Luiza Brunet lembra glórias e perrengues no Sambódromo e elege Paolla Oliveira a melhor rainha dos desfiles atuais

Luiza Brunet posa para ensaio exclusivo da Canal Extra

Luiza Brunet foi uma das importantes rainhas de bateria do carnaval carioca nos 40 anos de Sambódromo — Foto: Danilo Borges

A ativista e empresária posa para ensaio exclusivo da revista Canal Extra — Foto: Danilo Borges

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Luiza Brunet em ensaio exclusivo da revista Canal Extra — Foto: Danilo Borges

Luiza Brunet foi uma das importantes rainhas de bateria do carnaval carioca nos 40 anos de Sambódromo

Na noite do último domingo (dia 4) , Rafa Kalimann abriu o baú de preciosidades de Luiza Brunet: sambou na Marquês de Sapucaí, no ensaio técnico da Imperatriz Leopoldinense, com a fantasia que a modelo, empresária e ativista usou no desfile da agremiação de Ramos em 2011. A atriz, apresentadora, influenciadora e vice-campeã do “BBB 20” vai estrear como musa da atual dona do título do carnaval carioca, escola que teve Luiza no posto de rainha de bateria de 1995 a 2012 — com exceção dos anos 2006 e 2007, quando Luciana Gimenez esteve à frente dos ritmistas da Verde e Branco. Antes, a veterana já havia reinado na Portela de 1986 a 1994 — em 1988, inclusive, marcou presença em cima de um tripé, grávida de sua primogênita, Yasmin, participante do “BBB 24”.

— Mas meu primeiro desfile foi em 1983, na Beija-Flor de Nilópolis, a convite do (carnavalesco) Joãosinho Trinta. Vim como destaque da escola, num carro baixo, do qual eu descia por uma escadinha e cumprimentava o público. Na época eu já era famosa como modelo, só que aquela experiência era algo impensável na minha vida. Foi muito especial — relembra a sul-mato-grossense, que aportou no subúrbio carioca ainda menina: — Morei em Inhaúma e depois em Pilares. Tenho memória afetiva dos bate-bolas, mas confesso que aqueles palhaços me provocavam certo medo (risos). Quando me casei (com o engenheiro Gumercindo Brunet, em 1980) vim morar na Zona Sul, e assim conheci o universo fascinante das escolas de samba.

Um ano depois da primeira vez de Luiza, era inaugurado o Sambódromo, que completa 40 anos.

— Eu gosto da coisa meio naïf (termo usado nas artes plásticas para definir algo “ingênuo”, “instintivo”). Mas é inegável que essa foi uma transição importantíssima para a tradição cultural brasileira aos olhos do mundo. A partir daí o carnaval carioca pôde mostrar toda a sua potência, tinha estrutura e conforto para brilhar — opina.

Ela também contrapõe as glórias pessoais vividas na Passarela do Samba aos obstáculos por vezes experimentados.

— Quando chovia, eu precisava tirar as sandálias e sambar descalça, pra não escorregar. Debaixo d’água, todo o glamour ia embora, a maquiagem escorria. Mas o show tinha que continuar, eu precisava permanecer maravilhosa até o fim. Também já tive uma fantasia de onça queimada em incêndio no barracão da Portela (em 2011). Improvisamos outra, mas a original era muito mais sofisticada… — recorda-se: — Eu tenho um respeito e um afeto imensos pelas costureiras que bordam essas peças à mão, com swarovski. Por isso guardo as fantasias com todo o cuidado, em caixas, organizadinhas. Elas contam uma emocionante história de quase 30 anos de Avenida. Quando eu não estiver mais aqui, não sei o que será feito delas. Mas, por enquanto, eu as empresto para fotos, ensaios técnicos, teatro, exposição…

Nos anos 80 e 90, em que os corpos eram exibidos sem pudores na Sapucaí, Luiza brilhava com elegância.

