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No ano passado, um contrato com a Bombas Sinos rendeu uma multa do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio Grande do Sul, o CREA-RS, à prefeitura de Porto Alegre.
Segundo a decisão, a prefeitura não forneceu “as informações necessárias para a fiscalização de um serviço de manutenção mecânica nas casas de bombas do sistema de proteção contra cheias de Porto Alegre”.
A administração municipal, segundo o órgão, deixou de atender a uma solicitação de documentos e providências feita pelo CREA-RS em março de 2019, referente à sua responsabilidade técnica na prestação dos serviços contratados.
O fato ocorreu na época em que Thierri Moraes era o responsável por fiscalizar a empresa. Naquele mês, o engenheiro passou a ocupar o cargo de chefe de divisão e ganhou adicional de periculosidade sobre o salário. Em junho de 2019, se tornou retroativamente o fiscal titular do contrato da Bombas Sinos. Quem o nomeou foi o então secretário municipal de serviços urbanos, o hoje vereador Ramiro Rosário, do Novo.
O contrato que Moraes fiscalizava foi firmado em 2017, com valor inicial de R$ 2,28 milhões. No final de 2019, o montante foi elevado para R$ 2,84 milhões. A contratação foi prorrogada por quatro vezes.
Em outubro de 2020, Thierri Moraes deixou a prefeitura. Um mês depois, passou para o outro lado do balcão: virou diretor comercial da Bombas Sinos, segundo seu LinkedIn. Ao Intercept, a empresa afirmou que o engenheiro começou como prestador de serviços “devido a sua expertise de mercado”.
Thierri Moraes ascendeu na prefeitura de Porto Alegre sob o comando de Ramiro Rosário, então secretário de Serviços Urbanos de Nelson Marchezan Júnior. Sob seu comando, a pasta defendeu a privatização do Departamento Municipal de Água e Esgoto.
Em fevereiro de 2021, o Tribunal de Contas do Estado publicou um relatório sobre a situação do DMAE, revelado pelo Matinal Jornalismo. Segundo a Corte, Marchezan Júnior teve “conduta contrária ao interesse público, desarrazoada e imprudente” na gestão da empresa com a intenção de privatizá-la.
Como resultado, os serviços do DMAE foram prejudicados, implicando em aumento de interrupções no fornecimento de água de mais de 40%.
Outra reportagem, do site do Sul21, apontou que o corte sistemático de verbas e a falta de autonomia do DMAE são reclamações recorrentes do servidores agora na gestão de Sebastião Melo, do MDB.
Os números falam por si. De R$ 239,72 milhões investidos no órgão em 2012, o valor caiu para R$ 136,87 milhões em 2022. Em 2007, o DMAE tinha 2.493 funcionários. Em 2024, esse número é em torno de 1.050, uma redução em mais de 50%.
“A precarização do DMAE, fruto de uma decisão política atrelada ao ‘modelo de negócio privatização- concessão-parceirização’, o qual reduziu a capacidade técnica e operacional do Departamento, seja pela falta de reposição do quadro funcional, ausência de planejamento com visão do futuro da Autarquia ou pela proposital falta de investimentos em expansão e melhorias”, diz o Conselho de Representantes Sindicais do Departamento Municipal de Água e Esgotos.