Localizada a 36 quilômetros do litoral sul de São Paulo, existe uma ilha coberta pela Mata Atlântica, sem praias e de difícil acesso, mas que afasta possíveis visitantes por outro motivo. A Ilha da Queimada Grande, localizada entre os municípios de Itanhaém e Peruíbe, é protegida por um contingente de milhares de cobras venenosas. Trata-se do local com a maior concentração de serpentes no Brasil.
Ilha da Queimada Grande: um dos lugares com mais cobras no mundo
Segundo biólogos do Instituto Butantan, que estudam os animais da região desde 1911, a população estimada de cobras na Ilha da Queimada Grande é de pelo menos 15 mil indivíduos. O local abriga duas espécies de jararacas: a Ilhoa (Bothrops insularis) e a Dormideira (Dipsas mikanii). A primeira delas é endêmica da ilha, ou seja, não ocorre em nenhum outro lugar no mundo.
Em relação à concentração de serpentes, segundo o Butantan, o local só perde para a Ilha de Shedao, na China, que abriga por volta de 20 mil desses animais. Entretanto, a Ilha paulista tem o título de local com maior densidade populacional de uma única espécie de serpente no mundo pela quantidade de jararacas-ilhoa que vivem em seu território.
(Assista ao vídeo Brasil Selvagem: viaje pela Ilha das Cobras em 360)
Qual a diferença entre a jararaca-ilhoa e as cobras encontradas no continente
Pesquisadores do Butantan tiveram o primeiro contato com a jararaca-ilhoa, até então desconhecida pela ciência, no início do século 20. Ela foi identificada como uma nova espécie em 1921 pelo herpetólogo Afrânio do Amaral, pesquisador do Butantan. Desde então, o centro de pesquisa biológica paulista, (que é especializado em animais venenosos e peçonhentos) vem estudando a serpente.
(Relacionado: Entre cobras e lagartos: Brasil é o terceiro país do mundo em diversidade de répteis)
Segundo estudos mais recentes do Instituto, o desenvolvimento dessa espécie se deu por causa do isolamento geográfico, a partir da separação desse pedaço de terra do continente há cerca de 10 mil anos. Uma vez isoladas, as jararacas evoluíram e se adaptaram às condições da ilha.
Entre as diferenças da espécie ilhoa para suas parentes continentais, o Butantan menciona que a jararaca de Queimada Grande desenvolveu a capacidade de subir em árvores, o que não é natural para as jararacas do continente. A ilhoa é a única cobra do Brasil capaz de viver no alto. A habilidade surgiu para que o animal se alimentasse mais facilmente do único tipo de presa disponível: as aves.
Além disso, segundo o Butantan, o veneno da jararaca-ilhoa também evoluiu de forma a ser mais potente para suas presas específicas. Em seres humanos, o veneno deste tipo de jararaca é capaz de matar em até seis horas após a picada.
A ilhoa também é ligeiramente menor, atingindo entre 0,5 e 1 metro de comprimento, enquanto o tamanho médio da jararaca comum (Bothrops jararaca) é de 1,2 a 1,6 metro. Entretanto, o Butantan afirma que a espécie pode chegar aos 2 metros de comprimento.