Em julho do ano passado, Alice Wegmann publicou um textão em suas redes sociais, desabafando sobre o crescimento do número de influenciadores digitais na TV. “Uma marca recentemente me procurou porque disse que ‘meu feed era bonito’, mas sequer sabia o que uma atriz representa pro seu país. Carreira se constrói a longo prazo, bons atores são aqueles que permanecem. Ainda tô entendendo como conciliar a minha verdadeira profissão e essa segunda profissão que o mundo me obrigou a ter”, disse em um trecho. Nove meses depois, a atriz com 2,7 milhões de seguidores no Instagram e 584 mil no X dá vida a Solange Duprat, diretora criativa da agência de conteúdo Tomorrow, que projeta campanhas e, consequentemente, a carreira de “influencers” em “Vale tudo”.
— Confesso que se eu, Alice, não precisasse desses números, me distanciaria desse universo. Mas conto com as redes sociais para fazer o meu dinheiro, para aumentar o alcance do meu trabalho. Quero usar isso a meu favor, e acho que a Solange tem apurado o meu olhar para o que vale ou não postar. Porque eu gosto muito de mostrar às pessoas o que eu leio, o que ouço, as fotos que faço, os textos que escrevo… Mas equilibrar prazer e obrigação se faz necessário — reflete a atriz.
Em janeiro deste ano, Alice compartilhou nos stories uma reportagem que revelava cachês astronômicos de celebridades em contratos polêmicos com empresas de apostas, as chamadas bets. Ela conta que já negou diversas propostas para vincular sua imagem a marcas com que não se identifica:
— Aconteceu muitas vezes. Se não acredito, não faço. Saber a quem se aliar faz parte da carreira. E ter a chance de escolher trabalhos, no Brasil em que a gente vive, é um privilégio. Eu penso muito nos meus valores, nos meus ideais, no que eu entendo como ética e moral. Não vale tudo na produção de conteúdo pelo dinheiro — enfatiza.
A personalidade forte é também característica da descolada e charmosa ruivinha do horário nobre da TV Globo. Alice diz que se “identifica 100%” com o jeito de Solange, que mais à frente, na trama, vai enfrentar os ardilosos Maria de Fátima (Bella Campos), Odete Roitman (Debora Bloch) e Marco Aurélio (Alexandre Nero).
— Eu sou firme quando tenho que ser. Digo “não”, imponho limites… Acho que eu e Solange somos bem parecidas — compara, detalhando os vários pontos em comum com a personagem que defende no remake de “Vale tudo”: — Nessa nova versão, a casa da Solange fica no Horto, onde eu também moro. Ela usa muito vintage, roupas de brechó… Eu adoro esse estilo, particularmente, e moda, em geral (foi a própria atriz quem produziu os looks para o ensaio de fotos desta matéria). Ela é formada em Comunicação Social, assim como eu. O melhor amigo de Solange é o Sardinha (Lucas Leto), o meu é o (cantor) Francisco Gil, filho do (ator) Otávio Muller, que interpretou o Sardinha na primeira versão da novela. São muitas as coincidências que me fazem ter a certeza de que era para eu estar aqui nesse lugar, fazendo essa personagem, com essas pessoas. Sinto que os astros se alinham pra gente achar certos papéis, sabe? E eu me sinto muito pronta para fazer a Solange agora, como eu não me sentiria há dois anos, por exemplo. Tenho uma segurança, uma sabedoria, um olhar estético mais apurado.
A carioca, que completa 30 anos de vida em novembro e 15 de Globo — ela estreou na TV na 18ª temporada de “Malhação”, em 2010 —, conta que o convite para o papel veio da autora Manuela Dias, que adapta a história originalmente escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères nos anos 80.
