Apontada como uma das maiores vilãs da teledramaturgia brasileira, Odete Roitman pode perder esse status graças ao remake de “Vale Tudo”. Mal chegou à novela, a personagem interpretada por Deborah Bloch ganhou a simpatia e a compreensão dos espectadores que manifestam opiniões favoráveis aos comportamentos da empresária. Odete Roitman virou a malvada favorita do país.
Com certo lamento, as pessoas assumem se identificar com algumas falas e atitudes apesar dos preconceitos enraizados que a personagem expressa. O acolhimento de Odete Roitman por parte do público tem lá sua razão de ser. É difícil não apoiar Odete quando ela incentiva, ainda que de maneira um tanto torta, que o filho Afonso (Humberto Carrão) tome um rumo na vida. Dá para culpar uma mãe que busca o melhor para o filho?
Se antes Afonso poderia ser visto como um jovem manipulável pela mãe, o que fazia com que ele fosse querido por parte da audiência, hoje a falta de firmeza do personagem incomoda um público que não tolera mais tipos excessivamente passivos. É natural que diante dessa apatia do rapaz, Odete soe mais interessante e identificável.
Não bastasse a tolerância zero com quem não sabe o que quer da vida, Odete ainda faz nossos olhos brilharem por não se privar dos prazeres da carne. A empresária tem uma vida sexual ativa e movimentada. Impossível não invejá-la e torcer para que ela siga cada vez mais insaciável para que possamos projetar nela toda essa liberdade de agir e todo o desprendimento que é necessário para ser uma conquistadora em série.
Diante da honestidade imaculada de Raquel (Taís Araújo), que beira à inverossimilhança em alguns momentos, Odete Roitman nos soa mais plausível apesar (ou seria por causa?) dos seus defeitos e praticamente nos obriga a torcer por ela. Odete materializa nossos desejos e pensamentos mais inconfessáveis.
Como novela é uma obra aberta e a releitura de “Vale Tudo” não tem a obrigação de repetir todos os acontecimentos da trama original, não seria má ideia se Manuela Dias optasse por não matar Odete Roitman nessa versão. Contrariar as expectativas é o melhor modo (senão o único) da autora fazer história com sua adaptação de “Vale Tudo”.
O problema é que o texto da Macu tá tão pobrinho que os personagens ficam muito rasos e acaba que as coisas que a Odete fala parecem corretas, principalmente sobre o Afonso
essa novela veio num timing péssimo. ninguém tá com saco pra gente boazinha demais e acaba se identificando com a que não tenta ser perfeitinha, por mais bruaca que seja.