Nascida a partir de duas máquinas de meias adquiridas pela família, anos depois da morte do patriarca joalheiro na epidemia de febre amarela do fim do século 19, a Lupo completou cem anos no mês passado.
Quando a Covid-19 chegou, a empresa improvisou uma produção de máscaras para doar, o que desencadeou uma linha para vender. Hoje, fabrica 250 mil unidades por dia, com fila de espera até junho, segundo Liliana Aufiero, herdeira e presidente da Lupo.
“Eu preferiria que não tivesse fila de espera e acabasse a pandemia. Corta a produção”, afirma.
Vacinada, ela diz que não usa máscara ao ar livre, e que, por isso, compreende a postura de Bolsonaro quando ele aparece em público sem a proteção. A Lupo teve de parar a fábrica em Araraquara, cidade que fez lockdown para conter o vírus, mas Aufiero questiona a eficácia da medida.
(…)
Em Araraquara, o lockdown teve resultado positivo.
Será que esse resultado positivo se deveu ao lockdown ou a tendência era reduzir porque as medidas de distanciamento e de não aglomeração já estavam sendo aplicadas? Não sei responder isso. É difícil. Que tinha gente na fila tinha, porque a gente perguntava na Santa Casa. Estava desesperador. Se foi o lockdown que melhorou, não sei responder.
(…)
Como vê o exemplo de Bolsonaro sem usar máscara?
Fico pensando nisso. Eu também ando sem máscara, mas com consciência, quando eu estou sem ninguém do meu lado. Será que não foram com consciência os momentos sem máscara? Eu vi vários com máscara. É difícil julgar. Senão, eu volto contra mim também.
Ele fez aglomerações sem máscara.
Sim. Eu tive aqui uma pessoa que disse que não usa máscara porque já teve Covid. Ele já teve. Então, se ele interpreta que já está com anticorpo, e tem essa parte gostosa de se aproximar das pessoas, é difícil fugir daquilo de que se gosta e se faz normalmente.
Por exemplo, eu abraço minha neta. Às vezes me pergunto se é errado. Mas é tão gostoso estar perto dela. Será que eu não devia? Difícil julgar.
Como avalia o governo Bolsonaro do ponto de vista sanitário e econômico?
Do econômico, posso dizer que fiquei muito entusiasmada. Desde o começo, ele falou que de economia não entendia muito, mas tinha o Paulo Guedes com todo esse conhecimento. No começo ele conseguiu alguma coisa. Mas veio a pandemia."