— Eu sempre fui mais conservadora para me vestir. No meu último desfile (ano passado, no centenário da Portela), quase fui de burca (risos) — exagera a contemporânea de musas como Monique Evans e Luma de Oliveira: — Há 40 anos, era comum ver topless, mulheres com biquínis minúsculos. Os meus até eram pequenos, mas jamais saí com os peitos de fora. E sempre cobria o bumbum, porque não me sentia confortável em expor demais o corpo. Não via necessidade… Uma mulher com o corpo lindo chama atenção. Mas uma mulher com uma fantasia esplendorosa chama duas, três vezes mais.

Luiza garante que nunca houve rivalidade feminina, na pista ou nos bastidores da folia. Ao menos, de sua parte:

— Minha relação com as outras mulheres, famosas ou não, sempre foi muito amorosa. E sentia que elas também me olhavam com admiração. Jamais desrespeitei o namoro ou o casamento de alguém, e sempre estava acompanhada do meu (segundo) marido nos eventos. Armando (Fernandez, empresário com quem foi casada por 24 anos e teve Yasmin, hoje com 35 anos, e Antônio, com 26) é argentino, mas sempre amou o carnaval. Ele me apoiava, curtia comigo, não tinha ciúme.

Referência para as rainhas de bateria atuais, ela se sente orgulhosa do legado deixado e honrada ao ser reverenciada na Sapucaí.

— Fico tão feliz quando estou nas frisas dos camarotes e as meninas vêm me cumprimentar… Acontece com a Luma também. A gente tem que entender que o tempo passa. Nós já aproveitamos o nosso momento, o glamour dele, o espaço que tivemos na mídia. É muito importante ter sororidade. Eu elogio todas elas, as exalto no meu Instagram. Erika Januza (atriz, rainha de bateria da Unidos do Viradouro), meu Deus, que espetáculo é essa mulher! Mayara Lima (da Paraíso do Tuiuti), como samba! Viviane Araujo (da Acadêmicos do Salgueiro) teve filho e voltou ainda melhor pro carnaval! Quando eu a conheci, ela nem desfilava como rainha… Era muito diferente, magrinha, uma menina muito simples que me pedia para tirar foto com ela e vivia acompanhada por um rapaz que usava roupas semelhantes às dela. Viviane lutou muito para conseguir o seu espaço, merece todo o meu respeito. E Paolla Oliveira (da Acadêmicos do Grande Rio) é extraordinariamente linda! Tem um gingado alucinante, um charme… É perfeita na Avenida. Pra mim, ela é a número um atualmente. Toda essa polêmica em torno da forma física dela só agregou valor às mulheres reais. O recado foi dado: “Este é o meu corpo, estou maravilhosa, falem o que quiserem”.

É assim também que Luiza se sente aos “quase 62 anos”, como ela mesma gosta de frisar.

— Não escondo a minha idade, faço aniversário no dia 24 de maio. Eu me olho no espelho e acho meu corpo perfeito. Não tenho vergonha dele. Só me cubro mais porque fico confortável dessa forma, em vez de usar saia curta e decotão. Mas eu me sinto maravilhosa aos quase 62 anos, e não tenho a menor vergonha de falar isso. Eu me acho mesmo (risos)! — delicia-se a eterna musa, afirmando: — Modéstia à parte, nunca fui criticada pela minha aparência. Fui considerada símbolo sexual, uma das mulheres que mais posaram de lingerie e nua para revistas… Quando fui para o exterior participar de desfiles de alta costura, era chamada de “corpo santo”, porque minhas medidas eram ditas perfeitas para a moda: 1,76m, 60cm de cintura, 90cm de quadril e 90cm de busto.

Yasmin Brunet não teve a mesma sorte, apesar de ter herdado a beleza considerada “padrão” da mãe. Ainda nos primeiros dias de confinamento no “Big Brother Brasil 24”, a Sereia foi alvo de comentários machistas de Rodriguinho e Nizam sobre a sua aparência. Depois, o pagodeiro passou a jogar piadinhas para a modelo, patrulhando o quanto e o que ela come dentro da casa.

