Antes mesmo de o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciar um tarifaço sobre todas as importações do país, no início de abril, a economia americana já começou 2025 em retração. O Produto Interno Bruto (PIB, o valor de todos os produtos e serviços produzidos) do país caiu 0,3% no primeiro trimestre, ante os três meses anteriores, informou nesta quarta-feira o Escritório de Análise Econômica (BEA, na sigla em inglês).
O resultado considera a taxa anualizada, metodologia diferente da usada pelo IBGE no Brasil. No último trimestre de 2024, o PIB americano havia avançado 2,4%, também em termos anualizados.
O resultado - a primeira queda do PIB desde 2022 - veio bem abaixo do esperado pelos analistas de mercado. A pesquisa mais recente da agência Bloomberg sobre as projeções econômicas apontava para um avanço de 0,5%, na taxa anualizada no primeiro trimestre. O piso das expectativas dos analistas era de 0,2%.
De acordo com o BEA, o recuo aconteceu porque houve aumento de importações e menos gastos do governo. As importações pesam negativamente no cálculo do PIB.
O resultado só não foi pior porque houve alta dos investimentos, das exportações e do consumo das famílias, embora o apetite por compras dos americanos tenha desacelerado.
Corrida para importar
O salto nas importações é explicado em parte pela corrida das empresas americanas para antecipar as compras do exterior e, assim, fugir das tarifas de Trump. Em fevereiro, poucos dias após sua posse, o presidente anunciou sobretaxa de 10% para produtos chineses e logo depois mais 10%. Diante das ameaças de novas tarifas, os importadores aumentaram as encomendas.
As chamadas tarifas recíprocas, que elevaram os tributos sobre a China para 145%, foram implementadas em abril, já no segundo trimestre. Também em abril, Trump anunciou uma tarifa mínima universal de importação de 10%, afetando inclusive o Brasil, mas suspendeu o tributo em seguida por 90 dias.
O fato é que as intenções de Trump de dar uma guinada na política de comércio exterior dos EUA desorganizou o dia a dia das empresas, com efeito sobre a balança comercial e o PIB do país.
Em março, o déficit comercial dos EUA saltou 9,6% ante fevereiro, para US$ 162 bilhões, segundo o Departamento de Comércio americano.
O avanço de 5% nas importações, para US$ 342,7 bilhões em março, foi puxado por bens de consumo, indicando antecipações das compras no exterior antes que as taxas mais elevadas passassem a valer nos EUA.
Ano passado, a economia dos EUA cresceu 2,8%. Após o anúncio do tarifaço de Trump, economistas do mundo todo correram para revisar para baixo suas projeções para o crescimento de 2025.
A pesquisa de abril da Bloomberg sobre as projeções de analistas de mercado apontou para um crescimento esperado de 1,4% este ano, a metade de 2024. Na edição de janeiro do levantamento, as projeções estavam em 2,2%.
Na semana passada, o Fundo Monetário Internacional (FMI) anunciou uma revisão na projeção de crescimento econômico dos EUA para 1,8% este ano, 0,9 ponto a menos do que a estimativa anterior, feita em janeiro, de 2,7%.
Sinais de recessão
Por trás das revisões para baixo, estão as expectativas de impactos negativos do tarifaço de Trump. Além do fato de que as tarifas mais altas tendem a acelerar a inflação, desestimulando o consumo, o vaivém do governo americano — que ora anuncia alta de tarifas, ora adia a entrada em vigor das sobretaxas — eleva a incerteza entre consumidores e empresários, que tenderão a adiar investimentos e decisões de consumo.
O mercado de trabalho dá sinais de que está perdendo o fôlego. Nesta quarta-feira, dados sobre contratações do setor privado nos EUA mostram que houve mais 62 mil admissões neste mês, ritmo mais lento dos últimos nove meses. A pesquisa é feita pela ADP, companhia responsável pela folha de pagamento de mais de 25 milhões de trabalhadores.
Na véspera, outra pesquisa, a Job Openings and Labor Turnover Survey (Jolts), da agência americana de estatísticas do trabalho, apontou que houve abertura de 7,2 milhões de vagas em março, o nível mais baixo desde setembro do ano passado, quando foram criados 7,4 milhões.
Para além da atividade do primeiro trimestre e dos dados de emprego, uma série de indicadores antecedentes sugerem que a economia dos EUA pode estar à beira da recessão — 45% dos economistas entrevistados na pesquisa de abril da Bloomberg achavam que poderia haver recessão, ante 30% em março.
Nos últimos meses, têm sido registradas quedas em índices de confiança do consumidor, em indicadores sobre encomendas da indústria e o Índice Econômico Antecedente (LEI, em inglês), calculado pelo instituto de pesquisa americano The Conference Board, recuou 0,7% em março, o segundo resultado negativo após a queda de 0,2% de fevereiro.