Pitchfork aclama álbum de funk brasileiro com nota 7.8

A última compilação do NTS é uma montanha-russa de maximalismo club, mostrando a criatividade infinita do submundo do funk paulista.

A cena funk de São Paulo é, em parte, produto da extrema estrutura urbana e das condições sociais da cidade. Muitas vezes chamada de “selva de concreto”, a megacidade abriga a maior população do Brasil e uma das mais densas; é fortemente industrializado, com edifícios imponentes espalhados por um tamanho monstruoso, e tudo isso se transforma em uma versão metálica e destrutiva do funk brasileiro.

A nova compilação do NTS, funk.BR - São Paulo, reúne os estilos variados de mandelão, bruxaria e muito mais em 22 faixas exclusivas, proporcionando uma turnê rápida com a qual você pode pular e mergulhar neste som emocionante e rebelde.

A rede de gêneros que se enquadram no mandelão não tem a história mais antiga da cena funk carioca, mas evoluiu rapidamente devido ao seu espírito de superioridade. O lança-perfume, droga que vem do cloreto de etila e produz sensações alucinógenas e sensíveis ao som, é presença constante nas festas de rua, criando tons vibrantes que são centrais em vários estilos de mandelão.

Enquanto isso, a cultura funk automotiva de carros turbinados, com paredes de alto-falantes no porta-malas, aprimorou os graves. Com mais de 1.700 favelas registradas na cidade, cada uma mais ou menos com seu próprio talento, o tamanho e o barulho da metrópole levam os artistas a se destacarem e reivindicarem o som mais alto, mais imprevisível e mais original como seu.

Ao fazer isso, eles estão indo muito além do precipício do que esperávamos - criando mixagens que obscurecem e pronunciam elementos de maneira experimental, dobrando firmemente a estrutura da música club para triplicar a quantidade de quebras e aumentando o volume para novos níveis de maximalismo de clube. Além de refletir a contínua popularidade do gênero nos espaços eletrônicos underground do Norte Global, o funk.BR leva esses sons ainda mais longe.

As músicas do funk mandelão ressoam como faróis para o submundo, unindo pulsações techno deslumbrantes aos ouvidos com o ritmo familiar do funk caindo e colocando-o em um tonel de fumaça densa. Toplines cruzam batidas monótonas de sinos e panelas de metal com sintetizadores rave (“Acende o Sinalizador” do DJ Pikeno MPC e MC BF), assobios (“Automotivo Destruidor, P7 Vai Te Destruir” do DJ P7 e MC PR) e flautas de bambu (DJ Lorrany’s “Mandela Boceta”).

Anti-heróis roucos gritam um Rolodex de comandos – “obedece” e “galopa”, que significa “obedecer” e “cavalgar” – e MCs femininas como MC Bibi Drak flertam como megeras de vídeo. Mas ambos não se incomodam ao serem apanhados e espremidos numa tempestade de abrasão surreal nas avarias.

As faixas do funk.BR passam velozes com uma impaciência altista que é desorientadora, oscilando entre o automotivo intensamente físico, o ritmado de revirar os olhos e a bruxaria de dilacerar os tímpanos.

“Bruxaria de Extrema Periculosidade” do DJ Léo da 17 e DJ BIG ORIGINAL leva apenas 14 segundos antes do contagiante “Bi-Bi-Big Original!” A tag do produtor inicia uma camada rápida de bumbo de espingarda. Pisque e você sentirá falta de como “Best of Both Worlds from Brazil” do DJ Livea & iamlope$$ voa através de trombetas marchando sobre tambores comprimidos, uma quebra de broca, samba com fundo de trompa e bolha de batida (um estilo que significa literalmente “bubble beat”) em pouco mais de dois minutos.

As faixas mais estridentes parecem colossais, como se o MC e o sistema de som fossem gigantes prestes a engoli-lo inteiro; você só pode ver seus dentes e tweeters através da névoa obscura. O DJ Arana, uma bala de canhão humana, famoso por seus estridentes colapsos de paredes de ruído, contribui com “Montagem Phonk Brasileiro”, onde um grave sufocante queima através de um lamento eletrônico dolorido como um ferro quente, deixando-o saltitar com os MCs quase inaudíveis.

Artistas de funk já há algum tempo criam texturas e sons em uma escala inconcebível usando software de edição de vídeo, telefones celulares e aplicativos de DJ para iPad, e esta compilação é apenas mais uma prova dessa inventividade.

A anatomia bizarra das músicas mais minimalistas funciona com uma falta proposital de elementos. Nenhuma linha de baixo entra em “Beat das Galáxias” do DJ Blakes & MC GW, o que faz com que pareça nu - mas por que ter uma quando uma sirene balística semelhante a uma arma de laser pode forçar corpos a se moverem?

Nada é sacrossanto, nem mesmo o bumbo, o impulso universal da dance music. Quando está ausente, não parece leve. Em vez disso, outros ritmos entram em ação com uma alimentação secundária, como em “Você Sabe”, do DJ Caio Santos, cujo knock! isso! limpar! o padrão fica tão vazio que você começa a registrar seus ecos como um floreio rítmico.

