O remake de Vale Tudo chega ao fim na sexta (17) como um exemplo daquele conhecido ditado: “Falem bem ou falem mal, mas falem de mim”. O folhetim da Globo conseguiu ultrapassar os 30 pontos no Ibope na reta final e virou um case de sucesso comercialmente, com uma quantidade até exagerada de “publis” a cada cena. Também é inegável que a trama repercutiu muito nas redes sociais, mas nem sempre de forma positiva.
Entre (muitos) erros e (alguns) acertos, a questão principal é como a autora Manuela Dias se distanciou demais da obra de 1988 --dando praticamente uma aula de como não se fazer um remake.
Nos mais de seis meses que o folhetim ficou no ar, não foi raro ver telespectadores comentarem que a dramaturga deveria ter escrito uma novela inédita em vez de assumir a adaptação do aclamado texto de Gilberto Braga (1945-2021), Leonor Bassères (1926-2004) e Aguinaldo Silva.
A nova versão escanteou completamente o protagonismo de Raquel (Taís Araujo) --a ponto de decepcionar a própria intérprete-- e transformou tudo em uma novela sobre a família Roitman. Dessa forma, a essência da história em discutir a ética no Brasil com embates entre uma mãe honesta e uma filha mau-caráter ficou esquecida.
Pelo contrário: Maria de Fátima (Bella Campos) e Odete (Debora Bloch) acabaram caindo nas graças do público, sendo exaltadas de uma maneira provavelmente inimaginável para quem assistiu à novela original.
Na verdade, a expectativa de que o remake pudesse alcançar a excelência do folhetim de 1988 já era quase nula. Só que Manuela Dias conseguiu piorar absurdamente tudo com ideias mirabolantes de tramas inéditas (alô, bebê reborn) e diálogos que mais pareciam saídos do Zorra Total (1999-2015).
Várias mudanças da escritora, criticadas até mesmo antes da estreia, transformaram a narrativa num queijo suíço de tantos furos. Chegou num momento em que internautas pararam de levar a novela a sério, repercutindo muito mais os erros de continuidade a cada capítulo.
Enquanto o texto da autora e a direção de Paulo Silvestrini deixaram a desejar em vários momentos, é preciso reconhecer o esforço do elenco em apresentar um bom trabalho mesmo quando a história perdeu o sentido.
Debora Bloch cumpriu com maestria a missão de assumir a “vilã das vilãs”. Mesmo com a personagem apagada, Taís Araujo teve cenas intensas e que merecem aplausos. Alexandre Nero conseguiu transformar o inescrupuloso Marco Aurélio em alívio cômico. E até Bella Campos melhorou sua atuação no decorrer da novela após a enxurrada de críticas na hora da escalação.
O balanço final é que Vale Tudo poderia ter sido um grande remake, se tivesse permanecido mais fiel à obra original. Ou Manuela Dias poderia ter feito uma história nova até que interessante, mas sem carregar o peso do maior clássico da teledramaturgia brasileira no nome.