É inegável o impacto no turismo de assassinatos brutais como os dos três ortopedistas que estavam no Rio para um congresso esta semana, concordam empresários, autoridades e especialistas do setor. O caso se soma aos tiroteios e a episódios recentes envolvendo visitantes nacionais e estrangeiros, como o de um chileno encontrado morto em Santa Teresa, em maio, complicando o desafio de descolar, internacionalmente, a imagem da cidade e do país da violência. Mas, segundo o trade turístico, há saídas para diminuir o prejuízo. E elas passam, inclusive, pela celeridade na solução do crime na Barra da Tijuca.
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— Embora o turista frequentemente não seja a principal vítima direta da maior parte dos crimes registrados, o avanço da criminalidade em importantes polos turísticos nos últimos meses e a consequente queda na percepção de segurança por parte dos turistas, sem dúvida, prejudica o processo de recuperação do nível de atividade do setor. Estamos nos aproximando da alta temporada, e casos como os registrados no Rio e em Salvador, por exemplo, tendem a impactar — diz o economista Fabio Bentes, da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC).
Bandidos matam três médicos e ferem um quarto em quiosque na Barra da Tijuca
Para este último semestre de 2023, Alfredo Lopes, presidente do HotéisRIO, afirma que se estimava a ocupação da rede hoteleira entre 72% e 75%, acima dos 68% do mesmo período do ano passado. Essa expectativa, no entanto, já é posta em xeque, diz ele, induzida pela violência contra os médicos e ainda pelo adiamento, na quarta-feira, do envio da Força Nacional para o Rio.
— Vai depender. E a rapidez com que a polícia desvendar o motivo do crime pode influenciar. Não elimina a tragédia. Mas dá respostas à sociedade, demonstrando que houve uma investigação eficiente — diz Alfredo, ao destacar que é o mercado nacional, sobretudo de São Paulo e Minas, que lota a cidade.
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O Visit Rio Convention Bureau é outra entidade a reforçar que as forças de segurança “devem agir com celeridade e rigor nas investigações para identificar, prender e punir os criminosos”. Lopes lembra que o Rio está em plena temporada de congressos, com cerca de dez deles agendados até o fim do ano, muitos na área médica. Agora, confirmar a presença de quem pretendia viajar para esses eventos pode estar condicionado a uma melhora na percepção da segurança. Só na rede de hotéis Windsor, na Barra, onde ocorria o congresso do qual participavam os médicos que acabaram mortos, há também um encontro de fonoaudiologia esta semana, além de quatro eventos do tipo programados até novembro.
Infográfico — Foto: Reprodução
Reversão possível
Professor do Departamento de Turismo da Uerj, Vitor de Pieri diz, no entanto, que os assassinatos na Barra podem dificultar a captação de novos congressos e feiras. Mas ressalta que, seja no turismo de lazer ou negócios, a violência não é o principal fator que atrapalha a atração de visitantes, principalmente internacionais, para a cidade e o país.
— O grande problema continua sendo nossa distância dos países emissores do turismo, como Estados Unidos, China e os da União Europeia. O que aconteceu na Barra repercute internacionalmente. Mas o México, por exemplo, é um dos países mais violentos do mundo, em função do narcotráfico. E recebe nove vezes mais turistas internacionais do que o Brasil — diz ele.
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A forma como é feita a promoção do destino mundo afora também é importante, afirma o professor, que avalia como eficazes ações recentes da Embratur. Ele cita o aumento da entrada de estrangeiros no país este ano: de janeiro a julho, 3,65 milhões, mais do que 2022 inteiro.
Para especialistas e representantes do mercado, a promoção contínua pode ser um antídoto contra revezes como o desta semana. Mas também são chaves o reforço no policiamento, o êxito de programas como o Segurança Presente (com uma das suas bases na Barra) e a manutenção na queda de índices como o de homicídios.
Nacionalmente, no ano passado o Ministério do Turismo lançou o programa Turismo Seguro, com 59 ações para contribuir com o posicionamento do Brasil como destino seguro. Entre as medidas estava a criação de um diagnóstico de segurança turística e de indicadores precisos sobre o tema, além do mapeamento de delegacias especializadas.
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Já a Embratur ressalta pesquisas importantes que leva em conta a promoção internacional do Brasil e do Rio. Uma delas, feita pela Fecomércio RJ com turistas estrangeiros na área de embarque do Aeroporto do Galeão, em março deste ano, apontou que, para eles, a sujeira e o trânsito foram aspectos mais negativos do que a insegurança.
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Outra pesquisa, da Mabrian Technologies, plataforma espanhola especializada em análise de dados de turismo, calculou o Índice de Percepção de Segurança (PSI) dos visitantes no país de maio a julho de 2023. E também sinalizou que é possível reverter estragos da violência na imagem nacional. Pelo levantamento, o Brasil apresentou consistência e crescimento na percepção de segurança, atingindo 96,7 pontos em julho, o que é classificado como “excelente”. Entre as capitais pesquisadas, o Rio ficou atrás de Recife, Porto Alegre, São Paulo e Salvador. Alcançou 80,91 pontos, ainda assim, considerado “excelente”, por estar acima dos 74 pontos. No período, o maior valor alcançado pela Colômbia, por exemplo, foi de 80,1 pontos no indicador de satisfação.
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