Mônica: música icônica da lenda LGBT Angela Ro Ro denunciava o machismo, feminicídio e casos bárbaros 40 anos atrás

A história da música Mônica, sucesso de Angela Ro Ro, é marcada por uma tragédia que marcou o século XX e traz à tona a discussão sobre a violência contra as mulheres e o feminicídio.

Considerada uma das maiores vozes da música brasileira e precursora do movimento LGBTQIA+ no Brasil. Primeiro ícone da música brasileira a se assumir abertamente lésbica.

A artist trouxe para sua então nova composição o horror cotidiano vivenciado pelas mulheres brasileiras, em um ciclo de violência, abuso e medo. Além do assassinato de Mônica, mais três feminicídios são lembrados na música: os casos de Aída Curi, Aracelli e *Cláudia Lessin.

Letra completa da música:

Garota, não vá se distrair
E acreditar que o mundo vive
A inocência desse teu olhar
Você se engana e se dá mal
Com tipinho anormal
E a sociedade vai te condenar

Morreu violentada por que quis
Saía, falava, dançava
Podia estar quieta e ser feliz
Calada, acuada, castrada
Morreu violentada por que quis
Saía, falava, dançava
Podia estar quieta e ser feliz

Agora não dá mais para sonhar
O seu diário na TV
Não há segredos mais pra ocultar
Todos vão saber que era criança
E que amava muito os pais
Que tinha um gato e outros pecados mais

Morreu violentada por que quis
Saía, falava, dançava
Podia estar quieta e ser feliz
Calada, acuada, castrada
Morreu violentada por que quis
Saía, falava, dançava
Podia estar quieta e ser feliz

Aída Curi era rock
Aracelli balão mágico
Cláudia Lessin a geração de Reich
O que eu não vou classificar
É a dor do pai, a dor da mãe
Que ela poderia ser, mas não vai

Queremos o seguinte no jornal
Quem mata menina se dá mal
Sendo gente bem ou marginal
Quem fere uma irmã tem seu final
Queremos o seguinte no jornal
Quem mata menina se dá mal
Sendo gente bem ou marginal
Quem fere uma irmã tem seu final
Quem mata menina se dá mal
Quem mata menina
Quem mata menina
Quem mata menina
(Quem mata menina)

Caso Mônica

Para atrair a menina até seu apartamento, Ricardo mentiu sobre morar com os pais e disse que queria buscar um casaco. Ao chegar ao prédio, Mônica se deparou com outros dois jovens, Alfredo Patti do Amaral e Renato Orlando Costa.

O trio tentou estuprar a menina, que reagiu às investidas. Diante do fracasso em consumar a violência sexual, os homens torturaram e espancaram Mônica, que, em seguida, foi arremessada da varanda do apartamento, no sétimo andar.

Ricardo, Alfredo e Renato removeram o corpo de Mônica do parquinho do prédio, higienizaram a área e enrolaram a vítima em um lençol. Na sequência, desovaram o corpo às margens da Estrada Dona Castorina, onde foi encontrado.

Angela Ro Ro lembra que a vítima, que sofreu tantos julgamentos e ataques machistas mesmo após sua violenta morte, era apenas uma menina, com todo um futuro pela frente. Sobre Mônica falou-se até que era travesti - como se isso fosse uma ofensa.

Caso Aída Curi

Aída foi levada à força por Ronaldo Castro e Cássio Murilo ao topo do Edifício Rio Nobre, na Avenida Atlântica, onde os dois rapazes foram ajudados pelo porteiro Antônio Sousa a abusar sexualmente da jovem.[3]

De acordo com a perícia ela foi submetida a pelo menos trinta minutos de tortura e luta intensa contra os três agressores, até vir a desmaiar.[4]

Para encobrir o crime os agressores atiraram a jovem do terraço no décimo segundo andar do prédio tentando simular um suicídio.[5][6] Aída faleceu em função da queda.[7]

O crime chocou o Brasil na época e acabou relembrado após o assassinato de Mônica. Além de Angela Ro Ro, Rita Lee também citou o caso em sua música Todas as Mulheres do Mundo.

Caso Araceli

O caso do desaparecimento e morte da menina de oito anos, Araceli Cabrera Crespo, em maio de 1973, intriga pela grande quantidade de fatos desencontrados até hoje, 50 anos depois do crime.

Araceli foi raptada, drogada, estuprada, morta e carbonizada no Espírito Santo. O corpo foi deixado desfigurado e em avançado estado de decomposição próximo a uma mata, em Vitória, dias depois de desaparecer.

Caso Cláudia

O Caso Cláudia refere-se a um crime ocorrido em 1977, no Rio de Janeiro - o assassinato da jovem Cláudia Lessin Rodrigues, de 21 anos, na casa de Michel Frank, milionário suíço-brasileiro supostamente envolvido com o tráfico de drogas. Acusado do crime, Michel fugiu para a Suíça, onde foi morto a tiros em 1989, sem nunca ter sido julgado.[1][2]

O corpo de Cláudia Lessin Rodrigues foi encontrado em uma encosta da Avenida Niemeyer. A jovem de 21 anos estava nua, tinha uma sacola cheia de pedras amarrada ao corpo e apresentava sinais de espancamento e violência sexual.