Com Trump no poder, YouTube afrouxa secretamente regras da moderação de vídeos e amplia potencial de conteúdo tóxico

YouTube afrouxa secretamente regras da moderação de vídeos e amplia potencial de conteúdo tóxico

A maior plataforma de vídeo do mundo disse aos moderadores de conteúdo que devem privilegiar a ‘liberdade de expressão’

Durante anos, o YouTube removeu vídeos com insultos, informações erradas sobre vacinas contra a covid e mentiras eleitorais, alegando que o conteúdo violava as regras da plataforma.

Mas desde o retorno do presidente Trump à Casa Branca, a plataforma do Google tem incentivado seus moderadores de conteúdo a deixar vídeos com conteúdo que possa violar as regras da plataforma em vez de removê-los, desde que os vídeos sejam considerados de interesse público. Isso incluiria discussões sobre questões políticas, sociais e culturais.

A mudança de política, que não foi divulgada publicamente, fez do YouTube a mais recente plataforma de mídia social a recuar nos esforços para policiar o discurso online na esteira da pressão republicana para parar de moderar o conteúdo. Em janeiro, a Meta tomou uma medida semelhante, encerrando um programa de verificação de fatos em publicações de suas rede sociais. A Meta, que é proprietária do Facebook e do Instagram, seguiu os passos do X, a rede social de Elon Musk, e passou a responsabilidade de policiar o conteúdo para os usuários.

Mas, ao contrário da Meta e do X, o YouTube não fez declarações públicas sobre o relaxamento da moderação de conteúdo. O serviço de vídeo online apresentou sua nova política em meados de dezembro em um material de treinamento que foi analisado pelo The New York Times.

Para vídeos considerados de interesse público, o YouTube aumentou o limite da quantidade de conteúdo ofensivo permitido para metade de um vídeo, em vez de um quarto de um vídeo. A plataforma também incentivou os moderadores a deixarem de lado esses vídeos, o que incluiria reuniões do Conselho Municipal, comícios de campanha e conversas políticas. A política distancia a plataforma de algumas de suas práticas pandêmicas, como quando removeu vídeos de reuniões de conselhos locais e uma discussão entre o governador da Flórida, Ron DeSantis, e um painel de cientistas, citando desinformação médica.

As isenções podem beneficiar comentaristas políticos cujos vídeos longos misturam cobertura de notícias com opiniões e afirmações sem provas sobre diferentes tópicos, especialmente quando o YouTube assume um papel mais maior como distribuidor de podcasts. A política também ajuda a plataforma de vídeo a evitar ataques de políticos e ativistas frustrados com o tratamento dado ao conteúdo sobre as origens da covid, a eleição de 2020 e Hunter Biden, filho do ex-presidente Joseph R. Biden Jr.

O YouTube atualiza continuamente sua orientação para moderadores de conteúdo sobre tópicos que surgem no discurso público, disse Nicole Bell, porta-voz da empresa. Ele retira políticas que não fazem mais sentido, como fez em 2023 para algumas informações incorretas da covid, e fortalece as políticas quando necessário, como fez este ano para proibir o conteúdo que direciona as pessoas a sites de jogos de azar, de acordo com Nicole.

Nos primeiros três meses deste ano, o YouTube removeu 192.586 vídeos devido a conteúdo odioso e abusivo, um aumento de 22% em relação ao ano anterior.

“Reconhecendo que a definição de ‘interesse público’ está sempre evoluindo, atualizamos nossa orientação para essas exceções para refletir os novos tipos de discussão que vemos na plataforma hoje”, disse Nicole em um comunicado. Ela acrescentou: “Nosso objetivo continua o mesmo: proteger a liberdade de expressão no YouTube e, ao mesmo tempo, mitigar danos graves”.

Os críticos dizem que as mudanças nas plataformas de mídia social contribuíram para a rápida disseminação de afirmações falsas e têm o potencial de aumentar o discurso de ódio digital. No ano passado, no X, uma publicação dizia de forma imprecisa: “Escritórios de assistência social em 49 estados estão distribuindo formulários de registro de eleitores para estrangeiros ilegais”, de acordo com o Center for Countering Digital Hate, que estuda desinformação e discurso de ódio. A publicação, que teria sido removida antes das recentes mudanças de política, foi vista 74,8 milhões de vezes.

Durante anos, a Meta removeu cerca de 277 milhões de conteúdos anualmente, mas, de acordo com as novas políticas, grande parte desse conteúdo poderia permanecer, inclusive comentários como “Os negros são mais violentos do que os brancos”, disse Imran Ahmed, diretor executivo do centro.

“O que estamos vendo é uma rápida corrida para o fundo do poço”, disse ele. As mudanças beneficiam as empresas ao reduzir os custos de moderação de conteúdo e, ao mesmo tempo, manter mais conteúdo online para o envolvimento do usuário, acrescentou. “Não se trata de liberdade de expressão. Trata-se de publicidade, amplificação e, em última análise, lucros.”

No passado, o YouTube deu prioridade ao policiamento de conteúdo para manter a plataforma segura para os anunciantes. Há muito tempo ele proíbe a nudez, a violência gráfica e o discurso de ódio. Mas a empresa sempre se deu liberdade para interpretar as regras. As políticas permitem que os vídeos que violam as regras do YouTube, geralmente um pequeno conjunto, permaneçam na plataforma se houver mérito educacional, documental, científico ou artístico suficiente.

As novas políticas, que foram descritas nos materiais de treinamento, são uma expansão das exceções do YouTube. Elas se baseiam em mudanças feitas antes da eleição de 2024, quando a empresa começou a permitir clipes de candidatos eleitorais na plataforma, mesmo que os candidatos violassem suas políticas, segundo o material de treinamento.

