Caros Bcharters,
Não poderia iniciar essa antologia dominical com uma figura menos emblemática que o Jorge Lafond, ou Vera Verão. Então peço que pausem a exibição da “Prefeita de Sodoma” para ler esse texto redigido por mim e com imagens que podem gerar inúmeros processos para o fórum.
Negro, gay, afeminado e drag queen, Lafond enunciava bordões desde 1974, 50 anos atrás, o que não é distante do que fazemos hoje em dia. Tá megra? Tá baba yaga? A comunidade gay vai girando a roda de novos bordões no pajubá, mas nada que já não era feito ao menos desde meio século atrás.
Em uma entrevista à revista Raça, disse: As pessoas falavam que ser gay era uma coisa muito feia, e eu ficava com a cabeça tontinha. Mas o medo de meus pais descobrirem era tão grande que eu procurava andar na linha e estudar bastante.
E estudou bastante!
Na falta de fóruns, Lafond se formou em teatro pela UFRJ, em teatro pela universidade Castelo Branco e em dança africana e balé clássico se debruçou por mais de 10 anos.
Em 2001 foi convidado a participar da campanha de prevenção a doenças sexualmente transmissíveis pelo Ministério da Saúde, mesmo desagradando a militantes do Grupo Gay da Bahia e do Grupo de Gays Negros da Bahia, pois viam que a personagem estaria emprestando sua imagem de um estereótipo do gay que seria pejorativo. Sim, já naquela época nascia a rede de militantes de twitter no melhor estilo militanizei, que problematiza até um gay emprestar sua arte e trabalho a causas sociais relevantes.
No dia 11 de janeiro de 2003 sofreu infarto fulminante com falência múltiplas de seus órgãos, falecendo. Como homenagem póstuma o G.R.E.S. Acadêmicos do Cubango criou o “Troféu Jorge Lafond” que homenageia os destaques do Carnaval Carioca. Homenagem essa que reforça a imagem do “gay, povo animado”, mas que ao menos faz justiça à alegria do humorista, dançarino, ator, militante e BICHA, SIM!