Tremembé estreou no Prime Video com a difícil missão de equilibrar ficção, realismo e ética ao retratar criminosos que ganharam fama no Brasil. O projeto nasceu de um extenso trabalho jornalístico e jurídico, que usou técnicas minuciosas para evitar o sensacionalismo e qualquer tentativa de glamourizar os mais diversos crimes explorados na narrativa.
Com direção de Vera Egito e roteiro de Ullisses Campbell, a série explora a convivência dentro da penitenciária entre detentos que ganharam os holofotes após cometerem crimes hediondos. “A linha ética maior é se basear no trabalho do Ullisses, que segue as regras do bom jornalismo e da checagem de fontes”, destacou Vera em entrevista ao Notícias da TV.
Um dos pontos de destaque para que não houvesse uma possível romantização da trajetória dos criminosos por parte do público, como já aconteceu em outras séries que abordam a vida de serial killers, foi não reabrir casos ou revelar segredos inéditos.
Segundo Campbell, todo o material foi construído a partir de informações públicas e registros oficiais. “A gente não explorou nenhum documento sigiloso. A ideia não é reabrir nenhum caso, e sim mostrar como esses criminosos famosos interagiram dentro da penitenciária”, explicou o autor.
Um dos principais cuidados da produção também foi a maneira de rodar as cenas de crime. A diretora ressaltou que as vítimas não aparecem em nenhuma sequência por uma escolha ética da equipe.
“A câmera está sempre voltada para os criminosos. Conseguimos gravar de uma maneira realista, sem expor vítimas em situação degradante”, ponderou ela. O acompanhamento jurídico do projeto reforçou esse compromisso com o respeito e com a não exposição.
Mesmo retratando crimes brutais, Tremembé se distancia do formato tradicional do true crime. Vera Egito afirmou que o foco não é revisitar a vida pregressa dos detentos, mas o que vem depois. “Eles são todos condenados, a maioria réus confessos. Nosso interesse é a vida pós-crime”, pontuou.
A série aborda as intrigas, os relacionamentos e os jogos de poder dentro da prisão, mas sempre com base em relatos e depoimentos já feitos pelos próprios detentos. “Tem uma parte ficcional, mas sempre inspirada em algo real”, descreveu Campbell à reportagem.
Para os criadores, a diferença entre humanizar e romantizar é essencial. “Essas pessoas são humanas, cometeram crimes hediondos, foram julgadas e estão cumprindo pena. Mostrar que elas continuam vivendo não é romantizar”, defendeu Vera.
A diretora também destacou que há ironia e distanciamento na abordagem. A trilha sonora, o ritmo e o tom das cenas contribuem para evitar o tom heroico. “Mesmo esse retrato tem um tom irônico. Cada episódio começa com um crime para lembrar o que essas pessoas fizeram”, explicou.
A estética visual segue o mesmo princípio. A fotografia, a direção de arte e o figurino reproduzem com precisão o ambiente da penitenciária, mas sem carregar o espectador.
“A ideia não era fazer uma série tão pesada que te deixa mal. Queríamos explorar essas mentes insondáveis e sombrias, mas com uma linguagem visual contida”, contou Vera.
Para isso, a equipe se inspirou em cores usadas em prédios institucionais, criando uma atmosfera fria, mas realista. A reconstrução dos espaços foi fiel à realidade, desde os uniformes até a fachada da prisão. “Quando visitei o cenário, levei um susto com a riqueza dos detalhes”, relembrou Ullisses.
