As agressões ocorreram durante o On Funk Festival, no último domingo (7). - Foto: Mídia Ninja
Luiz Augusto Gomes, que trabalhava como motorista de aplicativo, já não consegue manter sua principal fonte de renda
Mayala Fernandes
Curitiba (PR) | 12 de abril de 2024 às 18:10
A noite que deveria ser de lazer e diversão para Luiz Augusto Gomes Pereira, estudante de Educação Física e motorista por aplicativo, transformou-se em um episódio de violência e racismo. Durante uma festa, Luiz foi agredido por seguranças e corre o risco de perder da visão de forma definitiva.
Na madrugada do domingo (7), Luiz Augusto estava acompanhado de sua esposa, Mirian de Paula Soares, no On Funk Festival, que aconteceu no Espaço Torres, em Curitiba. O jovem, que portava uma pulseira de identificação como pagante do ingresso, foi impedido de retornar ao recinto após sair brevemente para ajudar um amigo que tinha sofrido um ligeiro mal estar.
Ao tentar explicar a situação aos seguranças, foi agredido por um deles, identificado como Eduardo Felipe Ribeiro, que desferiu socos, chutes e uma coronhada na cabeça da vítima.
A violência não parou por aí. A esposa de Luiz também foi agredida ao questionar os motivos das agressões contra seu marido. O casal foi levado ao Hospital do Trabalhador para receber cuidados médicos.
Luiz e Mirian durante o On Funk Festival, momentos antes de serem agredidos. / Foto: Arquivo Pessoal
No entanto, a situação se agrava pelo histórico do jovem, que há três anos passou por um transplante de córnea no olho agredido. As lesões foram tão graves que ele precisou de outra cirurgia de emergência no Hospital de Olhos, perdendo a visão deste olho.
“Recentemente eu fiz um transplante e estava 100% recuperado, levava minha rotina normal, mas hoje me encontro debilitado e com dificuldade para reconhecer as pessoas”, conta Luiz. “Era o olho com o qual eu enxergava melhor, o outro já tem uma visão muito baixa”, diz.
Hoje, com perda de visão de um dos olhos, Luiz está impossibilitado de continuar trabalhando como motorista de aplicativo, principal fonte de renda do casal, assim como estudar e resolver as coisas do dia a dia.
“Tanto eu quanto a minha esposa estamos muito abatidos, estamos com medo e vergonha de sair na rua, porque além da agressão, nós também sofremos algumas ameaças”, revela Luiz. “Ainda estou tentando entender o que aconteceu e porque comigo”.
Defesa do caso
A Associação Cultural de Negritude e Ação Popular (ACNAP) está prestando apoio aos jovens e disponibilizou uma advogada que os acompanhou no processo de boletim de ocorrência.
“A ACNAP está encaminhando também apoio psicológico, porque como foi um muito caso grave, o Luiz está abalado e precisando de acolhimento”, afirma Maria Lucia de Souza, presidente da ACNAP.
A organização também emitiu uma declaração pública, exigindo a punição dos responsáveis, a responsabilização do estabelecimento e uma indenização completa pelos danos físicos e morais sofridos pelo jovem. Além disso, solicita a cassação imediata do Alvará de funcionamento do Espaço Torres.
“Como ele é um jovem negro que foi agredido sem motivo nenhum, nós da entidade já sabemos qual foi o motivo, por isso estamos encaminhando a denúncia”, destaca a presidente da ACNAP
A redação do Brasil de Fato Paraná entrou em contato com o Espaço Torres e Ademar Júnior, diretor geral do local, se manifestou afirmando que a empresa apenas realiza a locação do imóvel. “Somos um centro de convenções, não nos responsabilizamos pelos eventos. A empresa que aluga deve se responsabilizar pelas ações, inclusive é quem cuida da contratação dos seguranças”, afirma Ademar.
Os organizadores do evento On Funk Festival também foram contactados, mas não aceitaram se manifestar até a publicação desta matéria.
Edição: Pedro Carrano