Miley Cyrus — Something Beautiful
Nota sugerida: 7.3
Miley Cyrus já não precisa provar mais nada para ninguém — nem vocalmente, nem artisticamente. Depois de experimentar com o rock em Plastic Hearts e equilibrar doçura e frieza pop em Endless Summer Vacation, Something Beautiful aparece como um álbum de maturidade estilística, onde tudo soa limpo, seguro e — de certo modo — bem intencionado. Mas o problema está justamente aí: o disco é bom, mas jamais chega a ser memorável.
A sonoridade é elegante, quase sempre caminhando entre um soft rock nostálgico e um soul-pop contemporâneo, com toques discretos de country e psicodelia aqui e ali. As produções de estúdio são sofisticadas, mas não arriscadas. Tudo está em seu devido lugar: reverbs bem controlados, sintetizadores que sabem a hora de entrar e sair, percussões calculadamente espaçadas. Há uma precisão técnica que torna o disco muito agradável de ouvir, especialmente em fones de ouvido, mas é como estar diante de uma casa perfeitamente arrumada — por mais bonita que seja, falta o elemento caótico que a torne viva.
Vocalmente, Miley está em plena forma. Seu timbre grave, rasgado e áspero continua sendo sua marca registrada, e talvez seu maior trunfo. Ela canta com entrega, mas não com invenção. Mesmo nos momentos mais emocionais, como nas baladas centrais do álbum, sente-se a ausência de uma vulnerabilidade verdadeira. A voz brilha, mas não rasga. É como se a própria produção do álbum — sempre contida, sempre refinada — impedisse qualquer risco mais visceral. Em outras palavras, o álbum parece polido demais para deixar qualquer ferida exposta.
As composições seguem uma linha segura. As letras falam de amor, perda, desejo de redenção e algum tipo de paz interior, mas tudo em um campo semântico muito genérico. Miley toca em emoções reais, mas evita mergulhar fundo nelas. Falta especificidade, falta aquela imagem inesperada, aquela frase que faz o ouvinte parar. Há um esboço de confissão, mas sem carne. A beleza do álbum, portanto, reside mais na estética sonora do que no conteúdo lírico.
No contexto da discografia de Miley, Something Beautiful se posiciona como um trabalho bem resolvido e coerente, mas que não representa uma evolução ou ruptura. É uma obra de uma artista que sabe o que está fazendo, mas que, nesse caso, escolheu o caminho mais confortável — e isso, ainda que compreensível, a impede de alcançar a excelência artística que seus talentos claramente permitem. O disco é bonito, sim, mas não é urgente, nem essencial.
No fim, o título se cumpre: Something Beautiful é exatamente isso — algo bonito. Nada menos, mas também nada mais.
Concordam dolls?