35 anos depois, Tieta está mais conectada ao Brasil de 2025 do que novelas atuais

A reprise de Tieta chega ao fim nesta sexta-feira (16), no Vale a Pena Ver de Novo, com boa audiência e repercussão, 35 anos após a exibição original. Não é nenhuma surpresa: a novela, clássico da TV que foi ao ar entre 1989 e 1990, segue mais conectada ao Brasil de 2025 que muitas produções atuais da Globo.

Tudo o que as tramas contemporâneas se propõem a ser, muitas vezes sem sucesso, Tieta já era sem precisar de muito esforço nem se autoproclamar. Talvez porque fosse libertária e progressista em sua essência, considerando a trajetória do autor Aguinaldo Silva e que a história original veio da obra de Jorge Amado (1912-2001).

Para falar de sexo quase a todo tempo, há um potente subtexto e um humor rasgado, farsesco. A crítica ao preconceito e às convenções sociais é escancarada, e o roteiro usa o telespectador como aliado, sem subestimá-lo, acreditando em sua capacidade imaginativa e também em seu poder de ler nas entrelinhas.

Perpétua (Joana Fomm), a vilã moralista que usa a religião para enganar e colocar em prática seu ódio e cobiça, é figura mais que conhecida dos dias de hoje. E os casais que melhor representam os bons costumes, como Modesto Pires (Armando Bógus) e Aída (Bete Mendes), são aqueles que sabem esconder seus segredos na alcova.

A forma delicada como é tratada a relação incestuosa entre Tieta (Betty Faria) e o sobrinho Ricardo (Cássio Gabus Mendes) permite que nem o público mais conversador se ruborize. A audiência ainda reage positivamente à história, garantindo um dos melhores desempenhos na faixa de reprises nos últimos anos.

Os discursos que surgem de forma didática no texto são aqueles que não poderiam ser abordados de outra maneira, como a transfobia. Um destaque é a presença da personagem Ninete – em uma participação luxuosa de Rogéria. Presença em apenas alguns capítulos, ela garante um dos melhores entrechos da trama.

A novela tem uma narrativa interessante, quase episódica, em que pequenas histórias ganham destaque de cada vez. O arco dramático da protagonista é lindamente construído: sua “vingança” contra Santana do Agreste é fazer a cidade evoluir, uma revanche muito maior do que qualquer ato contra a população local.

Pela qualidade do texto, da direção e dos atores, Tieta deve agradar sempre que for exibida. O sucesso de uma trama que parece tão ousada para os dias de hoje deveria servir de lição: não há público conservador que resista a uma boa novela. Histórias mal contadas é que afastam a audiência, seja qual for o tema abordado.


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