— Trabalhei com a Manuela em “Ligações perigosas” (2016), quando eu tinha 19 anos, e em “Justiça 2” (2024). Foi quando ela me falou dessa novela. Muito tempo depois, eu estava gravando um filme no Pará, e a Manu me ligou: “Olha, eu queria que você fosse a nossa Chérie” — detalha a atriz, citando a expressão (“querida”, em francês) mais usada por Solange: — Na mesma hora, eu aceitei, claro! O fato de ela ter me chamado para um terceiro trabalho juntas é a prova de que confia no que eu entrego.
Quando esta que é considerada “a novela das novelas” foi ao ar pela primeira vez, em 1988, Alice nem havia nascido. Mas “Vale tudo” fez história na teledramaturgia, arrebatando milhões de telespectadores — entre eles, sua mãe, Adriana, que elegeu a trama como sua favorita. Não demorou, portanto, para chamar atenção da futura atriz.
— Essa é uma novela que sempre esteve presente no imaginário coletivo dos brasileiros. Não só pela pergunta “quem matou Odete Roitman?” sendo repetida ao longo de três décadas, mas por tudo o que ensinou com seus personagens inspiradores. Eu sempre soube da importância de “Vale tudo”. Via cenas soltas na televisão ou na internet e sempre tive a curiosidade de acompanhar. Aí, quando veio o convite, quis assistir pelo menos aos cinco primeiros capítulos para entender a atmosfera, saber do que se tratava, enfim. Só que eu me apaixonei e já estou no 84º — entrega.
Na intenção de “ver sem querer copiar ou se comparar, sem a necessidade de fazer igual ou ser melhor”, Alice diz que, simplesmente, admira a presença de Lídia Brondi, intérprete da outrora produtora de moda na novela original:
— Quero honrar essa mulher e tudo o que ela fez. E, agora, emprestar o meu olhar sobre o mundo e os meus trejeitos para Solange. Como é que se mistura tudo num caldeirão para se criar uma nova versão? Olhando para trás e trazendo para o presente tudo o que carrego enquanto pessoa. Está sendo um desafio supergostoso! — celebra Alice, que adotou a cor e o corte de cabelo que Lídia usou na época, mas ainda não teve a oportunidade de conhecê-la: — É uma vontade enorme que tenho! Estou certa de que esse encontro vai acontecer na hora em que tiver que acontecer. Mas espero que, de alguma forma, ela já esteja matando um pouquinho da saudade dessa personagem e podendo sentir novamente o gostinho do que viveu pelo que a gente tem feito no ar.
Primeiros intérpretes do icônico casal Solange Duprat e Afonso Roitman, Lídia Brondi e Cássio Gabus Mendes se conheceram em “Vale tudo” e ainda trabalharam juntos em “Tieta” (1989) — atualmente reprisada pela Globo, à tarde, no “Vale a pena ver de novo” — e “Meu bem, meu mal” (1990). Mas foi somente em 1991 que o romance se transpôs da ficção para a realidade, e os dois se casaram. Enquanto ele permanece na carreira artística, ela se afastou dos holofotes e se tornou psicóloga. A ex-atriz leva uma vida muito discreta, nem rede social tem.
— Eu já passei pelo Cássio nos corredores dos Estúdios Globo, é um cara que eu admiro muito. Adoro esse casal! Acho muito legal que eles se mantenham juntos por tantos anos — conta Alice.
Desde que sua parceria com Humberto Carrão foi anunciada na nova novela e os primeiros vídeos e fotos da dupla foram publicados, tem brotado um sem-número de mensagens na internet, ressaltando a sintonia entre os dois e torcendo para que o namoro vingue também fora de cena. Ambos afirmam que o que existe é uma grande amizade, mas os elogios trocados publicamente e um “meu amor” escrito por ele num comentário de post dela acabam reforçando a expectativa pelo “match”.
— Estou solteira! — garante Alice: — É muito legal perceber que a gente tem essa química, esse poder de convencimento e encantamento. É um reflexo de que o nosso trabalho está sendo bem-feito. Solange e Afonso formam um casal superastral! Eles se apaixonam, são muito diferentes entre si. Ela é uma mulher muito trabalhadora. Ele é bilionário, então consegue aproveitar e desfrutar mais da vida, do tempo livre, coisa que falta a ela. Fica esse dilema. Mas os dois se olham com paixão. Não tem como não torcer por esse casal!
