Criada pela tia, Duda Santos conta que hoje tem relação de amor com a mãe: 'Mora em frente à minha casa. Resolve tudo pra mim'

Literalmente a “Garota do momento”, Duda Santos, protagonista da novela das seis, viu sua vida dar uma cambalhota em pouquíssimo tempo. Em menos de três anos, ela foi de coadjuvante em “Travessia” (2022) para personagem principal da obra de sucesso de Alessandra Poggi, passando nesse meio tempo pela icônica Maria Santa no remake de “Renascer” (2024). Agora, com a trama de época, a geminiana de quase 24 anos (ela faz aniversário no próximo domingo), conquista um público diferente: muitas crianças, principalmente meninas pretas que têm a artista como referência.

Nos anos 1950, Beatriz, a personagem de Duda, criada pela avó paterna, tem muitos conflitos, que incluem um romance inter-racial de altos e baixos com Beto (Pedro Novaes); as armações da mimada Bia (Maisa), que só quer prejudicá-la; e uma relação tumultuada com a mãe, Clarice (Carol Castro), que durante boa parte da história não sabia que a mocinha era sua filha, por ter tido a memória “roubada” pelos vilões da trama.

Cria do Ipase, comunidade na Vila da Penha, Zona Norte do Rio, Duda tem um passado de dificuldades com a mãe, Rafaela, que deu à luz a atriz aos 17 anos. Quando tinha 2 anos, Duda passou a ser criada pela tia, Vera, porque, se ficasse com a mãe, grávida novamente, passaria fome. A figura paterna sempre foi ausente. Hoje, a estrela global, que tem tatuada em sua costela a frase “O amor salva”, tenta recuperar o tempo perdido e quer Rafaela sempre ao seu lado. Tanto que o apartamento de uma é de frente para o da outra, e as duas trabalham juntas.

Como é virar protagonista tão rapidamente?

A ficha está demorando a cair. Essa novela tem tido um retorno de todas as faixas etárias. Quando eu estou na rua e vem uma criança falar comigo, um idoso, um adolescente… Eu fico: “Meu Deus do céu, tá todo mundo vendo”. Esse momento que a gente tá vivendo é muito bonito. Não só por conquistas pessoais, mas acho que é um bem coletivo. E tem muita terapia também para entender (ela faz terapia há três anos). Foi tudo muito rápido, né? Agora tô no momento de curtir essa reta final de “Garota do momento”. Vou morrer de saudade. Ah… Eu sofro por antecipação, a geminiana louca (risos).

A fama traz preocupações?

Dá um medo, né? Não costumo aparecer como Duda nas redes nem vou muito a programas, até por falta de tempo. Mas a rede social é um lugar muito perigoso. A internet é terra de ninguém. Acontece muita coisa boa, mas, por outro lado, tem muita coisa inventada, e eu não quero ficar refém disso. Quero poder ser eu mesma, ir aos sambas, falar com as pessoas…

Isso também afetou sua família?

Essa foi a maior preocupação deles, porque sabem que eu gosto muito de ir aos sambas, ao shopping, levar minha irmã ao cinema… Não quero ter pudor com a minha vida privada. Mas hoje tenho que tomar certo cuidado. Quando a gente é uma figura pública, tudo que a gente faz influencia o outro. Sou uma menina de 20 e poucos anos que faz o que qualquer outra menina de 20 faz.

Já se surpreendeu com a atitude de algum fã?

Um moço no mercado se ajoelhou diante de mim. Eu estava fazendo Maria Santa (em “Renascer”) e ele disse: “Você é uma santa. Me abençoa”. Eu acho que ele acreditava que eu era uma santa mesmo. Isso me marcou muito. Fiquei: “Levanta! Não sou santa. É uma personagem”. Numa viagem para Salvador (BA), eu cheguei para o Festival de Verão com Humberto (Carrão, que interpretou seu par romântico) e as pessoas ficaram enlouquecidas. A gente não conseguia andar. Falei: “Caramba. Meu Deus. Que loucura”. Acontecem muitas coisas lindas, como no dia em que uma menina de uns 5 anos disse: “Você é uma princesa, né? Eu vejo você na televisão”. Ela linda, pretinha, pequenininha… Que coisa mais linda! Foi o retorno mais positivo que eu poderia ganhar: uma criança crescer com essa referência na tela. Isso me emociona.

No ano passado, teve um boato que você estava se envolvendo com João Vitor Silva (o Ronaldo da novela das 18h). Ficou incomodada?

