Simples, de graça e muito eficaz na proteção contra o vírus HIV. A Profilaxia Pré-Exposição, mais conhecida pela sigla PrEP, consiste na utilização diária de uma combinação de dois medicamentos antirretrovirais (tenofovir + entricitabina), que apresentam composição similar aos usados no tratamento do HIV, que reduz em mais de 90% as chances de uma pessoa se infectar quando exposta ao vírus.
No início de 2023, a introdução da PrEP no Sistema Único de Saúde (SUS).
Dados do Painel PrEP, disponibilizado no site do governo, indicam que 118 mil pessoas começaram a usar a PrEP em todo o Brasil desde 2018, ano de início da oferta. Somente nos três primeiros meses de 2023, foram 12.343 novos usuários. No mesmo período do ano passado, foram 8.393 de 2022.
Os números consolidam o Brasil como líder na América Latina, e, de acordo com especialistas, ajuda a explicar as sucessivas quedas de novos casos registrados de HIV: entre 2019 e 2021, o número de casos de infecção pelo HIV declinou 11,1% no Brasil, com maior percentual de redução nas regiões Sul (15,4%) e Sudeste (15,3%).
No entanto, os dados positivos não escondem as discrepâncias da iniciativa PrEP SUS, como o projeto é chamado no Ministério da Saúde. São Paulo lidera com quase 40 mil iniciações, seguido pelo Rio de Janeiro com 8.302.
Nenhum estado do Nordeste, em contraste, chega perto de 3 mil usuários de PrEP, apesar de ser a segunda região com mais casos de HIV. “Infelizmente, ainda temos muitos municípios que não têm acesso a esta importante ferramenta de prevenção”, explica José Valdez Ramalho Madruga, infectologista e coordenador do comitê de HIV/Aids da Sociedade Brasileira de Infectologia. São apenas 770 unidades de saúde que oferecem a profilaxia, a maioria na região Sudeste.
Ao mergulhar mais fundo, os dados evidenciam ainda mais preocupações. Por exemplo, enquanto as infecções por HIV aumentam entre os menores de 25 anos, 64% dos usuários de PrEP têm mais de 30 anos. Da mesma forma, os indivíduos brancos e com mais escolaridade constituem a maioria (57% e 72%, respectivamente). “A população mais vulnerável e menos escolarizada nem conhece a PrEP. Precisamos capitalizar a informação”, completa Madruga.
Além disso, 46% dos usuários de PrEP descontinuaram o programa em cinco anos. Embora a escolha pessoal determine o uso da PrEP, não há clareza sobre quantas descontinuações poderiam ser evitadas devido a barreiras, como medo ou desinformação.