Paula Picarelli fala sobre 'Mulheres apaixonadas' e nova edição do livro sobre sua experiência numa seita religiosa

No ar em “Mulheres apaixonadas”, Paula Picarelli conta que se emociona ao constatar que o trabalho ainda impacta o público duas décadas depois de ter ido ao ar pela primeira vez. Ela interpreta Rafaela, jovem que vive um romance com Clara (Alinne Moraes):

— Toda vez que a novela volta ao ar é muito lindo. As pessoas enchem as minhas redes sociais com histórias de amor que foram inspiradas nas personagens. Há ainda depoimentos muito fortes de pessoas dizendo que se descobriram por conta da novela ou que ela ajudou a dialogarem sobre sexualidade dentro de casa.

Ao mesmo tempo que se orgulha do trabalho, ela diz que não tem apenas recordações felizes daquela época. Ela passava por um período conturbado e estava insegura sobre o seu desempenho:

— Eu estava vindo do teatro. Confesso que fui muito mimada, desde a faculdade. Eu fui arrogante. Achei que fazer novela fosse muito mais fácil do que teatro. E, quando me vi ali, descobri que não tinha ferramentas. Me senti perdida. Também não conhecia ninguém no Rio, me sentia muito sozinha. Eu fiquei bem famosa, e a minha vida mudou completamente. Mas eu fui rever a novela depois de anos e vi que estava tudo certo com a minha atuação. Hoje eu gosto.

Naquele período, ela integrava uma seita religiosa da qual fez parte durante oito anos. Ela decidiu falar sobre isso no livro “Seita - O dia em que entrei para um culto religioso” (Editora Reformatório), que está ganhando uma segunda edição. Na obra, por meio de uma ficção, ela conta experiências reais:

— Achei que esse processo de revisão fosse ser simples, porque eu também escrevo para teatro e estou acostumada a reler os meus próprios textos. Imaginei que essa história nem era mais sobre mim, mas sobre um tema importante a ser discutido. Mas, assim que eu abri o livro para fazer a revisão, toda a sensação voltou. Por um lado, é muito difícil entrar em contato com esse caso, mas por outro é muito divertido também, porque foi tanta maluquice. É um misto de emoções.

Paula deixou o grupo há 15 anos e comenta que se sente muito feliz por poder usar a sua experiência para evitar que outras pessoas passem pela mesma situação.

— Já teve gente que me escreveu dizendo que, por conta do livro, conseguiu reconhecer as armadilhas antes de entrar numa seita. Isso me alegra, porque eu fui longe demais. Eu sempre tive o perfil CDF e, quando acreditei que aquilo era verdade, fui muito fundo na experiência. Foram oito anos. Posso dizer que tenho mestrado e doutorado no assunto — diz ela sobre o grupo, liderado por duas mulheres. — Acho que por isso não tivemos casos de abusos sexuais, como é visto em outros. Creio que também por isso essa história nunca veio a público. Eu mesma não tenho coragem de dar nome aos bois. Eu criei uma ficção para contar essa história. Era uma seita com todos os requisitos, incluindo abusos psicológicos e morais e ameaças de morte.

Mesmo sem citar nomes, ela diz que a publicação causou impacto entre antigos membros:

— Teve quem se identificou com algum personagem e não gostou e quem não se identificou com nenhum e se sentiu excluído (risos). Alguns acharam que eu peguei muito leve e outros, que peguei muito pesado. E vários pararam de falar comigo. O que me surpreendeu é que eu achei que todos iriam tirar a mesma conclusão e que iríamos rir juntos disso. Não aconteceu. Acho que algumas pessoas não fizeram essa revisão e a reflexão sobre o ocorrido.

Paula é mãe de Sofia, de 11 anos, e diz que preza pela criação com liberdade de comunicação e diálogo:

— Eu não imponho nada para ela, só respondo aos questionamentos que ela traz. A gente tem um diálogo franco sobre todas as questões, desde sexualidade a afinidades. Fico emocionado de ver uma pessoa que vai ser menos encucada do que a minha geração. Simplesmente porque a gente não reprime.

Agora ficou mais claro pq depois da novela ela nunca mais teve oportunidades na Globo. Quem queria contratar uma doida enfiada numa seita religiosa?
Devia ser mega chata, que ficava querendo converter os outros.

O que temos a ver com isso?