Alice é só elogios para Carrão, com quem tem convivido por pelo menos dez horas diárias, desde que as gravações de “Vale tudo” começaram.
— Estou tendo um reencontro bonito com ele. A gente fez uma outra novela das nove junto, “A lei do amor” (2016). Coincidentemente, naquela época, eu tinha essa franjinha no meio da testa (risos). Éramos outras pessoas! Tão novinhos… Ele também tinha mais bochechas, cara de criança. E agora está sendo muito especial — relata, continuando: — Carrão é um homem que eu admiro muito, fez trabalhos incríveis. Mas não só por isso. Ele é um parceiro generoso, que troca, que brinca, que valoriza a equipe. É um cara cuidadoso com quem está à sua volta, coisa que eu prezo muito. Além de decorarmos o texto, temos que olhar para os lados. E ele faz isso com maestria, sabe? Nas folgas, a gente se reúne em rodas de samba… Ele é um cara muito pé no chão, e isso me inspira. Eu trabalharia com ele para sempre!
Em breve, na trama, Solange levará uma rasteira de Maria de Fátima, que vai armar com César (Cauã Reymond) para afastá-la de Afonso e lhe tomar o namorado rico. Alice confidencia que também já foi traída por amigas.
— É muito decepcionante… Acho que foi quase mais doído do que ser enganada por namorados. Na vida, costumo colocar as amizades no topo das coisas mais importantes — diz.
Em “Vale tudo”, Alice também tem a chance de contracenar com outro grande amigo, João Vicente de Castro, intérprete de Renato, que na história é chefe de Solange na Tomorrow.
— João é uma das pessoas que eu mais amo na vida! Fomos apresentados pela Fê Paes Leme num show no Circo Voador há oito anos e, desde então, nunca mais nos desgrudamos. A gente se confessa sentimentos que às vezes temos vergonha de falar para os outros. Acho bonito insistir, cuidar de uma relação que parecia defeituosa — observa ela, confirmando que os dois já foram mais do que bons amigos: — Um vídeo de réveillon da Paula Lavigne, na casa dela e do Caetano, expôs a gente (risos). Mas tem mais de seis anos que não ficamos.
Tomorrow (“amanhã”, em inglês), aliás, é um nome bem sugestivo… O que será que a jovem Alice Wegmann pensa para o seu futuro?
— Tenho muita vontade de fazer um filme ou uma série em outra língua. Ainda este ano, pretendo lançar um livro que estou escrevendo. São histórias aleatórias, que eu vivi ou ouvi. E, ainda não sei quando nem como, quero ser mãe. Planejo congelar óvulos depois que a novela acabar para não me preocupar, se eu quiser ter filhos com 35 ou 40 anos, de maneira solo ou formando família. Mas eu sou romântica, sonhadora, tenho muita vontade de construir a vida ao lado de alguém. Vislumbro uma história a dois mais profunda e verdadeira do que as que já vivi até então — deseja.
Esse alguém especial pode ser, inclusive, uma mulher.
— Ter me apaixonado só por homens até hoje dificulta muito a minha vida, a verdade é essa. Porque eu sou aberta à fluidez da vida. A gente não é uma coisa só. Não vou forçar nada, não vou me obrigar a ficar com ninguém. Acho que temos que ser honestos com nossas vontades. Me encantar por uma mulher ainda não aconteceu, mas pode acontecer um dia. E acho que eu vou estar de bem comigo para viver essa relação, se eu quiser — observa a escorpiana, que não se autodefine bissexual: — Se eu falar que sou, vão me chamar de “bi festinha”. Também prefiro não me classificar como hétero. Sou uma pessoa que tem desejos e que se redescobre a cada dia.