Coreia do Norte celebra 70 anos de armistício com exibição de mísseis proibidos a ministro russo

Coreia do Norte mostra armas proibidas a Choigu, em 1ª visita de um chefe da Defesa da Rússia desde fim da União Soviética

Kim Jong-un recebeu nesta quinta (27) o chefe russo da Defesa, Serguei Choigu, para as celebrações do 70º aniversário do fim da Guerra da Coreia (1950-1953). Na visita, em que, segundo a mídia local, os países prometeram estreitar os laços, o ditador exibiu mísseis balísticos proibidos da Coreia do Norte.

Em meio a um dos períodos mais tensos da relação entre o Sul capitalista e o Norte comunista, Choigu e uma delegação chinesa liderada por um membro do Partido Comunista chegaram nesta semana à nação asiática para a data que marca o armistício assinado em 27 de julho de 1953 para encerrar o conflito.

Para a Coreia do Norte, as passagens marcam a abertura ao mundo desde a Covid —a visita de Choigu representa ainda a primeira de um chefe da Defesa russo desde a dissolução da União Soviética, em 1991.

Juntos, eles visitaram uma exposição de armamentos, de acordo com a agência estatal KCNA, que publicou fotografias de mísseis intercontinentais Hwasong-17 e Hwasong-18. A Rússia, aliada histórica da Coreia do Norte, é uma das poucas nações com as quais o regime de Kim mantém relações amistosas.

Os mísseis com capacidade nuclear foram banidos por meio de resoluções do Conselho de Segurança da ONU, que, ironicamente, tiveram o apoio de Rússia e China. A aliança dos três países, porém, reforça o cenário de rivalidade com os EUA que, para analistas, revive a separação entre blocos da Guerra Fria.

Após o início da invasão russa da Ucrânia, Kim logo ofereceu apoio a Moscou, e recentemente os EUA acusaram o regime norte-coreano de fornecer armamentos para a Rússia, algo que Pyongyang nega.

Park Wong-gon, professor da Universidade Ewha, em Seul, avalia que a Coreia do Norte terá muita cautela caso decida fornecer armas, já que os “países europeus se voltariam contra ela” se isso de fato ocorresse.

Já a China, representada na visita por Li Hongzhong, é a aliada mais importante de Pyongyang e principal fiador econômico da ditadura, numa relação intensificada justamente durante a Guerra da Coreia.

“O povo coreano nunca esquecerá o fato de que corajosos soldados dos Voluntários Populares chineses derramaram sangue para alcançar a vitória na guerra”, disse Kim a Li, de acordo com a KCNA.

O fato de a Coreia do Norte ter convidado delegações estrangeiras, algo inédito desde o início da pandemia de Covid, parece apontar para uma maior flexibilidade nos controles fronteiriços. No início de 2020, Pyongyang impôs um rígido bloqueio, e o comércio com a China só foi retomado no ano passado.

A Coreia do Norte costuma exibir seus armamentos na mídia estatal. Em fevereiro, Kim divulgou fotos do lançamento do Hwasong-17, que caiu na costa do Japão, o que ampliou a tensão na região. Um desfile militar no mesmo mês quis mostrar seu arsenal, com imagens de ao menos 11 projéteis intercontinentais.

Neste mês, o regime ainda afirmou ter realizado um teste bem-sucedido com o Hwasong-18, versão mais moderna da artilharia norte-coreano. O lançamento ocorreu no mesmo dia em que rivais do país asiático se reuniram na cúpula da Otan. O projétil, que caiu no mar após voar por 74 minutos, alarmou o Japão.