Há nove anos o estúdio francês Don’t Nod lançava o primeiro episódio do jogo que viria a se tornar um dos melhores games narrativos da história. Publicado em formato de série, Life is Strange dividiu o enredo em cinco episódios que foram lançados periodicamente entre janeiro e outubro de 2015. Trazendo diversos assuntos importantes que não tinham tanta notoriedade nos videogames, na época, e eram considerados tabus na sociedade, a história de Maxine “Max” Caulfield e Chloe Price conquistou diversos fãs ao redor do mundo.
Não é atoa que Life is Strange marcou a história e a vida de tantos jogadores ao longo dos anos. Durante os episódios, problemas cotidianos, como depressão, suicídio e bullying são apresentados na narrativa com a carga emocional necessária para demonstrar a real importância desses temas. O que faz com que os jogadores, principalmente adolescentes e jovens adultos, que experienciam aquela história em suas vidas criem uma conexão com o jogo e os personagens por conseguirem se enxergar naquelas situações.
“Procuramos por documentários e artigos, e nosso roteirista pesquisou bastante para garantir que estivéssemos lidando com estes temas de forma inteligente, sem tomar atalhos ou estereotipá-los demais - o que poderia trazer a reação oposta ao jogador”
disse Michel Koch, diretor de arte do jogo, em entrevista ao antigo UOL Jogos.
"Também não queríamos fazer nenhum julgamento de valores. Era importante se manter neutro com este tipo de coisa, mesmo em algo como a decisão da eutanásia, porque o jogador deveria decidir por si mesmo
DESENVOLVIMENTO DO JOGO
O desenvolvimento de Life is Strange começou ainda em 2013 com uma equipe de 15 pessoas, quando o estúdio francês decidiu publicar o jogo como um projeto independente, com um investimento menor que os outros jogos da Don’t Nod. No entanto, problemas financeiros do estúdio fizeram com que fosse necessário vender o projeto, já iniciado, para alguma publisher.
O processo não foi fácil, pois diversas empresas quiseram trocar as protagonistas femininas por personagens masculinos, o que não era a vontade dos desenvolvedores. A única publisher que não quis fazer a mudança na ideia inicial do projeto da Don’t Nod foi a Square Enix, que aceitou o jogo como um “grande debate para se ter”.
A princípio Life is Strange seria publicado por inteiro, da maneira mais tradicional, mas por razões criativas e restrições financeiras foi decidido adotar o formato de episódios, o que permitiria aos desenvolvedores contar a história em um ritmo mais lento. E esse foi um grande acerto. Ainda que todos os episódios sejam conectados, cada um deles é muito bem estruturado e sempre finalizando com um cliffhanger que deixa você ansioso pela continuação, o que provavelmente impulsionou as vendas dos episódios.
A HISTÓRIA
Para não entrar em muitos detalhes e deixar algum spoiler escapar, nesta sessão terá apenas um breve resumo da história de Life is Strange. Isso porque acho que para aqueles que nunca jogaram, vale demais experienciar a narrativa completa sem muitos spoilers.
Em Life is Strange o jogador seguirá a história de Max Caulfield, uma estudante de fotografia que descobre ser capaz de rebobinar o tempo ao salvar a melhor amiga, Chloe Price. As duas logo começam a investigar o desaparecimento misterioso da amiga e também estudante Rachel Amber, desvendando o lado sombrio da vida em Arcadia Bay. Ao mesmo tempo, Max aprende rápido que alterar o passado pode por vezes levar a um futuro devastador.O sucesso foi tanto que um spin-off de três capítulos chamado Life is Strange Before the Storm foi lançado em 2017, aprofundando no passado de Rachel Amber e Chloe Price. A ordem que você joga os dois jogos não importa muito, mas vale demais desfrutar das duas histórias, principalmente por estarem interligadas. Uma vez que Before the Storm, o jogador consegue enxergar de forma mais nítida a vida de Chloe e tudo o que ela passou para se tornar quem ela é em Life is Strange.
IMPACTO NA INDÚSTRIA
Assuntos como os que foram tratados em Life is Strange não eram tão enfatizados na mídia na época em que o jogo foi lançado, como são hoje em dia. Portanto, o jogo desempenha um papel importante no debate sobre depressão, bullying, suicídio e até mesmo no consumo de drogas, pois coloca temas considerados tabu em destaque no enredo. Com uma história emocionante que te envolve do início ao fim, muitos jogadores se viram criando “laços” com as protagonistas, principalmente Chloe, que representa muito bem a adolescência rebelde.
Além de tudo isso, Life is Strange também mostra para os jogadores o peso que suas decisões têm e que, mesmo podendo voltar no tempo, existirão consequências em todos os seus atos. Não adianta querer mudar o passado, pois, dessa forma, você também estará mudando o futuro. E com uma bela metáfora de uma tempestade, Life is Strange ensina que tudo o que podemos controlar é o presente, pois o passado já foi e o futuro é incerto.
Life is Strange
DONTNOD ENTERTAINMENT | 30 DE JANEIRO DE 2015
