‘Dr. Catástrofe’ diz que segundo mandato de Trump pode elevar a inflação a 5%
Nouriel Roubini, que ganhou notoriedade por alertar para a crise financeira global de 2008, afirma que políticas do presidente eleito dos EUA terão como consequência inflação mais alta e crescimento mais baixo
Apesar do impacto inicial positivo nos mercados com a confirmação de um segundo mandato presidencial de Donald Trump, os analistas ainda estão incertos sobre as implicações econômicas de longo prazo.
Sem grandes surpresas, o economista apelidado de “Dr. Doom” (algo como “Doutor Apocalipse” ou “Doutor Catástrofe”) por suas previsões sombrias tem uma perspectiva decididamente pessimista.
Nouriel Roubini, o verdadeiro nome por trás do apelido, ganhou notoriedade em 2006 ao alertar sobre uma correção no mercado imobiliário e uma recessão iminente – previsões que, na época, foram ridicularizadas. Dois anos depois, porém, suas previsões se concretizaram com a crise financeira global, e desde então, o mercado passou a levar suas análises a sério.
Com a contagem regressiva para a próxima posse na Casa Branca, Roubini compartilha suas previsões sobre o que pode acontecer sob um governo republicano – e as perspectivas não são animadoras.
“Algumas das políticas econômicas de Trump podem levar a um alto crescimento econômico”, disse Roubini à Bloomberg esta semana.
No entanto, ele contrapôs: “Infelizmente, muitas outras políticas terão como consequência uma inflação mais alta e um crescimento econômico mais baixo. “A primeira coisa que ele já anunciou são tarifas contra México, Canadá e China – e isso é só o começo.”
De fato, até mesmo importantes parceiros comerciais europeus não devem escapar desse tipo de abordagem.
No mês passado, a agência Reuters informou que Trump estava considerando novos termos comerciais com “pequenos países europeus agradáveis”. E afirmou em um comício na Pensilvânia: “Eles não aceitam nossos carros. Não aceitam nossos produtos agrícolas. Eles vendem milhões e milhões de carros nos Estados Unidos. Não, não, não, eles vão ter de pagar caro.”
Roubini também expressou preocupações sobre possíveis interferências na independência do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA).
E continuou: “Sair do Acordo de Paris vai agravar as mudanças climáticas, aumentar os preços dos alimentos e coisas do tipo”.
Explicando como os conselhos de investimento de sua consultoria, a Roubini Macro Associates, podem mudar diante desse cenário, o professor emérito da Universidade de Nova York disse: “Se você olhar para essa lista de políticas, todas elas terão como consequência, com o tempo, uma inflação mais alta e um crescimento mais baixo.”
“Essa é uma análise padrão sobre as implicações dessas políticas. Por isso, precisamos nos preocupar com um mundo em que os rendimentos de títulos de longo prazo podem ultrapassar 4% e chegar a 6%, 7% ou até 8%, e um cenário em que a inflação passa de 2% para 3%, 4% ou 5%.”
Esse cenário seria uma má notícia para os consumidores, que já enfrentam altos custos habitacionais e preços inflacionados de alimentos – especialmente agora que as taxas começaram a se normalizar, aproximando-se da meta de 2% do Fed.
Inflação + baixo crescimento = estagflação
Roubini também está preocupado com as propostas de deportação em massa de Trump, afirmando: “Nos últimos anos, o aumento da imigração ajudou a conter o crescimento salarial, aumentou a oferta de mão de obra e impulsionou o crescimento econômico.”
“Definitivamente, deportações em massa são estagflacionárias.”
Embora seja conhecido por previsões mais pessimistas, Roubini não está sozinho em suas preocupações com a estagflação.
Embora as preocupações de Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, não estejam relacionadas diretamente às políticas de Trump, ele também prevê estagflação no horizonte.
“Eu olho para a quantidade extraordinária de estímulos fiscais e monetários que tivemos nos últimos cinco anos – como alguém pode me dizer que isso não levará à estagflação?”, afirmou durante a conferência Strategic Decisions da AllianceBernstein em maio.
“Talvez não leve”, disse ele. “Mas, por precaução, estou preparado para isso.”