A última semana foi marcada por algumas das violências mais mortais na Síria desde o início da guerra civil em 2011, após a derrubada de Bashar al-Assad em dezembro de 2024. O principal gatilho foi uma série de ataques coordenados, iniciados por volta de 6 de março, por remanescentes dos lealistas de Assad, predominantemente da seita alauíta, contra o novo governo liderado por islamistas controlado pelo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), sob Ahmed al-Sharaa (Abu Mohammed al-Jolani). Esses confrontos eclodiram no noroeste da Síria, particularmente nas províncias costeiras de Latakia e Tartous, redutos tradicionais dos alauítas.
Em 6 e 7 de março, os combates escalaram dramaticamente. Lealistas de Assad atacaram postos de controle do governo e áreas civis, matando pessoal de segurança e desencadeando assassinatos por vingança em larga escala. Milícias sunitas, algumas afiliadas ao Ministério da Defesa do novo governo, retaliaram contra comunidades alauítas, resultando em massacres. O Observatório Sírio para os Direitos Humanos (SOHR) relatou mais de 1.000 mortes em apenas dois dias, incluindo cerca de 745 civis — a maioria alauítas — mortos em execuções a curta distância, além de 125 forças de segurança do governo e 148 combatentes afiliados a Assad. Vídeos circulando online mostraram cenas horríveis de execuções e corpos empilhados, especialmente em cidades como al-Mukhtariya, onde mais de 40 foram mortos em um único incidente.
O governo interino respondeu impondo toque de recolher, enviando milhares de reforços para o litoral e formando um comitê em 9 de março para investigar a violência, que atraiu condenação internacional. Ahmed al-Sharaa pediu às suas forças que evitassem abusos e apelou por calma, mas a situação expôs a fragilidade do controle do HTS três meses após a queda de Assad. Entre 8 e 9 de março, uma calma relativa teria retornado a algumas áreas, com as forças de segurança confiscando bens roubados dos remanescentes do regime, embora a tensão permanecesse alta.
Em outros lugares, houve outros desenvolvimentos. Em 5 de março, a Defesa Civil Síria relatou bombardeios de artilharia pelas Forças Democráticas Sírias (SDF), lideradas por curdos, perto da vila de Marma Al-Hajar, no leste de Aleppo, sem vítimas civis. No mesmo dia, eles destacaram o impacto contínuo de pontes destruídas em Hama por bombardeios anteriores do regime de Assad e da Rússia, afetando a vida civil. Em 7 de março, um incidente trágico no sul de Idlib viu três crianças mortas por uma mina terrestre deixada pelo regime de Assad, evidenciando o perigo persistente de restos de guerra.
Além do litoral, unidades do Exército Nacional Sírio (SNA), apoiadas pela Turquia, teriam cruzado para Idlib para apoiar o HTS, enquanto forças SDF foram avistadas perto dos subúrbios de Aleppo. No sul, forças drusas entraram em confronto com o HTS no interior de Damasco, removendo suas bandeiras e afirmando controle local, sinalizando uma resistência mais ampla à autoridade do novo governo. Israel continuou seu envolvimento militar, bombardeando alvos no sul da Síria nos últimos dias, com o primeiro-ministro Netanyahu exigindo a desmilitarização da região em meio à expansão de Israel nas Colinas de Golã.
A violência agravou uma situação humanitária já catastrófica. A ONU observa que mais de 16,7 milhões de sírios precisam de ajuda, com 90% vivendo na pobreza e 12,9 milhões enfrentando insegurança alimentar. O deslocamento aumentou, com milhares fugindo dos últimos confrontos. Internacionalmente, a Suíça aliviou sanções aos setores de energia, transporte e bancário da Síria em 8 de março, refletindo dinâmicas em mudança pós-Assad.