Há 40 anos era aprovada Emenda para a volta do Voto Direto

Ditadura dizia que eleição direta em 1985 seria ‘golpe de Estado’

Aprovada há 40 anos, emenda 25 reintroduziu voto direto na Constituição brasileira

Faz 40 anos que os brasileiros recuperaram o direito de escolher o presidente. A reintrodução das eleições diretas na Constituição foi aprovada pelo Congresso na madrugada de 8 para 9 de maio de 1985 e promulgada logo depois, no dia 15.

A medida, porém, não se originou do movimento Diretas Já, de 1983 e 1984, nem da emenda Dante de Oliveira, rejeitada em 1984.

Decorreu da emenda constitucional 25, uma das primeiras iniciativas da Nova República. Ela mudou a Constituição da ditadura dois meses após a saída dos generais e a posse do presidente José Sarney.

Documentos do Arquivo do Senado mostram os argumentos da ditadura para não autorizar a volta da eleição direta para a Presidência.

No final de 1983, o senador governista Dinarte Mariz (PDS-RN) disse que seria golpismo acabar com a eleição indireta. “Mudar a regra do jogo a esta altura, quando já estamos em campanha para uma sucessão presidencial, já feita em eleições livres, limpas e corretas, representa um golpe de Estado”, afirmou.

Quem votava para presidente era o Colégio Eleitoral, composto por todos os senadores e deputados federais e alguns deputados estaduais. Isso garantia a continuidade dos militares no poder, já que eles normalmente tinham maioria no Legislativo federal e nos estaduais.

Para o senador governista João Lobo (PDS-PI), a oposição queria eleições diretas porque seria minoritária no Colégio Eleitoral de 1985, que escolheria o sucessor do general João Figueiredo. As eleições legislativas de 1982 haviam dado vitória ao partido governista.

“Em 1982, as urnas, pelo voto direto, deram o Colégio Eleitoral para o PDS. É um direito adquirido. Não temos razões para acompanhar o realejo [a favor das eleições diretas] que as oposições estão fazendo funcionar em toda a opinião pública”, afirmou Lobo.

O líder do governo no Senado, Aloysio Chaves (PDS-PA), afirmou que o Colégio Eleitoral era, sim, legítimo: “Esse Colégio Eleitoral saiu das mesmas urnas que elegeram [em 1982] dez governadores de oposição. Como, então, falar-se de ilegitimidade?”.

A ditadura planejou uma abertura “lenta, gradual e segura”. Isso, no entanto, não incluía eleições diretas para presidente. Foi por essa razão que a base parlamentar de Figueiredo derrubou a emenda Dante de Oliveira.

Na tentativa de esvaziar essa proposta de emenda à Constituição, Figueiredo enviou ao Congresso uma PEC prevendo eleições diretas só a partir de 1988. “A eleição direta não é remédio único para nossos males. Falso é apresentar a eleição indireta como empecilho para as transformações que a nação almeja”, disse em discurso.

Derrotada a emenda Dante de Oliveira, as atenções se voltaram para a emenda Figueiredo. A oposição tentou desfigurá-la, para permitir que a eleição de 1985 já fosse decidida pelo povo. Irritado, o presidente retirou a sua PEC do Congresso.

Se a abertura estava em curso e era certo que em algum momento as eleições seriam diretas, por que Figueiredo não permitiu que a sua sucessão já fosse decidida pelo povo?

Para o historiador Leonardo Weller, coautor do livro “Democracia Negociada: Política Partidária no Brasil da Nova República”, se houvesse voto popular em 1985, a ditadura perderia o controle sobre a sucessão.

“O temor dos militares era que fosse eleito um nome da esquerda do PMDB ou até um esquerdista convicto, como Leonel Brizola. Esse temor tinha fundamento. A população estava insatisfeita com a ditadura porque o país vivia a crise da dívida externa, a economia retrocedia e a inflação estava na casa dos 200% ao ano”, diz Weller.

O maior perigo para o regime militar, segundo o historiador, era o de que um presidente de esquerda revogasse a Lei da Anistia e determinasse a punição dos militares que praticaram abusos nos 21 anos da ditadura, incluindo a morte de opositores.

Para evitar esse desfecho, diz Weller, os militares desejavam que o primeiro governo civil fosse formado por políticos oriundos da própria ditadura.

Diante da inviabilidade eleitoral de Paulo Maluf, candidato dos militares no Colégio Eleitoral, o cenário mais palatável para a maior parte das Forças Armadas seria a vitória de uma chapa que, embora oposicionista, fosse conservadora.

Foi uma chapa assim que a ditadura permitiu vencer, formada por Tancredo Neves, expoente da direita do PMDB, e José Sarney, novato no PMDB e ex-presidente da Arena e do PDS, os partidos da ditadura.

“Ao se aliar a Sarney, a mensagem que Tancredo quis transmitir aos militares foi a seguinte: ‘Podem me aceitar como presidente, pois vou fazer um governo conservador e sem revanche’”, continua Weller.

Teoricamente, a classe política poderia esperar a Assembleia Nacional Constituinte, de modo que as eleições diretas fossem restabelecidas pela Constituição de 1988. Dois motivos, porém, anteciparam a medida para 1985.

Na eventualidade de Sarney ser impedido ou até morrer, o sucessor —caso não fosse instituída a eleição direta— precisaria ser escolhido pelo Colégio Eleitoral dos tempos da ditadura. Além disso, a volta imediata das eleições diretas havia sido uma promessa de Tancredo, e os políticos desejavam mostrar que ela não havia sido esquecida.

Sarney discutiu com seus aliados a PEC das eleições diretas no início de maio de 1985. É provável que não tenha feito isso antes porque aguardava a recuperação e a posse de Tancredo —o que nunca ocorreu. Sarney remeteu a proposta ao Congresso em 7 de maio, 16 dias após a morte de Tancredo.

O que os parlamentares promulgaram, porém, não foi a PEC de Sarney. Eles ampliaram uma proposta já em andamento, do deputado Navarro Vieira Filho (PDS-MG), que previa eleição direta para prefeito de estâncias hidrominerais.

O relator da PEC em andamento, deputado João Gilberto (PMDB-RS), redigiu um substitutivo assim que a proposta de Sarney chegou ao Congresso e aproveitou trechos do texto do presidente. O substitutivo foi aprovado com rapidez.

Os brasileiros passaram quase 30 anos sem escolher o presidente. A última vez havia sido em 1960, quando Jânio Quadros venceu. Voltaram às urnas em 1989, quando escolheram Fernando Collor.

A emenda constitucional 25 trouxe outras novidades: criou o segundo turno, restaurou o voto direto para os prefeitos de capitais, estâncias hidrominerais e municípios em área de segurança nacional, facilitou a criação de partidos e liberou o voto dos analfabetos.

Eu morro que sempre que leio algo sobre esse período de transição e os primeiros anos da Nova República, sempre há esse medo sobre o Brizola, inclusive sendo muito combatido

E cada vez mais que o tempo passa, fica óbvio como a Ditadura conseguiu tudo oq queria, do início ao fim… até 40 anos depois do fim dela, ainda é considerado polêmico falar do Golpe.

Vitória do bem