Longe de ser perfeito, o remake de “Vale Tudo” vai deixar saudade por algumas razões. Além do desempenho impecável e do carisma de Debora Bloch, o mérito maior da trama foi despertar uma nostalgia avassaladora do público pelo hábito de ver uma boa novela -agora comentando com a família ou os amigos nos grupos de zap e gerando memes a rodo diariamente.
Hoje, vou me dedicar a listar as melhores coisas do remake, aquelas que vão deixar saudades. Na próxima quarta-feira, vai ser a vez de elencar as piores coisas da nova versão da maior novela de todos os tempos, as que já vão tarde.
Odete Roitman – Enquanto Raquel e Maria de Fátima ficaram pelo caminho, perdendo o protagonismo na segunda metade da novela, Odete reinou sozinha até o final. Foi o encontro perfeito entre uma grande atriz, Debora Bloch, que fez todo mundo esquecer as especulações de outros nomes na época da escalação; as melhores falas da novela, que viralizavam praticamente todo dia; um bem-vindo toque de humor que deixou a magnata mais leve do que na primeira versão; e, para completar, uma necessária atualização feminista à vilã. Se no cinema o ano foi de Fernanda Torres, na TV Debora reinou absoluta.
A volta do hábito de ver novela – É impressionante: “Vale Tudo” acionou pesado o botão nostalgia no público. Gente que não via novela desde “Avenida Brasil” (2012) –ou mesmo desde a primeira “Vale Tudo”, em 1988– embarcou na onda desde que começaram a sair os nomes confirmados para o remake há mais de um ano. Alguns decepcionados abandonaram a novela no meio, mas uma boa parte ficou num relacionamento tóxico com a novela: achava ruim, mas não conseguia se livrar dela.
César e Olavinho – A dupla de golpistas e produtores de conteúdo adulto vivida por Cauã Reymond e o estreante Ricardo Teodoro virou um inesperado ponto cômico da novela. Em 1988, os personagens eram 100% sérios, dedicados a ajudar Fátima em seus golpes. Desta vez, depois de pegarem carona na onda dos bebês reborn, o humor correu solto. Foi divertido de ver.
A história de Leonardo vivo – Na primeira versão de “Vale Tudo”, o terceiro filho de Odete realmente morria no acidente que levava a bilionária a culpar sua filha Heleninha. No remake, Manuela Dias apostou alto em deixar Leonardo (Guilherme Magon) vivo e escondido por Odete. As chantagens sofridas pela milionária e a descoberta por Heleninha de que o irmão estava vivo renderam grandes cenas –e tornaram ainda mais podre o reino dos Roitman.
Marco Aurélio e Freitas – Se Debora Bloch fez uma Odete diferente de Beatriz Segall (mas não necessariamente melhor), Alexandre Nero ampliou muito o carisma de Marco Aurélio, o diretor corrupto e rabugento da TCA. Em 1988, Reginaldo Faria compôs um tipo que não sorria nunca, bastante monocromático –como o novo Marco Aurélio certamente odiaria. Já Nero injetou charme e muito humor ao personagem, dividindo cenas deliciosas com seu braço direito, o paspalhão Freitas (Luis Lobianco).