Volta por Cima tem samba, gente trabalhadora, fofoca, romance, comédia, amizades verdadeiras, tragédia inesperada e até um adorável vilão. É uma novela solar, com alma suburbana, diferentes sotaques e que reflete na tela o que o público vê na vida real. A autora Claudia Souto conseguiu criar uma história que representa bem o brasileiro, que não desiste nunca e está sempre em busca de dias melhores.
Já dá para cravar que a trama, no ar há uma semana, só ganhou com a aposta do diretor artístico André Câmara em um elenco diverso, com protagonistas negros --nos bastidores, os atores falam em “pretagonismo”. As escolhas de Jéssica Ellen e Fabrício Boliveira foram grandes acertos, já que ambos têm maturidade cênica e carisma para atrair o público.
Já no primeiro capítulo, a novela conseguiu apresentar diferentes núcleos, sambar na cara do vilão Osmar (Milhem Cortaz) e ainda criar alta tensão com a tragédia no ônibus conduzido por Lindomar (MV Bill).
Esse foi um golaço da trama, que prendeu o telespectador logo na estreia. Quem viu queria saber o que iria acontecer, e quem não viu ficou curioso.
A cada capítulo, Madá (Jéssica Ellen) e Jão (Fabrício Boliveira) continuam o jogo de sedução entre eles e com o público. Com o flerte gostoso dos mocinhos, não tem como não shippar esse casal. Ambos são heróis bem construídos, e também ficou divertido ver as presepadas de Roxelle (Isadora Cruz), a amante de Chico (Amaury Lorenzo). Muito provavelmente a loira ganhará torcida própria.
Diferentemente de outras novelas, que galopam para contar a história nos primeiros capítulos, Volta por Cima não pegou esse caminho. O que é positivo, pois as últimas tramas que jogaram tudo no ventilador logo de cara ficaram vazias depois, rodando em círculos.
Como a coluna adiantou antes da estreia, a novela tem ingredientes da bem-sucedida Vai na Fé (2023), mas vai além disso. Ambas as histórias fazem um belo retrato da periferia, com pessoas em busca de dar a volta por cima. São sagas com o pé no chão, mas que evoluem a cada dia.
Volta por Cima já mostra assinatura própria e vai se distanciando da trama escrita por Rosane Svartman. O adorável vilão construído por Milhem Cortaz é bem diferente do psicopata Theo (Emilio Dantas) no folhetim do ano passado, assim como o núcleo da Viação Formosa não é como o da faculdade. Nem sempre a primeira impressão é a que fica, não é mesmo?
Volta por Cima se passa na fictícia Vila Cambucá, no subúrbio do Rio de Janeiro, que representa as periferias de todo o Brasil.