— Eu acompanhei os distúrbios alimentares da Yasmin em outras fases da vida. Quando a pessoa está com compulsão, o pior que se pode fazer é justamente o que Rodriguinho fez. Ele passou de todos os limites, foi constrangedor. No Brasil e no mundo, a gente vê milhões de pessoas obesas, enquanto outras milhões passam fome. Falar sobre isso é, sim, importante, mas não criticando o corpo alheio, dizendo que a menina vai “sair rolando”. Eu percebi que Yasmin começou a ficar muito deprimida. Mandei uma mensagem pra lá, querendo saber como está a saúde mental dela. Estou preocupada… Vejo minha filha apática, dormindo demais. Ela não é assim, é muito ativa. Ama o sol, mas não tem aproveitado os dias bonitos. Percebo que o comportamento dela mudou. Quando Rodriguinho fala, Yasmin já demonstra insatisfação em sua fisionomia, mas não verbaliza. Sinto que ela está fraca — lamenta.

A mãe da loura, no entanto, salienta a importância de o reality show jogar luz sobre assuntos que são menos abordados no dia a dia do que deveriam.

— Se teve uma coisa boa nisso tudo foi o “BBB” trazer à mídia um tema tabu. Yasmin reconheceu no confessionário para todo o Brasil que não conseguia parar de comer, que estava compulsiva. Quem está aqui fora assistindo pode perceber que passa pelo mesmo e tomar uma atitude, buscar ajuda. Muitas meninas já perderam a vida por problemas como bulimia e anorexia, distúrbio de imagem. É preocupante. Assim como acontecia com a violência doméstica, que não era tão falada, quando mulheres começaram a denunciar, a filmar as suas dores e as suas agressões, passaram a ganhar apoio da sociedade. Esse ativismo é a minha missão e a minha profissão atualmente — sublinha ela, contando que o “Big Brother Brasil” também lhe trouxe maior visibilidade: — Meu número de seguidores no Instagram cresceu bastante: passou de 824 mil para 1 milhão e 100 mil. Não sei exatamente qual é a razão disso. Talvez as pessoas que acompanham o programa gostem do que eu tenho falado. Acho que existe uma empatia pela minha pessoa, pela minha luta ou até por ser mãe da Yasmin. Tenho sentido na pele o que é ter uma filha lá dentro, sendo julgada e passando por privações. É dolorido, viu?

Em 2016, Luiza também expôs a sua fragilidade para todo o país ao se mostrar ferida física e emocionalmente. Ela denunciou ter sido brutalmente agredida pelo empresário Lírio Parisotto, com quem se relacionava na época, numa viagem aos Estados Unidos. O bilionário foi condenado a prestar serviços comunitários e a pagar cestas básicas por violentá-la com chutes, socos e pontapés, quebrando quatro costelas suas. A ativista ainda briga na Justiça para provar que mantinha uma união estável com Parisotto, reivindicando a partilha de bens. Há oito anos, desde o chocante episódio, ela permanece solteiríssima.

— Mas não me sinto só. O que eu mais tenho na vida são boas companhias. Estou constantemente cercada por pessoas que, se não são vítimas de agressões, trabalham em prol desta pauta pela qual eu tanto me apaixonei. As viagens que faço palestrando também me distraem, os amigos me confortam. A verdade é que, quando você sofre um trauma desse tipo, de violência doméstica, fica receosa em assumir um novo relacionamento. Eu me sinto como aquele bichinho suricato, sabe? De pé, só observando. Permaneço atenta porque quero me apaixonar de novo. Estou vibrando para isso. Acho que o amor é bem-vindo em qualquer época da vida, não tem idade. Se aparecer alguém que me atraia e não esteja comprometido, quem sabe?

Créditos do ensaio de fotos exclusivas

Fotos: Danilo Borges (@daniloborgesfoto)

Assistência de fotografia: Dudu Morettin (@dudu_morettin)

Estilo: Tina Kugelmas (@tinakugelmas)

Beleza: Andre Veloso/Capa MGT (@andrevelosoreal)

Assistência de beleza: Cristiano Miranda (@mirandacristianohair)

Unhas: Dani Romanenko (@daniromanenko)

Produção executiva: Regina Kotsubo (@reginakotsubo1)

Finalização: Jujuba Digital (@jujubadigital)

a paolla é realmente a maioral

E não mentiu em nada