Ludmila Dayer fala da estreia como diretora em documentário

Ludmila Dayer acaba de estrear como diretora no documentário “Eu”, disponível na nova plataforma de streaming Aquarius. No filme, ela conta como foi o seu processo para se curar de crises de pânico que começaram a se manifestar em 2019:

— Estou num misto de estado de êxtase e de missão cumprida. Eu passei por muitas dificuldades pessoais ao longo da realização deste trabalho. Houve horas em que achei que o documentário nem iria sair mais. Em alguns momentos eu não sabia se conseguiria finalizar e, em outros, duvidava se as minhas questões realmente poderiam me conectar com outras pessoas. E agora eu tenho recebido tantas mensagens de gente dizendo que se identificou com a minha experiência. É um alívio.

Ludmila conta que a ideia do projeto surgiu quando ela percebeu que seu tratamento terapêutico estava surtindo efeito, fazendo com que se sentisse melhor. Grata por ter acesso a grandes profissionais e informações, ela se sentiu privilegiada e, como retribuição, decidiu fazer um filme sobre o tema para ajudar pessoas que não têm essas possibilidades. Inicialmente, sua experiência não seria o foco:

— Eu filmei em 13 dias pensando numa narrativa, a partir de entrevistas, focada nas informações sobre tudo o que eu havia aprendido. Quando eu fui editar, começaram a vir questões pessoais novas e que colocaram mais em teste ainda tudo aquilo que absorvi. As crises de pânico se tornaram mais frequentes e fortes e aí, além da saúde mental, a física se manifestou.

Ela foi diagnosticada com esclerose múltipla, condição que afeta o cérebro e a medula espinhal. A doença foi causada pelo vírus EBV (Vírus Epstein–Bar). Antes de descobrir o problema, ela começou a perder a cognição e a visão e passou a ter muita fraqueza. Hoje, diz não apresentar mais nenhum sintoma:

— O que entendi é que as doenças se manifestam no físico, mas começam primeiro no emocional. Por isso, a minha urgência em falar sobre saúde mental. A gente vai somatizando no emocional e uma hora estoura no físico. Não é à toa que o meu físico respondeu muito rápido (ao tratamento). Eu estava muito focada na minha cura emocional. Hoje em dia, acho que foi um presente tudo isso que aconteceu. Foi uma grande oportunidade de ressignificar a minha vida toda e, inclusive, me conhecer e entender a potência que são nosso corpo e nossa mente. Tem relações na minha vida que eu cortei porque se tornaram tóxicas. Esse autocuidado que eu tenho hoje e a forma como eu valorizo a minha família foram conta desses problemas.

Ludmila conta que o apoio familiar foi fundamental para a sua jornada até a melhora. Ela é casada há dez anos e diz que o relacionamento se transformou a partir desse processo:

— Nos uniu muito. Foi durante esse processo que eu passei a ter de verdade um senso de família dentro de mim. Até então, eu ainda seguia muito sozinha, mesmo casada. Sempre fui independente, vim morar em outro país (ela vive em Los Angeles, nos EUA) e fiquei sozinha por aqui por dez anos até me casar. Ter esse relacionamento com ele durante essa dificuldade toda nos aproximou muito. Eu me dei conta de que tenho uma família e isso me acalmou, me centrou.

Na produção, é mostrado como a relação com os pais pode afetar a vida dos filhos de forma direta, e a atriz revela a sua própria experiência a partir da ausência paterna. Apesar de se debruçar sobre a questão, ela diz que a maternidade é algo que não deseja para a sua vida:

— Eu nunca quis ter filhos e continuo não querendo. Tem outras coisas que me realizam na vida. Uma delas é criar. Eu coloco muito amor nos meus projetos. Sempre foi assim na minha carreira. Agora, como diretora e produtora, eu me sinto colocando algo no mundo. E eu me doo muito para os meus grandes relacionamentos da vida. Eu moro num rancho e tenho um amor muito grande pelos animais e pela natureza. Então, eu acho que existem outras maneiras de nutrir o seu amor que não seja necessariamente num filho. Eu estou muito feliz no lugar onde estou.

O documentário tem produção associada da cantora Anitta, que é uma grande amiga de Ludmila:

— Quando eu estava passando por esses problemas de saúde, dividimos muitas questões, porque ela também estava passando por coisas parecidas. Tivemos muita cumplicidade. Esse filme tocou nela de uma forma especial, que a fez querer fazer parte do time também. Ela veio para ajudar a passar a mensagem do documentário para frente.

As duas se conheceram há alguns anos nos bastidores das gravações do programa “Vai, Fernandinha”, de Fernanda Souza:

— Aí ela começou a vir para Los Angeles, e a gente se conectou. Eu moro na cidade há anos. Ela não conhecia ninguém por aqui. Acabamos criando uma grande amizade a partir daí.

Atualmente, Ludmila está focada nos seus novos projetos, entre eles uma continuação do documentário e um podcast sobre saúde mental. Ela também desenvolve seu primeiro longa de ficção, chamado “O encontro”, que vai dirigir. Também é coautora ao lado de Thiago Pavarino e Juliana Soares e atuará:

— Eu me envolvi bastante durante a escrita, e o Thiago ficou dizendo que eu deveria atuar também. Eu não queria e falei “não” durante um ano. Depois que eu terminei o documentário, decidi que também atuaria. Eu me senti com bagagem para adicionar no projeto.

Ela acrescenta, no entanto, que será um retorno único na carreira de atriz:

— Quase que todo ano eu tenho um convite para voltar a atuar e nego. Não é o meu processo agora. Estou me divertindo muito dirigindo e produzindo. Não quero desfocar desse novo momento. Eu atuei durante muito tempo da minha vida e para mim já estava bom. Mas, neste projeto especificamente, sinto que posso acrescentar. Eu, como produtora, disse para mim mesma que preciso atuar nele.

Ludmila Dayer e o marido — Foto: Reprodução/Instagram

Ludmila Dayer e o marido — Foto: Reprodução/Instagram