O MPT-SP (Ministério Público do Trabalho de São Paulo) abriu nesta quinta-feira (25) uma investigação para apurar casos de assédio sexual da Record. O mote da investigação serão os dois casos que se tornaram públicos recentemente.
Ao F5, o MPT-SP confirma as investigações, e explica que havia recebido uma denúncia de assédio na Record no início do ano, mas o denunciante não respondeu notificações para prestar maiores esclarecimentos.
No entanto, com as informações publicadas na imprensa, o MPT diz que tem elementos para começar uma apuração própria baseada na denúncia realizada inicialmente feita sem nomes. O órgão já começou o rito interno para iniciar os trabalhos.
A reportagem apurou que o MPT vai focar a investigação para entender se havia um esquema dentro da Record para abafar denúncias de assédio moral e sexual realizada por funcionários ao setor de recursos humanos da empresa, em conluio com chefes do setor de jornalismo.
Os dois casos que se tornaram públicos recentemente serão usados como fio-condutor. O primeiro é de Rhiza Castro, apresentadora da Record News que teria sido assediada pelo então diretor de jornalismo do canal de notícias, Thiago Feitosa.
Rhiza diz que recebia mensagens com elogios a sua beleza, e fotos do seu trabalho na redação. Feitosa chegou a dar um vinho para a âncora de 32 anos no fim de 2022. Como não teve sucesso em suas investidas, Rhiza perdeu espaço na TV.
Em janeiro de 2023, ao denunciar o caso para o diretor de Recursos Humanos da Record, Márcio Santos, foi demitida dois dias após formalizar o que aconteceu. Rhiza entrou com duas ações na Justiça contra a emissora e contra Feitosa.
A primeira foi uma condenação na esfera trabalhista, que determinou um pagamento de uma indenização milionária para Rhiza em decisão de primeira instância.
O outro foi a ação na parte criminal. A Record comprovou que Feitosa pagou R$ 26 mil após fechar um acordo de transação penal com o Ministério Público de São Paulo.
Nele, Feitosa admite que cometeu o crime, mas paga um valor para o processo ser arquivado. A quantia que foi depositada na conta do Fundo Municipal da Criança e do Adolescente de São Paulo.
A Record demitiu Thiago Feitosa em novembro de 2023. A defesa de Feitosa diz que “o inquérito policial esta arquivado sem qualquer tipo de condenação ou culpa e correu em segredo de justiça, qualquer manifestação contraria a essa é criminosa”.
O segundo caso é o de Elian Matte, ex-editor de programas de Roberto Cabrini na Record. Elian diz que as investidas começaram no fim de 20222, após ser transferido para a equipe de Cabrini, e que Marcio Santos, diretor de RH da Record, passou a convidá-lo para reuniões em sua sala.
Na terceira delas, em novembro de 2022, o diretor de RH teria feito perguntas pessoais ao repórter, indo além de assuntos profissionais. A partir disso, a conversa teria migrado para o WhatsApp.
De acordo com Matte, Santos insistia para que os dois se encontrassem foram dali, com mensagens de cunho sexual. Prints das conversas de WhatsApp foram anexados pelo repórter no boletim de ocorrência.
Matte alega também que Santos lhe assistia através do sistema de câmeras do circuito interno, ao qual os diretores têm acesso por meio de um aplicativo de celular. O diretor também teria enviado fotos se insinuando sexualmente a Elian.
Elian fez várias tentativas de denúncias contra Marcio Santos com diversos executivos da Record, mas nenhuma teve sucesso. Sua situação só mudou após o jornalista abrir um boletim de ocorrência na polícia civil pelo caso.
Elian Matte foi demitido da Record nesta semana, o que segundo ele, é ilegal, já que está afastado pelo INSS por “esforço excessivo”. Marcio Santos teria sido desligado no início de abril, mas o F5 apurou que ele segue com seu e-mail ativo na emissora e tem conversado com executivos frequentemente.
Para todos os efeitos, Santos está afastado de suas funções e também da Igreja Universal do Reino de Deus, agremiação liderada por Edir Macedo, proprietário da Record, enquanto a Polícia Civil de São Paulo não conclui o inquérito sobre o caso. Márcio Santos diz que tudo não passou de “brincadeiras” e afirmou ser vítima de uma mentira.
Procurada para falar sobre os casos e a abertura de inquérito por parte do Ministério Público do Trabalho, a Record não respondeu até a última atualização da reportagem.