Casal gay que inspirou Vale Tudo tem história revelada em detalhes após 37 anos

O casal Marco Aurélio Rodrigues e Jorge Guinle Filho (1947-1987) inspirou o autor Gilberto Braga (1945-2021) a criar uma das tramas da primeira versão de Vale Tudo, que foi ao ar na Globo entre 1988 e 1989. Os detalhes da história real foram revelados, após 37 anos, pelo podcast Rádio Novelo.

Na novela original, Cecília (Lala Deheinzelin) e Laís (Cristina Prochaska) serviram a uma abordagem sobre o direito à sucessão para casais homoafetivos. As personagens eram alvo da Censura Federal, que chegou ao fim durante a trama, com o advento da Constituição.

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A reportagem de Tiago Coelho para a Rádio Novelo frisa que, ao contrário do que já foi dito por atores em entrevistas, a morte de Cecília não foi motivada pela censura nem por uma rejeição do público. Tratava-se de um acontecimento necessário para que o autor desenvolvesse a história que queria contar.

A história de Marco Rodrigues e Jorge Guinle Filho
Em 1987, Marco Aurélio Rodrigues ficou viúvo de Jorge Guinle Filho, herdeiro de uma das famílias mais ricas do Brasil e vítima de complicações da AIDS, em uma época em que não havia tratamento eficaz contra o HIV. Ele havia feito um testamento escondido, deixando todos os bens para o marido.

“Eu só soube depois da existência desse documento. Depois de sua morte, a mãe dele voltou dos Estados Unidos com um novo testamento, que não valia aqui. Os pais dele já falavam da herança no enterro, no qual não pude estar presente.”

Marco Aurélio Rodrigues no podcast Rádio Novelo
Em dezembro de 1988, a Justiça decidiu a favor de Marco, que ficaria com metade dos bens de seu ex-companheiro, incluindo a cobertura no Alto Leblon em que viviam juntos. Na época, o juiz frisou que “o processo evidenciava a participação na vida profissional e afetiva” do milionário.

Na mesma época do processo, na novela, Cecília morria em um acidente de carro, e o testamento deixado por ela não havia sido lavrado em cartório. Mauro Aurélio (Reginaldo Faria) deseja, então, se apossar dos bens da irmã, ignorando o fato de Laís ter sido sua companheira de vida e de negócios com uma pousada em Búzios.

Atualmente, Marco avalia: “O Gilberto escreveu essa trama para me ajudar e para levantar a opinião pública. Era uma novidade. Acredito que a sentença veio a meu favor porque ele fez tudo que pôde. A novela entra nos lares do país inteiro e pauta os assuntos. Eram muitos jornalistas cobrindo no dia da sentença por causa de Vale Tudo”.

A família Guinle recorreu daquela decisão, e a disputa só chegou ao fim em 2018, depois de uma decisão do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que reconheceu Marco como o legítimo herdeiro. Hoje aos 81 anos, ele vive com a mulher, a produtora Alicinha Silveira, no mesmo apartamento onde morou com Jorge.

O episódio Duas Novelas, do podcast Rádio Novelo, revela ainda detalhes inéditos sobre as histórias dos personagens, como o breve envolvimento entre Marco Rodrigues e Gilberto Braga no início dos anos 1980. Depois, o novelista viveria por 48 anos com Edgar Moura Brasil, com quem se casou em 2014.

No remake de Vale Tudo, que a Globo exibe atualmente às 21h, Cecília (Maeve Jinkings) e Laís (Lorena Lima) tiveram a história modificada. Com o reconhecimento de direitos das uniões homoafetivas nas últimas décadas, a trama passou a abordar outros assuntos, como a adoção.

Vale Tudo é escrita por Manuela Dias e tem direção artística de Paulo Silvestrini. O remake é baseado na novela exibida entre 1988 e 1989, criada por Gilberto Braga (1945-2021), Aguinaldo Silva e Leonor Bassères (1926-2004) e que teve direção de Dennis Carvalho e Ricardo Waddington.