Anteriormente, o YouTube removia o chamado vídeo de interesse público se um quarto do conteúdo violasse as regras da plataforma. A partir de 18 de dezembro, as autoridades de confiança e segurança do YouTube informaram aos moderadores de conteúdo que metade de um vídeo poderia violar as regras do YouTube e permanecer online.

Outros conteúdos que mencionam questões políticas, sociais e culturais também foram isentos das diretrizes de conteúdo usuais do YouTube. A plataforma determinou que os vídeos são de interesse público se os criadores discutirem ou debaterem eleições, ideologias, movimentos, raça, gênero, sexualidade, aborto, imigração, censura e outras questões.

Megan A. Brown, estudante de doutorado da Universidade de Michigan que pesquisa o ecossistema de informações online, disse que as políticas mais flexíveis do YouTube são uma reversão de uma época em que ele e outras plataformas “decidiram que as pessoas poderiam compartilhar discursos políticos, mas manteriam algum decoro”. Ela teme que a nova política do YouTube “não seja uma forma de conseguir isso”.

Durante o treinamento sobre a nova política, a equipe de confiança e segurança disse que os moderadores de conteúdo cometem erros ao restringir o conteúdo quando “o valor da liberdade de expressão pode superar o risco de danos”. Se os funcionários tivessem dúvidas sobre a adequação de um vídeo, eles eram incentivados a levar o assunto aos seus superiores em vez de removê-lo.

Os funcionários do YouTube foram apresentados a exemplos reais de como as novas políticas já haviam sido aplicadas. A plataforma aprovou um vídeo criado por um usuário intitulado “RFK Jr. Delivers SLEDGEHAMMER Blows to Gene-Altering JABS”, que violou a política do YouTube contra desinformação médica ao afirmar incorretamente que as vacinas contra a covid alteram os genes das pessoas.

A equipe de confiança e segurança da empresa decidiu que o vídeo não deveria ser removido porque o interesse do público no vídeo “supera o risco de danos”, diz o material de treinamento. O vídeo foi considerado digno de ser noticiado porque apresentava uma cobertura jornalística contemporânea de ações recentes sobre as vacinas contra a covid pelo secretário do Departamento de Saúde e Serviços Humanos, Robert F. Kennedy Jr. O vídeo também mencionava figuras políticas como o vice-presidente JD Vance, Elon Musk e Megyn Kelly, aumentando sua “noticiabilidade”.

O criador do vídeo também discutiu um estudo médico universitário e apresentou manchetes de notícias sobre pessoas que sofreram efeitos adversos das vacinas contra a covid, “sinalizando que esse é um tópico altamente debatido (e um tópico político sensível)”, de acordo com os materiais. Como o criador não recomendou explicitamente contra a vacinação, o YouTube decidiu que o vídeo tinha um baixo risco de danos.

Atualmente, o vídeo não está mais disponível no YouTube. Não se sabe ao certo o motivo.

Outro vídeo compartilhado com a equipe continha um insulto a uma pessoa transgênero. A equipe de confiança e segurança do YouTube disse que o vídeo de 43 minutos, que discutia audiências para nomeados do gabinete do governo Trump, deveria permanecer online porque a descrição tinha apenas uma única violação da regra de assédio da plataforma que proíbe uma “expressão maliciosa contra um indivíduo identificável”.

Um vídeo da Coreia do Sul apresentava dois comentaristas falando sobre o ex-presidente do país, Yoon Suk Yeol. Mais ou menos na metade do vídeo de mais de três horas, um dos comentaristas disse que imaginava ver Yoon virado de cabeça para baixo em uma guilhotina para que o político “pudesse ver que a faca estava descendo”.

O vídeo foi aprovado porque a maior parte dele discutia o impeachment e a prisão de Yoon. Em seu material de treinamento, o YouTube disse que também considerou o risco de danos baixo porque “o desejo de execução por guilhotina não é viável”.

Eu amo que liberdade de expressão é a nova forma da direita emburrecer a população

Mais ainda? O YouTube já virou um Facebook, cheio de conteúdo estranho faz tempo.

Tá inutilizável, já não bastasse as propagandas infinitas, ele fica te indicando vídeos de uns canais mesmo depois de vc sinalizar que não quer mais indicações daquele canal, a aba de shorts então é uma aberração, vc pesquisa sobre flores e 5 vídeos depois já tem um vídeo política ou sobre economia cheio de lorotas

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Felizmente fiz um esforço enorme mas desgooglezei tudo meu na internet, ao máximo possível. Mudei de plataforma de email, drive, navegador, mapa e sistema operacional. Torcendo pro dia que esses filhos da puta vão pagar por terem ficado de 4 pro imbecil do Trump.

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O meu algoritmo felizmente ta beeem cadelizadinho

Eles pagam sim, depois que os ventos da política mudarem, eles acabam mudando de novo
O Musk daqui a pouco só falta levantar bandeira gay pra irritar o ex marido dele

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Tentei abrir um tópico aqui ensinando a desgooglizar, mas a moderação barrou, infelizmente.

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O meu tbm, e olha que pesquiso coisas de política por lá kkkk

Os meus shorts são engraçados pq são só cortes de Modern Family e Friends kkkk o completo oposto das indicações de vídeos

Me passa um bom pra vídeos

Os meus shorts não, eu to vendo alguma coisa legal, passo uns três e já aparece umas merdas neonazis, um nojo, instagram então, nem comento

Por isso a decisão do STF é necessária.