O departamento de dramaturgia da Globo, liderado por José Luiz Villamarim, segue no centro de uma uma série de acusações. Além das queixas por trocar atores experientes por influenciadores e ex-BBBs nas novelas, o setor agora convive com a denúncia de manter uma panelinha nos bastidores.
A reportagem do NaTelinha teve acesso a uma carta distribuída por um produtor de elenco que acusa Francisco Accioly, gerente artístico do canal, de privilegiar um determinado grupo de atores e virar as costas para outros nomes. Por razões óbvios, o nome desse produtor será mantido em segredo.
“Nos últimos tempos, tem-se debatido a suposta ‘panelinha’ de Francisco Accioly na TV Globo. No entanto, pouco se discute sobre a dinâmica interna dessa equipe, que, sob a justificativa de gestão ‘criativa’, aparenta operar como um grupo fechado, com práticas que se assemelham a um cartel. As escalações só agradam a ele mesmo. Relatos apontam para uma atmosfera péssima”, diz a carta.
“O cenário se torna ainda mais preocupante ao se observar o grande número de produtores de elenco que deixaram a emissora e, em seguida, judicializaram suas saídas, processando a TV Globo. Muitos desses ex-funcionários se encontram atualmente sob acompanhamento médico, medicados e demonstram profundo ressentimento em relação à emissora. A ausência de uma investigação formal sobre esses casos é um fator que chama a atenção”, completa.
“Situações recentes, diretamente influenciadas pela gestão vigente, exigem uma análise mais aprofundada. O comportamento dos profissionais contratados por Francisco Accioly merece destaque, pois replicam práticas semelhantes. As novas contratações demonstram uma tendência a priorizar indivíduos de sua confiança pessoal, beneficiando-se de esquemas de favorecimento, o que afeta diretamente a saúde mental dos produtores de elenco”, acusa o documento.
“Práticas como assédio moral e favorecimento no ambiente de trabalho são proibidas pela legislação brasileira. O artigo 483 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) garante ao trabalhador o direito de rescindir o contrato de trabalho com indenização caso seja tratado com rigor excessivo ou exposto a ofensas morais. A Lei nº 13.467/2017, que introduziu a reforma trabalhista, reforça a preservação da dignidade no ambiente de trabalho, vedando práticas discriminatórias e de favorecimento. O assédio moral, caracterizado por humilhações e agressões psicológicas recorrentes, é expressamente vedado pela legislação trabalhista brasileira, conforme previsto na CLT e na Constituição Federal, que asseguram a dignidade humana e o direito a condições de trabalho justas e equitativas. Do mesmo modo, o favorecimento desmedido viola os princípios de isonomia e meritocracia, fundamentais para a construção de um ambiente de trabalho ético e saudável”, lembra o produtor.
“Outro caso que merece destaque envolve uma jovem atriz escalada para a novela Todas as Flores. A atriz mentiu sobre sua idade, conforme confirmado pela produtora da novela, e, apesar de não atender aos critérios estabelecidos para o papel, foi mantida no projeto. Essa situação levanta questionamentos acerca de possíveis favorecimentos. Informações sugerem que ela foi aceita no elenco com base em alegações falsas, o que reforça as suspeitas sobre o tratamento diferenciado dispensado a determinados artistas. A questão da ingerência empresarial por parte de figuras influentes na emissora também merece uma investigação mais aprofundada”, denuncia a carta.
“A recente escalação de atores para produções como Pantanal, Renascer, No Rancho Fundo, Verão 90, Órfãos da Terra, Todas as Flores, Os Dias Eram Assim, Nada Será Como Antes, Ligações Perigosas, O Canto da Sereia, O Rebu, Amores Roubados e I Love Paraisópolis também exige uma análise crítica sobre o modus operandi vigente nos processos de escolha de elenco”, critica, destacando as “figurinhas repetidas” nos elencos dessas produções.
Presidente de sindicato comenta carta e acusa a Globo
Procurado pela reportagem do NaTelinha, o ator Hugo Gross, que é presidente do Sindicato dos Artistas do Rio de Janeiro, comentou a carta assinada pelo produtor de elenco e fez acusações à Globo. “O sindicato recebeu a denúncia dessa panelinha do Francisco Accioly e vai tomar as medidas necessárias”, assegurou.
“Eu fiz um compliance [núcleo para apurar as denúncias] e a resposta foi que não tinha problema nenhum. Logo depois que a gente recebeu essa carta, várias pessoas nos procuraram para falar de um menino que está dando um curso e prometendo colocar as pessoas [matriculadas] em participações [nas novelas]. Ele disse que falou com a direção [da Globo], que concordou. Isso é totalmente desleal e é [uma forma de] assédio, porque você tem que fazer o curso dele ou ser da produtora do Francisco Accioly pra poder trabalhar”, acusou Hugo.
“A gente tem que combater isso. A gente tem vários artistas, como Nívea Maria, Cristiana Oliveira, Ângela Vieira, Totia Meireles e Herson Capri, que são grandes atores e que estão encostados e sem espaço”, lamentou.
“Tem ator que está fazendo a novela das 19h e já está escalado para Vale Tudo. A gente tem que combater essa deslealdade, essa panelinha, esse conluio que existe por um nicho de diretores da TV Globo, que eu tenho certeza que o Paulo Marinho [neto de Roberto Marinho e diretor-presidente da Globo] não sabe disso. Tenho certeza que ele não ia permitir isso”, comentou Gross.
“Essa conduta está corrompendo uma emissora que sempre foi campeã de audiência e que hoje está sendo estraçalhada porque quer colocar [nomes com] seguidores, quer colocar quem tem fotos [com muitas curtidas], quer colocar MCs e não está preocupada com a célula mais importante, que é o ator, com a qualidade das produções, e sim com seguidores”, concluiu o presidente do SATED-RJ.