Desde que saiu do “Big Brother Brasil 25”, Diego Hypolito já conseguiu ser bloqueado no Whatsapp pela própria mãe, Geni, pelo menos duas vezes. A prática é mais comum do que se imagina. Por isso, Dia das Mães por lá é sempre imprevisível. “Qualquer coisa é motivo de briga para ela”, diz o ex-atleta, aos risos. Por sorte, como família é tudo igual e só muda de endereço, eles se resolvem dando boas gargalhadas.
— Diego, quando sai, some. Se eu ligo, é para atender na hora. Liguei três vezes, não deu sinal de vida? Bloqueio — diz Geni, de 68 anos, mãe também de Edson, 42, o primogênito, e Daniele, de 40.
A também ex-ginasta e ex-BBB não está imune à medida radical da mãe. Dani diz que costuma ser bloqueada por ser desligada com o celular. Mas o irmão caçula interrompe logo, entregando que o motivo de briga entre as duas é outro: “Você está mentindo!” E a matriarca explica.
— É que eu gosto de ver a Dani como uma princesa. Não gosto de vê-la de pijama o dia inteiro, opino nas roupas, nem gosto de vê-la cozinhar… Eu implico muito com você, filha?
O momento autocrítica gera risada no trio.
— Com quase tudo. Mas eu não levo isso para um lado ruim. Mãe quando puxa a orelha é porque está certa. E sobre opinião em roupas, eu não ligo. Se estou me sentindo bem, é o que importa — diz Daniele, que, minutos antes de a sessão de fotos para a Canal Extra começar, dava pitacos nas roupas que a mãe usaria (Geni, aliás, amou tanto que até ficou com as peças de presente).
Diego, de 38 anos, dá um exemplo que ilustra o tipo de “cobrança” que a mãe faz com a irmã.
— Vocês me viram falando do blush da Dani no “BBB”? Minha mãe faria o mesmo — afirma ele, relembrando uma crítica à maquiagem da irmã.
Mas o puxão de orelha pelo look do dia nem se compara à maior chateação de Geni com a filha.
— Você acredita que Daniele casou e não me convidou? — confessa incrédula ao repórter.
O caso ocorreu em 2021, quando Daniele casou-se no civil com Fábio Castro, coreógrafo e bailarino do cantor Buchecha. Juntos há dez anos, eles não consideram como algo oficial.
— É que, para participar de outro reality show (o “Power couple”, da Record), era uma exigência contratual eu estar casada no papel. Fábio e eu já morávamos juntos, então fizemos isso sem envolver a família. A gente quer casar de verdade, bonitinho, em outubro deste ano.
Geni continua o relato.
— Eu achando que ia ver minha filha toda princesa… Quando ela me contou, fiquei boquiaberta, sem reação. Horas depois, passei a mão no telefone e descasquei a Dani.
Hoje, eles riem da situação.
— Essa família aqui gera mais entretenimento do que qualquer reality show — conclui Diego.
Das Olimpíadas ao ‘BBB’
No ginásio ou pela TV, Geni nunca perdeu uma competição dos filhos. Mas nunca os acompanhou tanto como nos últimos três meses no “BBB”.
— É uma alegria ver meus filhos competindo. Em todo campeonato, eu torcia, rezava… A diferença é que, na ginástica, eram sempre meus filhos, o aparelho e Deus. Já no “BBB”, eu não concordava com as atitudes dos participantes. Cheguei até a questionar a educação que dei aos meus filhos.
A resposta surpreende, mas a paulista explica:
— Eu ensinei os dois a serem honestos, sinceros, mas, para sobreviver naquele jogo, eu tinha que ter ensinado a serem mal-educados. Teve mãe de participante que veio me pedir desculpa depois, sabia?
Diego, então, conta que a mãe, que mal usava as redes sociais, passou até a discutir na web por conta do programa da Globo.
— Eu não briguei. Eu falava a verdade. E fui defender vocês — argumenta Geni.
No fundo, os irmãos Hypolito já imaginavam que isso poderia ocorrer. Talvez seja por isso que o ex-ginasta não esquece a expressão da mãe quando ele contou que ambos entrariam no reality.
— Ela fez a mesma cara em três momentos muito específicos das nossas vidas: no dia em que a gente não tinha o que comer, quando fomos despejados do nosso apartamento e quando a gente disse que entraria no “BBB”. Foi desespero. O reality seria a possibilidade de perder tudo, depois de termos nos reconstruído — analisa Diego: — Minha mãe ficou bem brava comigo, eu disse que ela estava com medo de conhecer o Diego que sempre fui.
No fim, mesmo sem o prêmio final, Geni ficou satisfeita com o que viu. O problema tem sido colocar o sono em dia.
— Eu só ia para cama quando os dois iam. Dani eu sabia que iria dormir cedo, mas Diego é arteiro.
Durante as fotos para a Canal Extra, uma fã abordou Diego e Dani para pedir selfies, assim como parabenizou Geni “por ser a mãe que criou campeões”. Título que a ex-costureira minimiza.
— Sabe que eu não penso nisso? Agradeço muito a Deus pelos meus três filhos. Eu penso que, como mãe, só me doei para eles.
