Gripe aviária: Brasil pode deixar de exportar até US$ 200 milhões em frango
Embarques para China, UE, Argentina, Uruguai e Chile estão suspensos após confirmação de foco em granja comercial em Montenegro-RS
O Brasil pode deixar de exportar de US$ 100 milhões a US$ 200 milhões de frango e derivados em um mês em virtude das suspensões temporárias às exportações, após a confirmação do primeiro caso gripe aviária em uma granja comercial. A estimativa é do Ministério da Agricultura.
O cálculo considera um impacto de 50 mil a 100 mil toneladas que podem deixar de ser exportadas em um mês ao preço médio praticado no mercado internacional de US$ 2 mil por tonelada. “É provável que haja um impacto de redução de exportação de 10% a 20% em relação à média de 465 mil toneladas por mês que vêm sendo exportadas em 2025.
Ainda é difícil prever um número fechado porque vai depender de quais países restringirão as compras e por quanto tempo”, disse o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Luis Rua, ao Estadão/Broadcast Agro.
O impacto potencial é calculado com base nos países que deixarão de importar carne de aves e subprodutos de todo o território brasileiro e também naqueles que deixarão de comprar frango e subprodutos provenientes do município ou do Estado onde o foco foi detectado, em Montenegro, no Rio Grande do Sul.
“O impacto vai depender da extensão das suspensões, da flexibilização por parte dos países importadores se irão restringir o embargo à área afetada e da quantidade de países que farão bloqueio total, bem como da rapidez da retomada da normalidade das compras”, observou Rua. “Se a China, principal destino do frango brasileiro, flexibilizar a suspensão à região do foco, o impacto pode ser menor”, pontuou.
Até o momento, estão suspensas as exportações de carne de aves e subprodutos do Brasil para China, União Europeia (UE), Argentina, Uruguai e Chile, segundo o secretário. Ao todo, os embarques do frango brasileiro de todo o território nacional atingem cinco países, após a detecção de influenza aviária de alta patogenicidade em uma granja comercial no Rio Grande do Sul.
Coreia do Sul, México, África do Sul e Rússia tendem a também suspender compras de frango do Brasil em um primeiro momento, prevê Rua.
Redirecionamento das exportações de frango
As suspensões temporárias dos embarques estão previstas nos protocolos sanitários acordados entre o Brasil e os parceiros comerciais, caso da China - principal destino do frango brasileiro.
Já protocolos acordados pelo Brasil com países como Japão, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Argentina, Reino Unido e Filipinas permitem a continuidade de exportação de carne de frango do Brasil, à exceção do município ou Estado onde o caso foi detectado.
Na análise do secretário, parte do volume será redirecionado tanto a outros destinos quanto ao próprio mercado doméstico. “O fato de determinado país não comprar não significa que esse volume não será exportado. Parte significativa da exportação será redirecionada a outros países que permitam e outra parte será direcionada para o mercado interno”, avaliou o secretário.
O cálculo de um mês considera o prazo de 28 dias de encerramento do caso, provável data para retomada dos mercados.
Há expectativa também por parte do governo de que as suspensões totais às exportações de carne de aves e derivados do Brasil sejam temporárias e se revertam em embargos regionais, ou seja, restritos ao raio de 10 km de onde o caso foi detectado, ao município de Montenegro ou ao Estado.
“Nos primeiros dias, haverá um bloqueio maior. Muitos países suspendem o Brasil como um todo como medida de precaução inicial. Quando veem que o caso está contido e recebem mais informações, eles migram para regionalização de raio, município ou Estado”, prevê o secretário. “Iremos fornecer as informações solicitadas e esperamos que isso seja revertido de maneira célere pelos países”, acrescentou.
Demanda global por carne de frango
O Brasil é o maior produtor e exportador de frango do mundo, perfazendo 35% do comércio mundial da proteína. Em 2024, o Brasil exportou 5,157 milhões de toneladas de carne de frango, com receita de US$ 9,742 bilhões.
“Talvez com os bloqueios de exportação, o País volte aos patamares de 2024, que foi um ano recorde”, apontou. Os principais compradores do frango brasileiro no ano passado foram China (13% do total dos embarques da proteína brasileira), Emirados Árabes Unidos (9,7%), Japão (8,8%) e a Arábia Saudita (8,4%).
Rua destacou que a demanda mundial pela carne de frango brasileira está aquecida, já que os principais players estão com plantéis atingidos pela gripe aviária. “O mundo está comprando 9% mais frango do Brasil neste ano com preços maiores em relação ao ano passado, mostrando a forte demanda”, apontou.
Segundo o secretário, no ano passado, mesmo com a gripe aviária em seu plantel, os Estados Unidos exportaram 3,3 milhões de toneladas de frango. “O mundo está se acostumando com essa situação.” Ele esclareceu que a doença não é transmitida pelo consumo de carne de aves e ovos.