No que poderia ter sido um momento em que o Norte Global assume o controle da narrativa do funk brasileiro, o funk.BR - São Paulo se beneficia do recrutamento de vozes autênticas na cena para compilá-la, incluindo o contribuidor do Pitchfork, Felipe Maia, e o gerente artístico Jonathan Kim.

Embora a sequência às vezes possa tirar um pouco o fôlego (“Uq Tenho que Fazer” do DJ Saze parece inofensivo depois de tantos sucessos pesados), seu conhecimento arraigado ajuda a capturar o espírito vigorosamente competitivo da cena em muitos microestilos. Assim como a expansão de edifícios em São Paulo muitas vezes obstrui a visão do horizonte, a criatividade do funk paulista parece não ter fim à vista.

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Álbuns de artistas brasileiros já avaliados pela Pitchfork:

NOTA ARTISTA/ÁLBUM
10 Amon Tobin — Bricolage
9.6 Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa, Os Mutantes, Tom Zé & Jorge Ben Jor — Tropicália: A Brazilian Revolution in Sound
9.5 Milton Nascimento & Lô Borges — Clube da Esquina
9.4 Caetano Veloso — Caetano Veloso (1968)
9.0 Erasmo Carlos — Erasmo Carlos E Os Tremendões
9.0 Caetano Veloso — Livro
8.9 Caetano Veloso — Antologia 69-03
8.8 Caetano Veloso — A Foreign Sound
8.5 Erasmo Carlos — Carlos, ERASMO…
8.5 Gal Costa — Índia
8.4 Elza Soares — A Mulher do Fim do Mundo
8.2 Dennis DJ, MC MDY, Mr. Catra, MC G3, Os Magrinhos, DJ Sandrinho, Isaac DJ, MC Sabrinha, MC Cula, Verônica Costa, EDU K, Deize Tigrona, Juliana e as Fogosas, MC Cris, Moleque Manhoso, Bonde do Vinho, Roque Bolado, Voltair e MC Marcinho — Rio Baile Funk: More Favela Booty Beats
8.1 Caetano Veloso — Noites do Norte
8.0 Erasmo Carlos — Sonhos E Memórias 1941-1972
8.0 Amaro Freitas — Y’Y
7.9 Tom Zé — Estudando o Pagode: Na Opereta Segregamulher e Amor
7.9 Agentts, Black Future, Akira S e As Garotas Que Erraram, Azul 29, Chance, Fellini, Ira!, AKT, VZYADOQ, As Mercenárias, Muzak e Voluntários da Pátria — Não Wave: Brazil Post Punk 1982-1988
7.9 DJ K — Panico no Submundo
7.8 As Mercenárias, Akira S e As Garotas Que Erraram, Fellini, Gang 90 e as Absurdetes, Chance, Patife Band, Gueto, Nau, Smack, Muzak, Cabine e Harry — The Sexual Life of the Savages: Underground Post-Punk in São Paulo, Brasil
7.8 SD9 — 40°.40
7.8 Various Artists — funk.BR - São Paulo
7.7 Luísa Maita — Fio da Memória
7.7 MC Bin Laden — É Grau EP
7.7 DJ Ramon Sucesso — Sexta dos Crias
7.6 Superficie — Hélices - EP
7.6 Tim Bernardes — Mil Coisas Invisíveis
7.5 A Filial, BNegao e Os Seletores de Frequencia, Digitaldubs, Movimento na Rua e Gabriel Moura — Inspiring New Sounds of Rio de Janeiro
7.3 Sessa — Estrela Acesa
7.1 Tom Zé e Gilberto Assis — Santagustin
6.7 Tom Zé — Postmodern Platos EP
6.7 Bebel Gilberto — Agora
6.5 Bonde do Rolê — With Lasers

@Alternativxs @MPBichas

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passo mal que a anitta já vai no terceiro álbum com intenção de ser internacional e nunca recebeu uma review com nota deles

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álbum saiu ontem e eles já soltaram resenha com notinha, como será que funciona isso?

se avaliarem algum dela é capaz da nota ser alta por acharem que é algo experimental regional

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mas é old que funk generation vem aí com 8.5

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Sempre passo mals com o Bin Laden 7.7

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nenhuma abaixo de 6.5
sofro com eles tendo que forçar pra não parecerem xenofóbicos

Algumas gravadoras costumam mandar os discos antes do lançamento pra avaliar, não?

essa música dele com gorillaz é muito boa

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KKKKKK

e morreu ai mesmo

EDIT: meu deus, cancela, ele tem diversos albuns nota 9 uaaa

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eles vao fazer review do funk generation visto que saiu na lista deles de albuns mais esperados do ano

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depois de muito sufoco espero que venha aí kk

aquele post de eles aclamarem qualquer coisa gringa é meio que real né

Rare: 6.8

anitta tava fazendo pop
datado com reggaeton mela cueca

obviamente nao iam perder tempo

na verdade eles nunca avaliaram nenhum artista pop brasileiro, perceba que são sempre estrelas da mpb (que sempre foram aclamados por todos) e esses nichados experimentais para pagarem de diferentões

Eu jurava que aquele Tropicalia com 9.6 era o de 1968, mas é um álbum compilado :hmmm:

O funk fornication vai emocionar na nota, old que ela que leva o funk pro mundo

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