E muito. Nascidos em Santo André, no ABC paulista, Geni e o marido, Wagner, criavam os filhos com os salários de manicure e motorista. Até que Daniele, com 5 anos, despertou atenção de um vizinho por dar piruetas em móveis e muretas com facilidade. A criança foi convidada a fazer um teste de oito semanas com a equipe local de ginástica artística. Na primeira semana, já estava aprovadíssima.
— Não tinha noção do talento da Dani. Comecei a entender quando o clube de Santo André nos chamou para uma reunião e disse que não tinha mais estrutura para desenvolvê-la. Até chorei. Fomos convidados para levá-la ao Rio, para que treinasse no Flamengo. Dias depois da transferência, começaram a sair reportagens que a chamavam de “talento da natureza”. Minha filha só tinha 9 anos.
Nessa época, a ginasta viveu uma situação inédita: mesmo tão nova, treinava com um salário. Ficou um mês morando com a treinadora, até que o clube conseguiu emprego para a família e local de treino para os outros dois filhos de Geni, além de um apartamento para todos.
— Eu também não tinha consciência do que era ter a família inteira se mudando para seguir o sonho de uma criança. Quando entrei na adolescência, passei a entender a responsabilidade que eu tinha com a carreira — diz Dani.
O clube passou por crises de gestão, os pagamentos começaram a atrasar, e os Hypolito enfrentaram dificuldades financeiras.
— Em nenhum momento cogitei desistir depois que vi que eles tinham esse dom. Até nas dificuldades, pensava que estávamos nos tornando mais fortes. Tem coisas que os meninos lembram, como quando não tinham o que comer, e eu realmente esqueci. Deus nos deu o poder de lutar e vencer: “Faça que eu te ajudarei”. Sempre tive fé. Valeu a pena. Mas, talvez, se voltasse no tempo, não faria o que fiz. A gente tinha uma vida confortável em Santo André e começou a ficar difícil no Rio. Quero dizer, se voltasse, eu faria melhor. Deveria ter brigado mais pelos meus filhos — diz Geni.
No salto cravado ou no tombo
A sensação de que poderia ter feito mais está só na cabeça de Geni. Os filhos sabem que foram muito bem amparados. Nos tombos no tablado, ela sabia como dar conforto.
— A gente sempre teve o colo dela. Era comum em competições a gente nunca sair 100% feliz. Ou eu ganhava algo e o Di perdia, ou vice-versa. Mas ela estava ali para acolher — diz Daniele.
Na vida, Geni também soube estender a mão, mesmo quando queria chorar. Um episódio marcante foi a crise de depressão de Diego em 2013.
— Foi difícil. Tive que ser forte, mesmo sendo fraca. Quando meus filhos estavam no pódio, todos estavam com eles. Mas, quando estavam no chão, só eu estava lá. Ali eu fui a mãe dele.
O envolvimento de Geni com a doença do caçula preocupou a família.
— Edson e eu sabíamos que, se algo acontecesse com Diego, também perderíamos a nossa mãe. Por isso, fiquei irritada quando questionaram no “BBB” se meu irmão estava brincando sobre as crises de ansiedade — relembra Daniele.
Geni também precisou de ajuda quando perdeu um de seus maiores sonhos: a casa própria. Na pandemia, a família, que morava junto na Zona Sul do Rio com mais dez parentes, foi despejada. É que eles adquiriram o apartamento com uma pendência financeira na escritura e não quitaram a dívida determinada pela Justiça.
— Ali eu queria morrer. Eu sei que era só um bem material, mas os meus filhos compraram aquele apartamento com o que conquistaram numa vida inteira. Como a Justiça achou que nós sabíamos dessa dívida? Nós compramos o imóvel em imobiliária, fomos vítimas de um golpe. Naquela época, comecei a fazer terapia — relembra Geni.
Ver a mãe naquele estado reforçou um compromisso entre os irmãos.
— O objetivo é darmos uma casa para nossos pais. Não precisa vir com o papo de que hoje em dia é melhor investir do que comprar imóvel. Sonho é sonho. Só depois que vou tocar outros planos. A gente só chegou até aqui porque minha mãe teve coragem de mudar a vida por completo acreditando que daria certo. Dani só foi medalhista mundial porque dona Geni foi atrás do Ronaldo Fenômeno para ele nos ajudar com as passagens. Tudo que conquistamos foi porque ela fazia a maluca, sem vergonha de se expor. Sempre com decência — derrete-se Diego.
Mas a maior lição de Geni talvez tenha vindo de uma simples reação num momento de glória.
— Quando ganhei a medalha olímpica (prata) no Rio, em 2016, minha mãe estava na arquibancada que ficava atrás do pódio. Eu me virei e, bastante emocionada, ela só me fez uma pergunta: “Você está feliz?”. Isso ficou marcado em mim. É o que importa — comemora o caçula.
Equipe
Texto e produção executiva: Leonardo Ribeiro. Fotos: Márcio Farias, @marciofariasfoto. Styling: Maria Claudia Pompeo, @mcpompeo.cria. Beleza: Zuh Ribeiro, @zuhribeirobeauty_
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