‘Assustados e sem entender nada’, diz voluntária de ONG sobre afegãos refugiados que ficaram parados em rodovia após prefeitura recusar abrigo
Cinco ônibus ficaram parados no km 40 da Rodovia Anchieta após a Prefeitura de Praia Grande recusar abrigo; veículos foram escoltados pela Polícia Rodoviária Federal e estava com 35 crianças. Situação foi resolvida horas depois após o município fechar um acordo com o Ministério da Justiça.
“Estavam muito assustados e sem entender nada por ficarem cercados de Guarda Municipal. Ficaram morrendo de medo. Havia mulheres assustadas com crianças sentadas no ônibus durante 5 horas. E o que fico triste é que nós, voluntários do Coletivo, não pudemos acompanhá-los nos ônibus mesmo estando com o grupo diariamente”.
O relato é da voluntária Aline Sobral, que faz parte da ONG “Coletivo Frente Afegã”, sobre os 128 afegãos, entre eles 35 crianças, que ficaram em ônibus parados no km 40 da Rodovia Anchieta após a Prefeitura de Praia Grande recusar abrigo ao grupo, na noite de sexta-feira (30).
A situação só foi resolvida horas depois após o município fechar um acordo com o Ministério da Justiça.
O governo brasileiro publicou em setembro de 2021 uma portaria estabelecendo a concessão de visto temporário, para fins de acolhida humanitária, a cidadãos afegãos. E sem abrigos, os afegãos passaram a ficar acampados pelos corredores do aeroporto desde 2022.
Em fevereiro deste ano, o número de famílias nos saguões chegou a zerar. Contudo, mais imigrantes chegaram nos meses seguintes.
A decisão de mover os afegãos do aeroporto para a colônia de férias no litoral de SP partiu da deputada federal Juliana Cardoso (PT-SP). A medida foi anunciada na última quinta-feira (29) pelo governo federal, uma semana após 20 afegãos acampados no aeroporto serem diagnosticados com escabiose, doença popularmente conhecida como sarna.
“Nós definimos uma ação emergencial do Ministério da Justiça e Segurança Pública, essas pessoas vão ter a possiblidade de ser adequadamente acolhidas em hotéis, não só em Guarulhos, mas em outras cidades, até que se estruture uma política definitiva para dar conta desse grave problema”, afirmou o ministro da Justiça Flávio Dino.
Na tarde de sexta-feira (30), os imigrantes saíram do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, e seguiram em cinco ônibus para a Colônia de Férias do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas, no bairro Solemar, em Praia Grande.
A Polícia Rodoviária Federal fez a escolta dos veículos na rodovia e informou, em nota, que havia 35 crianças nos ônibus. A maioria delas diagnosticadas com escabiose, doença popularmente conhecida como sarna, informou a PRF.
Contudo, durante o trajeto, a prefeitura emitiu uma nota alegando que “não aceitava os afegãos”, já que, segundo a prefeitura, o local onde os refugiados ficariam não estava com Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB) e que eles “colocariam em risco a saúde dos moradores da cidade”
Depois, guardas civis municipais foram acionados para impedir a entrada dos afegãos na Colônia de Férias. A Prefeitura alegou ainda que “não arcaria com despesas com os afegãos”.
Os cinco ônibus com afegãos ficaram parados no km 40 da Rodovia Anchieta, na região de São Bernardo do Campo. A liberação aconteceu depois de uma reunião na noite de desta sexta-feira (30) entre o ministro da Justiça, Flavio Dino, e a prefeita Rachel Chini (PSDB), que fez uma série de exigências.
A ativista Swany Zenobini, que acompanhou a chegada dos afegãos no ano passado pelo Coletivo Frente Afegã, afirmou ao g1 que espera que a situação não se repita para os imigrantes que buscam o Brasil justamente para receberem ajuda.
“Esta foi uma ação emergencial, mas um plano estrutural está sendo construído pra que a situação não se repita, e isso é uma parte bem importante. Sei que o governo federal está buscando uma solução federativa, com os municípios, o estado e o Ministério da Justiça”, disse.
“Quando soube que teve surto de sarna eu fiquei indignada, porque isso não é a primeira vez que acontece. Foi uma tragédia anunciada. Que essa situação da sarna não aconteça mais porque não deve ter afegãos dormindo no aeroporto, chamando o aeroporto de primeira casa no Brasil. Isso é um absurdo. Precisamos ter uma política robusta para acolher”.
Acordo entre Ministério da Justiça e prefeitura
Antes do acordo, o ministro Flávio Dino usou as redes sociais para reforçar o compromisso que o país tem com os visitantes.
“O Brasil tem leis e nós estamos cumprindo. Esperamos das demais autoridades públicas idêntico comportamento. Lembro que há milhões de brasileiros morando em outros países e sempre desejamos que eles sejam respeitados. Então devemos dar o exemplo na nossa casa”, consta em trecho da publicação do ministro.
Depois da confusão, a prefeitura divulgou uma nova nota afirmando que havia chegado a um acordo com o Ministério da Justiça para permitir a entrada dos afegãos. O município fez uma série de exigências ao governo federal.
O Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) informou, em nota, que as tratativas para o acolhimento dos imigrantes afegãos foram realizadas diretamente com o sindicato. “A vistoria do local já foi providenciada junto ao Corpo de Bombeiros”.
Em relação às despesas e cuidados ao grupo, o MJSP garantiu que serão custeados pelo governo federal. “A prefeitura de Praia Grande não terá qualquer custo ou responsabilidade com este acolhimento”.
“A medida é uma ação emergencial para retirar refugiados que hoje vivem em situação delicada e precária, dos quais 35 crianças, e está sendo construída em parceria com o governo de São Paulo, prefeitura de Guarulhos, Acnur, Cáritas e outras entidades da sociedade civil envolvidas com a temática”.
Fonte e restante da matéria em: 'Assustados e sem entender nada', diz voluntária de ONG sobre afegãos refugiados que ficaram parados em rodovia após prefeitura recusar abrigo | São Paulo | G1