Caiado repete Zema, relativiza ditadura e diz que período teve restrições
Governador de GO também afirmou que golpe de 1964 ocorreu diante de quebra da ordem nacional por João Goulart
Pré-candidato ao Palácio do Planalto para as eleições do ano que vem, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), repetiu o chefe do Executivo mineiro, Romeu Zema (Novo), e relativizou a existência da ditadura militar nesta segunda-feira (9).
Ele afirmou, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, que a tensão política à época ocorreu diante do governo João Goulart (PTB) que, segundo o governador, teria quebrado a ordem nacional, o que levou a reações que desembocaram em 1964.
Caiado não respondeu se o período de 1964 a 1985 foi uma ditadura.
Para ele, o momento do país contou com “restrições por atos constitucionais (sic), o AI-5, AI-6, 7, 8, em um período em que aconteceram barbaridades”, e afirmou que é necessário olhar o ano de 1964, momento do golpe militar, “com os olhos de 1964”, sem detalhar o que isso significava.
Caiado afirmou, ao ser questionado sobre a ditadura, que ela ocorreu diante de uma crise institucional criada pela renúncia do então presidente Jânio Quadros (PTN), em 1961, e a ascensão de Jango. Segundo o governador, o presidente tentou estatizar as terras e causou tensão social, o que gerou reação pelo país.
“Foram situações criadas e que provocaram todo esse processo de reação, e que nós viemos para a anistia plena, geral e irrestrita; de um lado havia os militares que praticavam as arbitrariedades, e você tinha os comandos que praticavam os crimes de terrorismo”, afirmou.
O governador goiano ressaltou, entretanto, não haver mais espaço para a reprodução das exceções ocorridas no período. “Isso jamais será reproduzido no país, não tem espaço”, concluiu.
A fala de Caiado repetiu Zema, que afirmou, em entrevista à Folha, que o período militar é uma “questão de interpretação”, e que cabe aos historiadores “debater isso”. O político do Novo afirmou nunca ter se aprofundado sobre o período entre 1964 e 1985.
“Eu prefiro não responder, porque acho que há interpretações distintas. E houve terroristas naquela época? Houve também. Então fica aí. Acho que os historiadores é que têm de debater isso. Eu preciso me preocupar, hoje, com Minas Gerais”, ressaltou o governador mineiro.
**“**Tiveram sequestradores e assassinos que receberam anistia, não foi? Nós temos que olhar para o futuro. Quando você está fazendo política e só procurando atacar, diminuir seus adversários, acho que isso prejudica muito o andamento da gestão.”
O regime militar (1964-1985) teve uma estrutura dedicada a tortura, mortes e desaparecimento. Os números da repressão são pouco precisos, já que a ditadura nunca reconheceu esses episódios. Auditorias da Justiça Militar receberam 6.000 denúncias de tortura. Estimativas feitas depois apontam para 20 mil casos.
Presos relataram terem sido pendurados em paus de arara, submetidos a choques elétricos, estrangulamento, tentativas de afogamento, golpes com palmatória, socos, pontapés e outras agressões. Em alguns casos, a sessão de tortura levava à morte.
Em 2014, a Comissão Nacional da Verdade listou 191 mortos e 210 desaparecidos pela ditadura. Outros 33 desaparecidos tiveram seus corpos localizados posteriormente, num total de 434 pessoas.