25 de Dezembro de Simone: O que você sabe sobre o primeiro álbum natalino da história do Brasil e um dos discos gerais mais vendidos de todos os tempos em terras tupiniquins?
Pioneirismo, recorde de vendas, sucesso nacional/internacional e cancelamento esdrúxulo na internet, são alguns dos pontos que encabeçaram o projeto da baiana.
Simone Bittencourt, que completa 75 anos nesta segunda-feira (25), já estreou monstruosa na indústria brasileira. De 1973 a 1995, ela conquistou 10 álbuns platinados no Brasil - mais de 2,5 milhões de vinis vendidos.
Em 1995, Simone desejava sair da Sony Music, sua gravadora, por problemas internos. Mesmo sendo uma boa vendedora de LP’s, ela sofria sabotagem por parte da direção da empresa.
Seu projeto intitulado “Simone Bittencourt de Oliveira”, lançado naquele ano, teve uma promoção pífia por parte da Sony e pedalou para platinar.
Em setembro de 1995, Simone viaja para os Estados Unidos. Num dia aleatório, a diva entrou numa loja de discos e viu centenas de trabalhos natalinos. De Frank Sinatra a Michael Jackson, o país norte-americano sempre foi um bom consumidor de músicas natalinas.
Ela, que farejava inovação, cogitou mergulhar de cabeça no tema. Dias depois, já no Brasil, numa conversa com seu amigo Marcos Maynard, presidente da gravadora Polygram, concorrente da Sony, Simone comentou que queria lançar um álbum natalino.
Marcos rapidamente ligou para Max Pierre, o vice-presidente da Polygram, e pediu para que o executivo fosse até à casa de Simone para uma reunião. Os três profissionais se encontraram e assim nasceu o projeto.
Simone ainda estava ligada à Sony, mas o contrato tinha os dias contados. Com isso, ela fechou com a Polygram e começou a dar vida ao seu futuro álbum de estúdio.
Com receio da Sony descobrir o esquema e colocar algum empecilho para impedir o lançamento do LP natalino, Simone fez tudo escondido. Nem o pessoal do estúdio sabia quem estava na sala gravando.
Quando ela ia ao ambiente de gravação, entrava pelos fundos e seu nome não era tachado na porta (o que é uma regra a ser seguida). Para burlar o esquema, ao invés de pendurar “Simone” nas fichas de controle, eles colocavam “Miss Eno” (uma brincadeira com as sílabas do nome dela).
Simone desejava lançar seu disco antes do Natal de 1995. Como os planos foram organizados já no final de setembro, só restava outubro para as gravações.
Em resumo, necessitava de muita rapidez e precisão. Para isso, mais de um estúdio foi alugado para uma produção que ia desde as gravações dos vocais até a captação dos sons de guitarra, violão, baixo, bateria, teclados, sax, trompete, gaita, flauta e trombone. Era um trabalho riquíssimo em instrumentais.
Um dos estúdios, inclusive, ficava em Los Angeles. Simone se debruçou em frente ao projeto durante 20 dias corridos.
Para o título do álbum, ficou decidido que se chamaria “25 de Dezembro”. Pode soar óbvio por 25 de dezembro ser justamente o dia do Natal, mas o nome também fazia uma alusão ao aniversário dela (25 de dezembro de 1949).
Como era um projeto inédito no Brasil, a gravadora Polygram investiu numa boa divulgação na TV. Durante os comerciais em canal aberto, aparecia uma contagem regressiva que dizia “Falta uma semana”, “Faltam 5 dias”, e assim por diante.
Quando chegou no dia 25 de novembro, Simone apareceu em pessoa nas telinhas para anunciar oficialmente o “25 de Dezembro”. O marketing foi inteligente e pegou todos de surpresa.
Inicialmente a Polygram colocou no mercado 500 mil cópias em vinis, CD’s e fitas cassetes. Esse já era um número consideravelmente alto para aquele ano e as chances das vendas encalharem nas prateleiras eram imensas.
“25 de Dezembro” esgotou em 14 dias. Diante disso, as fábricas intensificaram o processo de produção e mais 1 MILHÃO de cópias foi levado para as lojas. E esgotou mais uma vez.
Em apenas 1 mês, “25 de Dezembro” vendeu 1,5 milhão de cópias físicas e se tornou o disco mais vendido do ano, da década e da carreira de Simone.
“25 de Dezembro” se tornou um marco na cultura brasileira e não só pelo número expressivo das vendas. Ele é antropofágico, modernista até.
A década de 90 vivia a ressaca da efervescência dos anos 80. “Então É Natal”, o single principal do disco, encantou o feriado de milhões e se tornou um clássico inesquecível.
A faixa é uma versão adaptada de “Happy Xmas” de John Lennon. Composta originalmente no início dos anos 70, a música do falecido Beatle citava a Guerra do Vietnã, que encerrava naquela época. Por isso ele cantava os trechos “E então Feliz Natal, a guerra acabou”.
Para fazer sentido ao momento de 1995, Simone adaptou alguns trechos. O single trazia uma bela reflexão de vida e é por este motivo que a frase “Hiroshima, Nagasaki, Mururoa” foi incluída - cidades que enfrentaram grandes desastres pelas mãos dos homens.
Além de “Então É Natal”, “Sino de Belém”, “Jesus Cristo”, “Natal das Crianças” e “Noite Feliz” também fizeram sucesso e foram trilhas em milhares de lares.
Ao se tornar um dos discos mais vendidos de todos os tempos, novos olhares começaram a surgir sobre a música “Então É Natal”. Simone começou a apanhar dos críticos incansavelmente. O motivo? Não tinha.
Enquanto lá fora os estadunidenses e europeus idolatravam faixas natalinas e davam um tratamento carinhoso, no Brasil as revistas sentavam a chicotada em Simone e a taxavam de brega e insurportável. De repente a música mais vendida da década passou a receber um hate que era alimentado por críticos maldosos.
O ódio por uma canção se tornou tão intenso e desproporcional que em 2013 a internet organizou a campanha “Natal sem Simone”.
Com fotos que tampavam a boca da baiana, internautas imploravam para Simone sumir da mídia e parar de cantar “Então É Natal”. No Twitter pediram a cabeça de Simone (literalmente).
Quando ela ficou sabendo que estavam desejando sua morte por uma simples canção, Simone se sentiu profundamente magoada. “Lamento que se pratique esse ato violento em relação a uma música que o povo brasileiro ama e adora. A gente vive em um país que deveria ser democrático e não está sendo. É um ato ditatorial. É uma lástima. A gravação é tão bonita, a letra é bonita”, lamentou ela.
Mais tarde, em entrevista com Pedro Bial, Simone desabafou: “Eu sofri bullying com ‘Então é Natal’ (…) A música tocou tanto que uma geração que não me conhecia, não conhecia a minha história, foi influenciada por pessoas que não queriam que acontecesse essa coisa boa que aconteceu comigo, porque há pessoas que têm raiva do sucesso do outro”.