De jeito nenhum. João é um dos meus melhores amigos, a gente vive grudado. Demos muita risada disso. As pessoas pensam o que elas querem. Não vou deixar de sair, viajar e curtir a vida com o meu amigo, sabe? Quem tem boca fala o que quer.

A relação de Clarice e Beatriz é muito forte na trama. Como é a sua com sua mãe, Rafaela?

Tudo que eu aprendi sobre amor veio dela. Eu aprendi a amar com ela, aprendi a ser corajosa com ela… E ter respeito pelas pessoas. Ela me ensinou a lidar com a vida, a não desistir, a bater de frente e resolver. A minha mãe supera as coisas e se reinventa como uma fênix. Sempre pensei: “Caramba, essa mulher passou por tudo isso e tá aí sorrindo, viva, feliz. Como pode?”. Herdei isso. Não guardo mágoa. Não demoro para me levantar, não fico triste por muitos dias. Eu procuro resolver. Mas acho que a gente precisa sofrer, sentir, reconhecer a dor. E aí isso sou eu que ensino a ela, a acolher a dor.

Ela renasceu das cinzas porque passou por muitas dificuldades financeiras?

Não só financeiras, mas as mulheres de uma geração anterior à minha, em especial as pretas, passaram por muitas dificuldades. A minha geração é privilegiada. A minha mãe foi criada pelo avô, que faleceu quando ela estava tendo o segundo filho. Aí precisou sobreviver sozinha. Minha avó teve minha mãe com 15, e eu nasci quando minha mãe tinha 17. Quando teve uma filha preta na favela, pensou: “Vai engravidar também”. Ela cresceu com muito medo, mas é o exemplo de uma força gigante. Hoje, tento ajudá-la a resgatar o “ser mulher”. Ela viajou pela primeira vez este ano, dei de presente uma viagem para a Bahia.

Sua mãe trabalha atualmente?

Minha mãe trabalha comigo, com o meu empresário. Resolve tudo para mim. Faz as minhas negociações. Nos falamos todo dia, ela mora em frente à minha casa (na Zona Oeste). É muito inteligente, aprende muito rápido as coisas, fico apavorada.

Clarice chegou a pedir para Beatriz desistir de Beto. Você já desistiu de algum amor?

Já, do meu primeiro namorado. Hoje, a gente é bem resolvido, mas era uma relação muito complicada, porque o pai dele era racista e não aceitava o namoro. A gente se amava muito. O pior momento foi quando esse namorado me defendeu de um menino também racista na escola. Eles brigaram e foram expulsos. O pai dele ficou P da vida e o afastou de mim, mandando ele ir morar com a mãe. Aí desisti da relação. Fui superando, depois namorei de novo. Sempre fui uma pessoa muito apaixonada, mas, hoje, criando maturidade, tomo mais cuidado. Se eu me apaixonar, vai ficando mais difícil. Ano passado, passei por essa construção na terapia, de entender como ser solteira. Tive relacionamentos longos. Fiquei quatro anos namorando. Aí terminei, fiquei pouco tempo solteira, namorei um ano. Depois tive outra relação de dois anos…

Você viveria uma relação inter-racial de novo?

Lembrei da minha história quando li a de Beatriz e Beto. O Pedro se parece muito com meu primeiro namorado, tem até o mesmo signo (libra). Viveria um amor inter-racial, sim. Tem questões, não é tão simples, mas tudo se resolve na conversa. Requer um esforço da parte do outro para aprender a ter uma escuta apurada, um olhar pro mundo diferente. Mas a gente pode sentir amor por qualquer pessoa. Eu não sou bloqueada para nada disso.

Continua solteira?

Estou com meu coração em paz.

Como você enxerga a Duda daqui a dez anos?

Com o meu bebê. Meu sonho é ser mãe. Até lá, quero trabalhar muito. Também desejo adquirir um olhar para os meus erros com mais carinho. Menos julgamentos. Às vezes, fico muito chateada comigo. Quero estar cada dia mais calma.

  • Texto e produção executiva Thomaz Rocha thomaz.rocha@oglobo.com.br
  • Fotos Maju Magalhães @maga.maju
  • Styling Aléxia Azambuja @alexia_azambuja
  • Assistente de moda Alice Themudo @alicettttttttttt
  • Beleza Karo @karobeauty._
  • Assistente de beleza Érida Grace @eridagrace
  • Agradecimentos TAO Empreendimentos @taoempreendimentos e Cité Arquitetura @citearquitetura
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