Estilosos, autênticos e exóticos. Esses eram alguns dos adjetivos que descreviam Fab e Rob pela cena noturna de Munique, cidade da Alemanha.
Fab possuía descendência francesa e Rob alemã. Dois rapazes sonhadores de 22 anos. Eles eram djs, dançarinos e coristas.
Rob carregava uma trajetória de vida mais comovente. Ele era filho de uma prostituta alemã com um soldado norte-americano. Ele foi abandonado ainda bebê num orfanato e adotado por uma família da Alemanha.
O destino entrelaçou os caminhos de Fab e Rob e juntos tentavam ganhar a vida nos guetos das cidades europeias. Em busca de comprar pelo menos um pão e uma caixa de leite para saciar a fome, os rapazes trabalhavam incansavelmente em festas noturnas - mixarias eram pagas à eles.
Numa noite aleatória, Fab e Rob se esbarram em Frank Farian, o responsável por ser o deus e o diabo no futuro da dupla.
Frank tinha uma meta naquele dia: encontrar alguém para “ajudar” a ser um fenômeno pop. Ele era produtor, vinha dos EUA e buscava naquela boate uma pessoa para dar voz a um futuro grupo musical.
Fab e Rob eram os rostos perfeitos. Musculosos, exuberantes e extremamente diferentes do que estava sendo lançado naquele cenário.
Frank já chegou com mentiras. Ele chamou os rapazes ao fundo da discoteca e disse que tinha uma música pré-produzida e que Fab e Rob não teriam tempo para gravá-la. Ou seja, se eles quisessem o contrato assinado, precisavam dublar a faixa ali mesmo.
Com a humildade no bolso, os meninos arregalaram os olhos. Afinal, era uma oportunidade única para quem já vinha recebendo diversos “não”.
Fab e Rob se vestiam muito bem. Eles tinham um olhar além da arte e adoravam customizar roupas ganhadas em brechós.
Entretanto, Frank disse que eles precisavam de mais e mais. Foi aí que o produtor apareceu no outro dia com diversas roupas de alta costura, tranças postiças, sapatos de marca e muito mais para os meninos. Tudo ficou em torno de 20 mil euros e foi colocado na agenda como algo a descontar das vendas das futuras músicas. Fab e Rob ficaram de mãos atadas e o “baile seguiu”.
Enquanto Fab e Rob dublavam “Girl You Know It’s True” pelas boates, Frank seguia na produção do primeiro disco deles. Todas as canções eram cantadas por outras pessoas.
Frank prometeu a Fab e Rob que iria torná-los milionários, que ninguém descobriria as mentiras e que ele os protegeria de todo o mal.
Fab e Rob eram bons demais. Quando eles entravam no palco, todos os observavam. Eram artistas do início ao fim.
Anos depois, Fab contou em entrevista: “Éramos jovens sonhadores. O Frank chegava no camarim, apertava nosso braço e falava: ‘Sobem nesse palco e arrasem. Vocês são icônicos’. Isso dava um gás. Subíamos no palco e dávamos o nosso melhor”.
“Girl You Know It’s True” foi lançada como single sob o nome artístico Milli Vanilli. O contrato estava batido, não tinha como voltar atrás. A música começou a subir aceleradamente em diversos países da Europa e o disco completo foi divulgado em todas as lojas da Alemanha, França, Itália e Bélgica.
A partir daí, Frank decidiu levar os meninos para a América. Chegando no EUA em 1989, o disco foi relançado e o plano de Frank estava saindo do papel: fazer Milli Vanilli acontecer em terras norte-americanas.
O topo das paradas: Milli Vanilli voa para a posição #2 da Billboard Hot 100 com “Girl You Know It’s True” em 01 de abril de 1989.
Dois novatos disputando a maior tabela mundial com Madonna, Roxette, Guns N’ Roses e Bon Jovi. Rob e Fab choravam de emoção e Frank dormia pensando no baú de ouro.
O mundo assistia de platéia a maior acensão do ano. O álbum começou a vender muito bem e assim alcançou o topo da Billboard 200, permaneceu no Top 10 por 41 semanas e foi certificado com 6 placas de Platina.
Após o sucesso de “Girl You Know It’s True”, Milli Vanilli alcançou a posição #1 da Hot 100 TRÊS vezes, sendo elas com “Blame It On The Rain”, “Girl I’m Gonna Miss You” e “Baby Don’t Forget My Number”.
