Embora os números de audiência de “Vale Tudo” estejam aquém do esperado, é inegável que o alcance da novela nas mídias digitais e o consumo fora da exibição na TV aberta — especialmente no streaming — ainda são motivos de celebração para a Globo. No entanto, mesmo com essa performance que se distancia das medições tradicionais de audiência via Ibope e Kantar, a alta cúpula da emissora não está totalmente satisfeita com os resultados. Aliás, há certo incômodo.
Na busca por identificar possíveis gargalos, diversas reuniões e conversas têm acontecido nos bastidores. Um dos temas recorrentes nesses encontros é o horário de exibição das novelas. Ganha força internamente uma corrente que defende a readequação da grade, com a antecipação dos horários de exibição dos principais slots (termo utilizado na TV para se referir a faixas específicas da programação).
Na prática, isso significaria que a novela das nove passaria a ir ao ar às 21h em ponto (ou até um pouco antes), a das sete terminaria até às 19h15, e a das seis, até 18h15.
Estudos serão encomendados para confirmar uma tendência que já vem sendo observada de forma empírica: a de que o brasileiro passou a dormir mais cedo após a pandemia. Embora não haja dados específicos indicando que os brasileiros estão indo para a cama mais cedo, pesquisas revelam uma crescente preocupação com a qualidade do sono.
Um estudo realizado pela Royal Philips, que entrevistou 13 mil adultos em 13 países, incluindo o Brasil, apontou que, desde o início da pandemia, 74% dos brasileiros adquiriram um ou mais problemas de sono, com 50% relatando que a pandemia afetou diretamente sua capacidade de dormir bem. Esse aumento nas dificuldades relacionadas ao sono pode indicar uma maior conscientização sobre a importância de hábitos saudáveis, levando as pessoas a buscarem melhorar sua rotina de descanso.
Se essa tendência se confirmar, a estratégia da emissora será trabalhar na entrega de conteúdo qualificado e com maior atratividade para as marcas nos horários em que o público está mais concentrado. A partir das 22h até por volta das 2h da manhã, a ideia seria oferecer uma programação voltada a outro perfil de audiência, mais segmentado e afeito a formatos alternativos.
Embora ainda não existam estudos específicos (relacionando sono, horário de dormir e TV) que confirmem todas essas hipóteses, é comum ver nas redes sociais e em rodas de conversa pessoas estranhando os horários considerados muito tardios de exibição de determinados programas.
Mais do que nunca, é preciso observar o comportamento da audiência e se adaptar a ele. Já passou o tempo em que o público moldava sua rotina de acordo com a programação da TV, agora, é a TV que precisa correr atrás.