Roberto Sadovski
Colunista do UOL
13/12/2021 17h52
Lady Gaga virou a chave para o “modo atriz” com força com “Casa Gucci”. Deu entrevistas sobre o processo, falou de sua dedicação ao papel, pesquisou e construiu sua versão da mulher que mandou matar o marido rico.
Os frutos do esforço começam a surgir, com indicações de sua performance para concorrer ao Globo de Ouro e à premiação do Critic´s Choice. Outras virão. É um sucesso. É, também, uma vitória do marketing. Puro e simples. O motivo é igualmente simples: Lady Gaga não é isso tudo como atriz.
O que não quer dizer, obviamente, que ela não tenha espaço para aprender. Mesmo antes de Lady Gaga ser… err… Lady Gaga, ela já flertava com outras expressões artísticas. Faz sentido. Sua carreira como cantora sempre apresentou o combo do vozeirão poderoso com a performance hipnótica. Ela nunca foi uma coisa só e deixou claro desde o princípio.
O FATOR MADONNA
Precisava, claro, de tempo e oportunidade. Afinal, o histórico de cantoras pop que cruzam a ponte para as artes dramáticas é, para dizer o mínimo, errático. Para cada Barbra Streisend e Cher no mundo, temos um dose de Britney Spears (eu vi “Amigas Para Sempre” e sobrevivi), Mariah Carey (ok, “Preciosa” limpou o palato depois de “Glitter”, mas parou ali) e Christina Aguilera (“Burlesque” é dose).
E nem vamos falar de Madonna, que é provavelmente a artista pop mais importante da história e, ao mesmo tempo, uma das atrizes mais desastrosas de todos os tempos. “Evita” foi o ponto fora da curva em uma carreira que ela sempre era o ponto baixo até em bons filmes como “Dick Tracy”, “Uma Equipe Muito Especial” e, claro, “Procura-se Susan Desesperadamente”. Depois de “Sobrou Pra Você” e “Destino Insólito”, ela pediu o boné e não voltou para para a frente das câmeras.
O PODER DO MARKETING
A indústria do cinema, porém, é também regida por marketing. A temporada das premiações, especialmente nestes tempos em que o medo do Covid começa a esmorecer, é importante para lembrar ao público o quanto a experiência do cinema é bacana. Para isso, ancorar-se em nomes conhecidos é uma boa política.
Assim, Lady Gaga chegou à lista de indicadas ào prêmio de melhor atriz no Globo de Ouro (que não quer dizer muita coisa). E também garantiu espaço na seleção do Critic´s Choice (que já tem mais peso). Não será surprendente uma vaga no SAG Awards (o prêmio dos atores) e até no Oscar.
Mas acho que estará de bom tamanho. Para que ela tenha seu trabalho mediano premiado, Lady Gaga terá de bater atrizes (de verdade) como Olivia Colman (“A Filha Perdida”), Kristen Stewart (“Spencer”), Nicole Kidman (“Being the Ricardos”) e Jessica Chastain (“Os Olhos de Tammy Faye”).
Impossível? Jamais. Improvável? Com certeza. Do lado de cá, estaremos de olho. Torcendo para que Lady Gaga some umas aulinhas de interpretação à sua agenda certamente lotada.