia, segundo a gerente de RH, Thalyta Haertel:
— Sempre houve dificuldade na qualificação de técnicos , mas agora não conseguimos nem contratar quem esteja cursando, pois houve evasão das escolas. Percebemos essa deficiência nos estagiários que ficaram só no EAD (ensino a distância).