O trabalho que misturava eurodance com hip-hop fez os americanos se ajoelharem.
#1. Blame It On The Rain
#1. Girl I’m Gonna Miss You
#1. Baby Don’t Forget My Number
#2. Girl You Know It’s True
#4. All Or Nothing
Com o sucesso monstruoso, obviamente Milli Vanilli precisava bater ponto em entrevistas ao vivo na tv americana.
Rob arranhava o inglês, mas com muito, muito, muito sotaque alemão. Enquanto Fab, nascido na França, não entendia absolutamente nada do idioma e preferia ficar em silêncio.
Com isso, a mídia começou a perseguir os meninos. Diversos jornalistas questionavam Rob: “Você fala um inglês muito diferente do que ouvimos nas suas músicas”. Rob tentava disfarçar ao máximo o incômodo e também o medo.
Rob e Fab até chegaram a conversar com Frank e afirmaram que queriam cantar as próprias músicas do próximo álbum.
Um dos piores dias de Rob e Fab: Durante um show da dupla gerenciado pela MTV, o playback travou.
Os europeus estavam num palco diante de um público de 15 mil pessoas, em julho de 89, e o som falhou. Um loop ficou repetindo “Girl you know it’s true” e Rob sem saber o que fazer, saiu correndo do palco.
Com diversos hits nas rádios, as pessoas que deram voz para as faixas começaram a chantagear Rob, Fab e o produtor Frank.
Charles Shaw, que canta quase todas as músicas, disse que não aguentava mais esconder a mentira e que queria ser famoso também.
Ele começou a ceder entrevistas públicas e revelou para vários jornalistas famosos que Rob e Fab não cantavam nenhuma faixa do álbum, que eram apenas dubladores. Frank ficou nervoso e pagou 140 mil euros para Charles ficar em silêncio.
O segundo pior dia de Rob e Fab: Eles foram indicados ao GRAMMYs em “Artista Revelação” e venceram.
Era impossível a dupla não ter vencido aquele troféu. Rob, por sua vez, não queria ganhar o prêmio. Quando indicado, ele chorou muito em sua casa. Segundo Rob, vencer aquele gramafone era colocar a dupla ainda mais na fama. Ele estava com medo da farsa ser descoberta.
Frank, o produtor, começou a chantagem emocional com os meninos e obrigou eles irem ao evento. Comprou as melhores roupas e disse para a dupla chegar na cerimônia sorridentes. Eles obedeceram, subiram no palco para buscar o troféu de ouro e posaram para diversas fotos.
Semanas se passaram e Rob entrou em depressão profunda. O artista, infelizmente, se entregou ao mundo das drogas.
Fab tentava a todo custo ajudar o amigo. Frank, indignado, queria a dupla seguindo com os shows.
Entre idas e vindas, os três tiveram uma forte discussão. Fab queria levar Rob para a Europa e abandonar os contratos com Frank.
Enfurecido, Frank marcou uma coletiva de imprensa e revelou que Fab e Rob não eram artistas e que eles não cantavam nenhuma faixa do álbum.
Em 1990, semanas depois da cerimônia, o GRAMMYs emitiu um comunicado na tv americana e informou que o prêmio de Milli Vanilli para “Artista Revelação” estava INVALIDADO.
Em resumo, Rob e Fab tiveram que devolver o troféu. Foi a primeira e única vez que o GRAMMYs “tomou” o prêmio de volta. Esse acontecimento é sem dúvidas uma das maiores polêmicas da indústria pop.
Com a história cabulosa, a gravadora de Milli Vanilli decidiu destruir todos os CDs que estavam em estoque.
Mais de 25 ações foram ajuizadas nos EUA pedindo a devolução do dinheiro de discos e ingressos. A carreira de Rob e Fab havia chegado ao fim.
Para os norte-americanos, os meninos do Milli Vanilli foram taxados de traidores. A partir de 1990, eles foram excluídos por completo da imprensa e nenhuma chance de perdão ocorreu.
Eles até tentaram lançar um 2º álbum, mas o fracasso foi completo devido ao forte cancelamento.
Rob voltou ao vício das drogas e em 1995 faleceu aos 33 anos. Ele foi encontrado morto na Alemanha por uma overdose de comprimidos com álcool. Há dúvidas se a overdose foi provocado de modo intencional (suicídio) ou acidental.