Em “Elas por elas”, Luciano Mallmann é Carlinhos, parceiro de Ísis (Rayssa Bratillieri) no trabalho voluntário de resgate de animais em situação de risco. O personagem, assim como o ator na vida real, é cadeirante, mas isso não é o foco da sua trama:
— Ele é um personagem completamente solar, que está rindo o tempo todo. A deficiência é completamente naturalizada na história, o que é muito bacana, já que a novela tem um impacto social gigantesco. As pessoas precisam entender que a deficiência é uma caraterística de algumas pessoas, assim como tantas outras. Quanto mais pessoas com deficiências no ar, melhor. Isso ajuda a naturalizar. E essa naturalização é uma parte importante no processo de inclusão.
A novela é o segundo trabalho dele na TV Globo este ano. Entre fevereiro e julho, o ator gravou “Justiça” 2, série de Manuela Dias para o Globoplay. Ele interpreta Cassiano, homem que vai querer fazer justiça com as próprias mãos contra Nestor, vivido por Marco Ricca. O personagem foi atacado violentamente por ele e, por isso, ficou tetraplégico.
Aos 52 anos, Mallmann conta que é ator desde que se entende por gente. Ele começou no teatro ainda na escola, na sua cidade natal, Porto Alegre. Em 1996, se mudou para o Rio de Janeiro. A partir daí, gravou participações em novelas e muitos filmes publicitários. Na mesma época, começou a fazer dança e acrobacia aérea com tecido de circo. Foi praticando esta atividade que, em 2004, sofreu um acidente. A lesão fez com que perdesse o movimento das pernas:
— Eu tinha 33 anos de idade e decidi que não queria mais trabalhar com artes, pois as oportunidades seriam muito menores, já que eu não teria mais as possibilidades que o meu corpo oferecia até então. Voltei para Porto Alegre e comecei a trabalhar com publicidade, área em que também sou formado.
Em pouco tempo, no entanto, ele diz que a vontade de atuar voltou a se manifestar. O ator se deu conta de que seria necessário que ele mesmo produzisse algo para si. Então, escreveu um monólogo chamado “Ícaro”, que ficou por cinco anos em cartaz, passando por diversas cidades brasileiras. Foi justamente durante uma vinda ao Rio para se apresentar que ele aproveitou para atualizar o seu cadastro no banco de elencos da Globo.
— O espetáculo parou por conta da pandemia, mas quero retomá-lo em algum momento. Com o isolamento social, eu voltei a trabalhar com publicidade numa empresa de diversidade. Um dia, a Marcella Bergamo (produtora de elenco de “Justiça” 2) me ligou e disse que tinha visto o meu material no banco de talentos e adorado. Nós marcamos uma reunião com o Gustavo Fernandez (diretor) e a Manuela Dias. Quando eu vi, estava no elenco. Eu tirei uma licença da empresa onde trabalhava e tenho o meu lugar garantido lá, caso precise ou queira voltar. Ainda não sei do meu futuro. Por enquanto, estou vivendo o presente.
O ator conta que voltar ao Rio para trabalhar como ator quase 20 anos depois do seu acidente tem um significado especial:
— Tem sido especial não só voltar, mas voltar com trabalho. Eu acho que, independentemente do que aconteça na vida de uma pessoa, ela deve manter a sua essência. Nunca fui uma pessoa deprimida. Após o acidente, enfrentei um período muito difícil, mas passou. É claro que não posso esquecer também que eu tenho apoio familiar, sou de classe média, com condição de acesso a transporte e a plano de saúde. Uma pessoa na mesma situação que a minha sem isso tem muito mais dificuldades.