A Record estreou, no dia 1º de setembro, a reprise da novela A Escrava Isaura, exibida logo após o Balanço Geral. Por ter sido captada em 2004, a trama passou por um processo de remasterização com o uso de IA, a fim de atender aos padrões técnicos exigidos pela emissora. Ao NaTelinha, Marcelo Silva, vice-presidente artístico e de produção da Record, explicou detalhes do processo que trouxe alta qualidade no vídeo e som Dolby Atmos.
Segundo o diretor, a decisão de reexibir o folhetim em uma edição especial foi tomada em comemoração aos 150 anos da obra de Bernardo Guimarães.
“Transformar vídeos de 30fps (frames por segundo) em 60fps ou mais, criando uma aparência mais fluida, esse foi um dos grandes desafios. Principalmente para gerar efeitos de câmera lenta com alta qualidade, reduzindo a duplicação de quadros e artefatos visuais em vídeos antigos”, explica Marcelo Silva.
O executivo também destacou que o processo de remasterização de Escrava Isaura foi tão minucioso que o editor precisou revisar cena por cena para identificar possíveis problemas causados pela inteligência artificial.
“O processo de edição, sonorização e finalização da versão remasterizada da trama representa um avanço técnico significativo, combinando respeito à obra original, com inovação visual e sonora.”
Marcelo Silva, vice-presidente artístico e de produção da Record
Todo o trabalho valeu a pena. No vídeo, o resultado final surpreendeu até os telespectadores mais exigentes.
Confira a entrevista completa com Marcelo Silva, VP artístico e de produção da Record.
O que motivou a Record a investir na remasterização de Escrava Isaura agora, tantos anos após sua exibição original?
Marcelo Silva - A Record decidiu exibir uma edição especial de A Escrava Isaura para comemorar os 150 anos da obra de Bernardo Guimarães, porém o atual telespectador é exigente no conteúdo exibido na tela de sua casa. Assim, investimos em sistemas avançados de inteligência artificial com modelos especiais que melhoram significativamente a qualidade de vídeo, principalmente aqueles produzidos em definição padrão na época em que foram captados, neste caso, em 2004.
Quais foram os principais desafios técnicos enfrentados durante o processo de remasterização, especialmente considerando o estado do material original da novela? Houve alguma preocupação específica que exigiu mais atenção?
Marcelo Silva - As técnicas utilizadas por esses sistemas são baseadas em interpolação de quadros, ou seja, criação de quadros intermediários entre os originais para suavizar movimentos e aumentar a taxa de quadros. Assim, transformar vídeos de 30fps (frames por segundo) em 60fps ou mais, criando uma aparência mais fluida, esse foi um dos grandes desafios. Principalmente para gerar efeitos de câmera lenta com alta qualidade, reduzindo a duplicação de quadros e artefatos visuais em vídeos antigos.
Além do uso de sistemas de IA, os processos de edição e finalização tornam-se bem mais complexos, visto que o editor tem que checar cena a cena para saber se não houve geração de artefatos indesejados gerados pela IA e os devidos reenquadramentos dos planos abertos para valorizar artisticamente o produto.
Os sistemas também são utilizados para limpar e aprimorar vídeos originais em definição padrão, geralmente entrelaçados, característica de gravações com câmeras mais antigas. Para isso, são aplicadas técnicas de desentrelaçamento, redução de ruído, remoção de artefatos e recuperação de detalhes.
A remasterização feita pela Record não apresenta cenas distorcidas nem outros problemas comuns causados por inteligência artificial. Como isso foi possível? Qual software ou tecnologia foi utilizada?
Marcelo Silva - Usamos técnicas avançadas de inteligência artificial nas imagens e a mixagem do som em Dolby Atmos. O mecanismo por trás dessas técnicas envolve estimativa de movimento entre quadros consecutivos, síntese de novos quadros com base nesse movimento e processamento em escala 4x, seguido de redimensionamento para a resolução final, o que ajuda a preservar detalhes.
Para o armazenamento dos episódios foi adotada a tecnologia MPEG-H, que permite manter os áudios separados por trilhas. Essa abordagem garante flexibilidade para futuras adaptações e facilita a distribuição em diferentes plataformas.
A nova versão trouxe alguma atualização visual ou sonora em relação à clássica?
Marcelo Silva - A versão remasterizada de A Escrava Isaura proporciona uma experiência sonora imersiva e de alta definição nos formatos 5.1 e estéreo, atendendo aos padrões técnicos exigidos pela Record.
Também foi desenvolvido um processo técnico e criativo de atualização sonora, com o objetivo de elevar a qualidade e adaptá-lo aos padrões contemporâneos de exibição. O primeiro passo foi a recuperação do áudio original da obra, também utilizando sistemas baseados em IA. Essa etapa permitiu restaurar a clareza e a inteligibilidade dos diálogos e ambientes, garantindo uma base sólida para as próximas fases.
Com o áudio restaurado, todos os efeitos sonoros foram recriados, respeitando a ambientação original e aprimorando a experiência sonora. Nessa etapa, foram inseridas trilhas sonoras inéditas, cuidadosamente selecionadas para reforçar a narrativa e a emoção das cenas. Ao mesmo tempo, foram mantidas grandes sucessos que marcaram a versão original preservando a identidade musical da obra.
Você acredita que essa iniciativa pode abrir caminho para a remasterização de outras novelas icônicas da emissora?
Marcelo Silva - O processo de edição, sonorização e finalização da versão remasterizada da trama representa um avanço técnico significativo, combinando respeito à obra original, com inovação visual e sonora. O resultado nessa entrega de alta qualidade está sendo muito elogiada pelos especialistas em TV e pelo público. A reexibição de outras tramas depende não só de fatores técnicos, mas de uma série de outras decisões.
Assista à chamada da Record com o resultado final da remasterização:
